ARTIGO

A hora da escolha – O que vale mais?

Por Walter Naime |
| Tempo de leitura: 3 min

Um pássaro na mão e dois voando ou uma picada de abelha na mão ou duas voando?

Sempre ouvimos que “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Mas, às vezes, a vida nos coloca diante de dilemas mais espinhosos: e se o que estiver na mão não for um pássaro, mas uma abelha prestes a picar? Aí a escolha deixa de ser só entre segurança e sonho e passa a envolver riscos, dores e consequências de longo prazo.

No fundo, a comparação serve para entender como funcionam as grandes decisões, inclusive as de um país. O pássaro na mão é aquilo que já temos: segurança imediata, ainda que modesta. Dois voando são promessas de ganhos maiores, mas dependem de paciência e de não errar o voo. A picada de abelha é o custo inevitável de certas apostas, e duas voando são a ameaça de algo pior, que talvez nunca venha, mas que paira no ar.

Esse dilema se encaixa bem na posição do Brasil entre Estados Unidos e China. Os EUA representam tradição, instituições sólidas, mercados estáveis: um pássaro que já conhecemos e sabemos como lidar. A China, por sua vez, é como os dois voando: crescimento impressionante, investimentos em infraestrutura, apetite por commodities brasileiras e promessas de futuro.

Só que não há almoço grátis. Os Estados Unidos costumam cobrar alinhamento político, militar e até ideológico. Já a China pede acesso privilegiado a recursos e influência sobre setores estratégicos. Em qualquer caso, há uma picada de abelha escondida, seja no risco de dependência comercial, seja na perda de autonomia política.

A curto prazo, o Brasil tenta equilibrar pratos. Se pender só para os EUA, pode perder espaço nos mercados asiáticos. Se pender apenas para a China, corre o risco de se ver isolado em fóruns ocidentais. A longo prazo, o perigo maior é ficar preso a um único parceiro e abrir mão de defender os próprios interesses.

E se a escolha for mal feita? O futuro pode trazer décadas de dependência, retaliações comerciais ou exclusão das cadeias globais. Corrigir o erro depois exige pragmatismo: renegociar acordos, diversificar parcerias e fortalecer a própria economia. Não é fácil, mas é possível.

Depois da escolha, é essencial construir garantias. Isso significa melhorar a competitividade interna, reforçar instituições e proteger setores estratégicos contra pressões externas. É nesse ponto que surge a lei Magnitsky, usada pelos EUA para punir violações de direitos. Ela funciona como um escudo para os americanos, mas pode ser usada como espada contra países que não se alinham. Para o Brasil, aceitar cegamente essa lógica pode significar abrir mão de parte da soberania.

A blindagem da lei pode até trazer vantagens em alguns acordos, mas limita a autonomia diplomática. Por isso, o Brasil precisa buscar atalhos: fortalecer o Mercosul, investir em ciência e tecnologia próprias, ampliar relações Sul-Sul e evitar depender demais de qualquer potência. Só assim a soberania deixa de ser discurso e vira prática.

No final das contas, a pergunta volta: o que vale mais? Um pássaro na mão, dois voando, uma picada de abelha ou duas rondando? A decisão não é simples, mas uma coisa é certa: escolhas mal calculadas doem mais que ferroada de abelha. O segredo está em saber quando segurar firme e quando abrir a mão para deixar o voo acontecer.

A sorte está lançada!

Walter Naime é arquiteto-urbanista e empresário.

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