Regente da Banda Municipal Corporação Musical União Operária da Cidade de Piracicaba, o educador musical e maestro Jonatas Dionisio, de 44 anos, está à frente deste ícone da cidade desde 2013. Com bagagem de mais de 25 anos na música, Dionisio conta, nesta entrevista, um pouco da rica trajetória da Banda. Próxima de completar 120 anos – já que foi fundada em 1º de maio de 1906 - a Banda União Operária se mantém fiel às suas raízes, com um forte trabalho social e música de qualidade para seu público.
O maestro conta que os principais momentos cívicos, religiosos, sociais e políticos de Piracicaba sempre contaram com a presença da Banda. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, por exemplo, a Banda acompanhou o batalhão piracicabano até a Estação da Paulista, onde embarcou para a luta. Nos anos seguintes, a Banda participou de vários eventos no país, conquistando diversos títulos, como a melhor do Estado de São Paulo, em 1950, com apresentação no Teatro Municipal da Capital.
Em 1961, a Banda União Operária se apresentou na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em 1963, com o esforço da diretoria e colaboradores, conquistou sua sede própria na rua Santo Antônio, em região central de Piracicaba, onde está até hoje. Em 1968, viajou para Barcelona na Espanha para participar do Concurso Internacional de Bandas. Foi a única banda da América do Sul participante do evento.
Dionisio diz que a Banda tem atualmente cerca de 100 alunos/músicos, sendo 49 integrando as performances da banda (apresentações musicais) e mais de 50 alunos fazendo aulas de teoria musical e prática. Para entrar na Banda é por meio da matrícula, que é feita semestralmente nas aulas de teoria musical e prática. Todo semestre, a Banda oferta 40 vagas totalmente gratuitas para alunos com idade superior a 12 anos. Outra forma de entrar na Banda é através do agendamento de uma audição com o maestro. A Banda tem como base musical a linguagem sinfônica, mas transita com muita propriedade no Jazz, com repertório de Big Bands e também na música brasileira.
Casado e pai de duas filhas, o maestro é licenciado em Pedagogia Musical, mas também possui a formação acadêmica como Bacharel em Teologia. Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista:
Faça por favor um breve histórico de sua trajetória na música até chegar à regência da Banda União Operária... Iniciei na música na infância, com minha mãe, a pianista Maria Isabel. No ano de 1995, ingressei na Guarda Mirim de Piracicaba, onde comecei os estudos em saxofone e clarinete. Em 1999, estudei saxofone com o professor e músico Marco Abreu, ano que também entrei no conservatório de Tatuí, no curso de MPB jazz como saxofonista. Ainda em 1999, entrei na Big Band PIRAJAZZ, Oficina do Jazz da Cidade de Piracicaba, integrei a Banda União Operária como músico, tocando Sax Barítono e Flautim e a banda instrumental itinerante Banda Décadas. No ano 2000, integrei a Big Band Curare, do Conservatório de Tatuí, sob regência do professor Paulo Flores. Estudei Flauta Erudita no conservatório de Tatuí nos anos de 2002 e 2003. No mesmo ano, comecei a estudar saxofone na ULM (Universidade Livre de Música) e Oficinas de BigBands Com Nailor Azevedo "Proveta". No ano de 2004, integrei a Banda Sinfônica Antônia Maria Marrote, da cidade de Rio Claro. No ano de 2005, integrei o corpo docente do Projeto Guri, como educador do naipe das madeiras no Polo da cidade de Piracicaba, o qual continua como educador até a presente data. No ano de 2008 a 2010, fui o regente e diretor musical da Jazz Sinfônica da Igreja do Nazareno, na cidade de Rio Claro. Em 2013, assumi o cargo de Maestro Regente da Banda Municipal Corporação Musical União Operária da Cidade de Piracicaba, função essa que continuo até a presente data. Tenho muita experiência no MPB Jazz, choro, pop e erudito, o qual ao longo de mais de 25 anos já fiz inúmeras gravações para diversificados artistas.
