ARTIGO

As compras que tiram a sua paz

Por Fabiane Fischer |
| Tempo de leitura: 3 min

Compras que acalmam por cinco minutos e preocupam por cinco dias, quem nunca passou por isso? Compulsão em compras é aquele impulso que chega feito onda, promete alívio imediato e depois deixa um rastro de culpa, fatura alta e armário cheio de coisas parecidas, mas por trás do impulso quase sempre existe ansiedade. Quando o coração acelera e a mente procura uma saída rápida, comprar vira uma espécie de anestesia emocional, um botão invisível de pausa que funciona por pouco tempo.

O ciclo é conhecido, vem a tensão, surge a vontade súbita, aparecem as justificativas e, num clique, lá se vão o limite do cartão e a paz da noite. Vitrine iluminada, notificação piscando, promoção que expira em poucos minutos e frete grátis acima de um valor estratégico, as plataformas conhecem nossos hábitos e o horário exato em que abrimos o celular e pior ainda quando a compra vira recompensa por um dia difícil. O cérebro aprende que ansiedade é igual a carrinho cheio e repete a mesma rota sempre que algo incomoda e a culpa chega na sequência e a ansiedade volta maior.

Reconhecer o padrão é metade do caminho, observe quando o impulso aparece. É de noite? Depois de brigar com alguém? No intervalo do trabalho? Anote por uma semana. Perceber o gatilho liga a luz da consciência e, com a luz acesa, a loja perde metade do encanto. Coloque a vontade na lista de espera por vinte e quatro horas e se amanhã ainda fizer sentido, avalie. Nove de cada dez desejos evaporam com uma noite de sono e o mesmo vale para carrinhos cheios guardados para decidir depois.

Defina limites semanais e acompanhe, nem que seja em um papel preso na geladeira. Quem vê, decide melhor. Outra estratégia é comprar no dia certo, tenha o dia do mercado, o dia da farmácia e o dia do presente e fora desses dias, só emergências. Ao reduzir a quantidade de decisões, a mente descansa e a ansiedade diminui.

E quando o impulso vier com força, troque por uma ação que descarrega e acalma, como uma caminhada de quinze minutos, água gelada no rosto, respiração lenta, alongamento, banho rápido, telefonema para alguém confiável. Se a vontade persistir, faça três perguntas: eu posso pagar sem culpar o meu eu de amanhã?

Eu tenho algo parecido em casa? Essa compra combina com os meus planos para o mês? Se as respostas ficarem nebulosas, é sinal de espera.

A ansiedade merece cuidado além da carteira. Sono irregular, cafeína demais, comida demais e falta de pausa alimentam a inquietação. Pequenos rituais ajudam a construir estabilidade. Refeições regulares, mexer o corpo, sol na pele, hidratação e um minuto de quietude por dia. Técnicas de respiração e atenção plena treinam o cérebro a desacelerar e se a compulsão estiver fugindo do controle, procure uma terapia.  Terapias que organizam emoções e pensamentos dão ferramentas para dizer não ao impulso sem brigar consigo.

Comprar é parte da vida, gira o comércio e pode ser prazeroso, mas o segredo é devolver a escolha para as nossas mãos. Ansiedade não precisa dirigir o carrinho e quando aprendemos a parar, respirar, planejar e escolher, a compra volta a ser decisão, não correria. A fatura chega e a paz fica. Se hoje você sentir o dedo coçando para finalizar uma compra, faça um trato consigo. Espere alguns minutos, beba um copo de água e, se ainda fizer sentido, decida com calma. Sua vida não precisa de mais ansiedade, mas de escolhas alinhadas ao que importa e o que importa de verdade é ter paz. O mais importante ao vencer a compulsão é sentir que você está no comando da sua própria história e isso é maravilhoso!!!

Tem uma frase que falo todo dia no escritório para diferentes pessoas: TUDO O QUE TIRA A MINHA PAZ É CARO DEMAIS! Sugiro que você reflita, avalie e deixe o seu pensamento desenrolar encima desse tema.

Com carinho, Fabiane Fischer.

Fabiane Fischer é especialista na recuperação de dependentes químicos, abusos e compulsões.

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