ARTIGO

Eu já quis mudar o mundo


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Quem nunca? Na juventude, o corpo inquieto pelos hormônios em ebulição, a energia represada, e mil sonhos para realizar. O futuro parecia estar lá longe, tão distante que nem conseguíamos visualizar. Tudo o que queríamos era mudar o mundo! Tolamente, achávamos que tínhamos esse poder! E iríamos, com nosso ímpeto juvenil, promover uma revolução! Pensávamos que tínhamos a capacidade de resolver todos os problemas, de acabar com a guerras, com as injustiças, com a pobreza, com as doenças.... Vã utopia!

Vivi os anos dourados, a efervescência dos anos sessenta. A minissaia era uma conquista das jovens e as longas cabeleiras para os rapazes, era motivo de críticas dos mais velhos. Amávamos os Beatles e os Rollings Stones.

Beleza natural, sem silicone, sem plásticas, cílios apenas realçados com rímel e delineador seguindo a moda da modelo e cantora Twiggy.

Era difícil para quem estudava em colégio de freiras usar a moda da minissaia, bem acima dos joelhos. Mas a gente dava um jeito. Durante as aulas, mantínhamos o comprimento discreto, e pasmem, havia uma freira encarregada de fiscalizar o comprimento das saias. Ela até usava uma régua para medir! Mas na saída, fora dos portões do colégio, todas enrolávamos várias vezes o cós e a saia ficava curtinha! Os barbeiros criticavam os cabeludos, mas as meninas os achavam lindos! E agora, vemos setentões ostentando cabelos longos e os jovens de cabelos bem curtos, alguns até de cabeça totalmente raspada. Tudo é cíclico.

Quando a maturidade vai chegando, constatamos que não mudamos o mundo. Ele evolui à nossa revelia, como um grande organismo vivo que não depende de nada e de nenhum ser vivo.

Aprendi que mudar o mundo começa por dentro. Mudamos a nós mesmos, mas não podemos mudar os outros.

Eu pensava que sabia tudo, mas na verdade, não sabia de nada. E achava que tinha todas as respostas, numa utopia tola e pueril. Até livros de história mudam a maneira de contá-la. Hoje até acho que alguns ocultavam verdades. Os horrores do holocausto foram implantados por mentes que queriam “mudar o mundo” do seu jeito.

Nem imagino como a história que vivemos hoje será contada no futuro. Ela muda conforme quem a conta. Heróis podem ser vilões e vilões podem ser promovidos a heróis. Vai depender de quem ganhou ou perdeu batalhas e de como os professores ensinam seus alunos. Aprendi que não se pode implantar um mundo melhor ao preço de violência, restrição de liberdades e corrupção. Grandes mentes, com delírios megalomaníacos, tentaram mudar o mundo, mas não conseguiram mudar as consciências de cada ser humano. Mesmo presos e torturados os corpos, pensamentos são livres e incomandáveis.

Eu já quis mudar o mundo! Hoje não quero mais. Não está nas minhas mãos, o que eu quero é ter paz...

Ivana Maria França de Negri é escritora.

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