Sobre a Banda União Operária, quando ela surgiu e qual sua trajetória até hoje? Fundada em 1º de maio de 1906, a Corporação Musical União Operária é um dos ícones culturais de Piracicaba. Tem como patrono o Comendador Mário Dedini. O primeiro grande êxito da Banda União Operária foi conseguido pelo prefeito Fernando Febeliano da Costa, que providenciou um coreto para que a banda pudesse se apresentar no jardim. Os momentos cívicos, religiosos, sociais e políticos de Piracicaba sempre contaram com a presença da Banda. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, a Banda acompanhou o batalhão piracicabano até a Estação da Paulista, onde embarcou para a luta. Nos anos seguintes, a Banda participou de vários eventos no país, conquistando diversos títulos, como a melhor do Estado de São Paulo, em 1950, com apresentação no Teatro Municipal da Capital. Em 1961, a Banda União Operária se apresentou na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em 1963, com o esforço da diretoria e colaboradores, conquistou sua sede própria na rua Santo Antônio, em região central de Piracicaba, onde está até hoje. Em 1968, viajou para Barcelona na Espanha para participar do Concurso Internacional de Bandas. Foi a única banda da América do Sul participante do evento. A Banda também se apresentou em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, além de diversas cidades do interior, sempre levando o nome de Piracicaba. Em 1968, a Corporação Musical União Operária de Piracicaba foi a única banda brasileira a participar do tradicional “Fiestas de la Merced” em Barcelona. Esse ano, a Banda completou 119 anos e está rumo aos seus 120 anos em pleno vigor, tanto em suas belas performances musicais como em seu papel pedagógico no município de Piracicaba.
Quantos membros são atualmente? Quais os instrumentos? Tem vocal também ou é só instrumental? A Banda hoje tem aproximadamente 100 alunos/músicos sendo 49 integrando as performances da banda (apresentações musicais) e mais de 50 alunos fazendo aulas de teoria musical e prática na Banda. A Banda é composta por dois grandes Naipes, a saber Sopros e Percussão, onde o naipe de Sopros é dividido em Sopros Madeiras e Sopros Metais dessa forma temos os seguintes instrumentos presentes na Banda: Flauta Transversal, Clarinetes, Saxofones “Alto, Tenor e Barítono”, Trompetes, Trombones, Tubas, Trompas e Bombardinos somado ao nipe da percussão que tem a Bateria, bumbo sinfônico, par de Tímpanos e inúmeros outros instrumentos percussivos. A Banda preserva sua característica de Banda Sinfônica e, dessa forma, não tem a participação vocal, instrumentos de cordas ou elétricos, mas pode-se haver uma apresentação específica com a presença destes.
Qual o processo para entrar na Banda e qual o estilo musical predominante no grupo? Hoje para entrar na banda é por meio da matrícula, que é feita semestralmente nas aulas de teoria musical e prática. Todo semestre, a Banda oferta 40 vagas totalmente gratuitas para alunos com idade superior a 12 anos. Outra forma de entrar na Banda é através do agendamento de uma audição com o maestro. A Banda tem como base musical a linguagem sinfônica, mas transita com muita propriedade no Jazz, com repertório de Big Bands e também na música brasileira.
Como está a agenda da Banda Operária para esses últimos meses do ano? A Banda se apresenta na abertura do desfile do 7 de setembro (neste domingo) e ainda esse ano a Banda tem uma apresentação agendada 21 de novembro, um grande concerto aberto ao público na Igreja Matriz da Vila Rezende e alguns concertos de Natal.
Quais os locais mais emblemáticos que a banda tocou? Tem alguma história interessante que possa compartilhar? Não teve nenhum local emblemático, como história a Banda tradicionalmente já tocou em várias procissões e tem uma história que em umas dessas procissões em um momento em que o cortejo parou, um músico fechou os olhos para se concentrar na música - já que, por se tratar de um cortejo, muitos tocavam de cor - e não percebeu que o cortejo voltou a andar juntamente com a Banda; e esse músico ficou para trás e, ao abrir os olhos, viu que a Banda já estava a uns 30 metros dele.
