ARTIGO

O mito do OBESO SAUDÁVEL: o peso invisível que o coração carrega

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 2 min

Outro dia, caminhando com minha família pelo shopping de Piracicaba, reparei na quantidade de pessoas com sobrepeso. Foi inevitável pensar em como nossa sociedade ainda insiste em separar saúde de estética, como se fossem universos que não se cruzam. Muitas vezes, escuto alguém dizer: “Tudo bem, estou acima do peso, mas meus exames estão ótimos. Sou um obeso saudável.” Essa frase soa confortável, quase um alívio... mas a ciência mostra que talvez seja apenas uma ilusão perigosa.

Um estudo marcante publicado no Journal of the American College of Cardiology em 2017 intitulado “Metabolically Healthy Obese and Incident Cardiovascular Disease Events Among 3.5 Million Men and Women” acompanhou mais de 3,5 milhões de pessoas durante 5,4 anos.

A pergunta era simples, mas crucial: será que alguém pode ser obeso e, ao mesmo tempo, verdadeiramente saudável, sem riscos maiores para o coração?

A resposta foi clara, quase como um corte preciso de bisturi: mesmo os indivíduos obesos que não tinham diabetes, hipertensão ou alterações no colesterol apresentaram risco significativamente mais elevado de desenvolver doenças cardiovasculares. Em outras palavras, o excesso de gordura corporal, por si só, já representa um peso silencioso, um fardo que o coração e os vasos carregam, mesmo quando os exames parecem “normais”.

E é aqui que a conversa fica séria. Não estamos falando de estética, de caber em roupas menores ou seguir padrões de revista. Estamos falando de vida. De como o organismo reage, dia após dia, à sobrecarga inflamatória, ao estresse oxidativo, à resistência insulínica que muitas vezes se escondem por trás de um check-up aparentemente tranquilo. É como uma fumaça invisível no ar: você não a vê, mas ela está ali. O corpo, cedo ou tarde, sente.

E não, isso não tem nada a ver com preconceito contra pessoas com sobrepeso. Tem a ver com ciência. Tem a ver com amor à vida. Porque cuidar do peso é, sobretudo, proteger o coração, preservar o fôlego, manter as artérias abertas para o fluxo da vida. É garantir que possamos caminhar, correr, dançar, brincar com os filhos ou netos e viver com autonomia e vitalidade por muito mais tempo. É sobre envelhecer, sim, mas envelhecer forte.

A boa notícia é que há caminhos reais. Não falo de soluções mágicas em cápsulas ou promessas de verão. Falo de escolhas consistentes: uma alimentação equilibrada, movimento diário, sono de qualidade, gestão do estresse. Pequenos passos, repetidos com constância, que transformam o corpo não apenas na forma, mas principalmente na função.

O estudo não deixa espaço para dúvidas: a obesidade, mesmo sem doenças associadas, não é um estado de saúde, é um estado de risco. Mas risco não é sentença.

É convite. Convite para mudar antes que seja tarde, para enxergar o corpo como casa e não como castigo, para transformar o autocuidado em ato de amor próprio.

Porque saúde nunca foi sobre caber em um número. Que a gente pense nisso. Até a próxima.

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.

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