Fale um pouco da parte social da Banda União Operária. Os músicos são selecionados de que forma? Eles aprendem na Banda ou têm de chegar já prontos? A Banda desenvolve um trabalho social de relevância na cidade, já que diretamente tem mais de 100 pessoas com participação ativa na Banda “entre músico/aluno e diretoria”; se somarmos os familiares passa de 300 pessoas e se adicionarmos o público que assiste a Banda no decorrer do ano, acredito que passa de mil pessoas. Na Banda tem desde a formação do leigo, “partindo do zero conhecimento musical”, até o acolhimento de outros músicos e alunos de outras instituições. Temos muitos músicos alunos que vieram do Projeto Guri, onde por ser também professor do projeto há aproximadamente 20 anos, identifico os músicos que têm interesse em continuar na música e faço o convite. Há uma grande procura também de músicos que começaram nas igrejas.
Quais os planos futuros da banda União Operária? A Banda tem vários objetivos e planos futuros: receber o título de patrimônio imaterial, realizar uma apresentação internacional e ter a possibilidade de representar o Brasil fora do país, assim como fez na década de 60, ampliar suas atividades tanto pedagógicas como em performance, buscando a ter atividades de ensino todos os dias letivos em sua sede, “segunda a sexta”, e ter mais apresentações musicais no decorrer do ano. Um outro objetivo da Banda é realizar um concerto musical na Sala São Paulo “Capital”.
Como você avalia o movimento cultural de Piracicaba? Temos muitas orquestras, bandas e grupos musicais dos mais diversos estilos. Isso valoriza nossa arte, não? Na minha opinião, Piracicaba é uma cidade privilegiada em cultura. Vou focar na área musical: sou ex-Guarda Mirim e desde sempre lembro de diversas frentes culturais. Final dos anos 90, Projeto Brasil do Professor Marco Abreu, Falando da Vida, Oficina do Jazz, temos uma Big Band PiraJazz e Piracicaba é um grande expoente no Jazz Tradicional itinerante. Bandas, como por exemplo, a DioJazz, que traz aos cidadãos piracicabanos o contato com esse estilo musical. Tivemos recentemente também o festival de Jazz Manuche, que eleva muito o nome do município. Aprecio a forma de trabalho do secretário de Cultura atual, Carlos Beltrame, juntamente com sua equipe do Semac (Secretaria da Cultura) e também o pessoal do Turismo. Temos uma bela Orquestra Sinfônica e, em minha opinião, uma Bela Banda Sinfônica também, a saber, Banda União Operária, que assume esse papel.
Onde são os ensaios e o que os interessados devem fazer para se inscrever? Tem uma idade mínima? Os ensaios e aulas acontecem na própria sede da Banda, às segundas e terças-feiras, após as 19h; e semestralmente abre-se vagas para alunos com idade superior a 12 anos em um curso em dois módulos diretamente comigo, de forma totalmente gratuita. A sede da Banda encontra-se no seguinte endereço: rua Santo Antônio, 502, Centro de Piracicaba.
De onde vem os recursos para todos os projetos da Banda? A Banda recebe uma subvenção municipal para exercer suas atividades musicais e educacionais, porém, essa subvenção infelizmente está congelada desde 2018, há sete anos, e os valores que a Banda recebe não são suficientes para exercer todas as atividades. Logo, demostra-se que a Banda tem apreço pelo que faz, mas, gostaríamos de fato de poder subsidiar com valores que pelo menos pague o combustível dos músicos, pois hoje boa parte deles são menores de idade e os pais acabam muitas vezes não tendo condições de levá-los aos ensaios ou apresentações da Banda. Então, a Banda está totalmente aberta a patrocínios para esse auxílio financeiro, pois o que recebemos da subvenção não é suficiente, pois a Banda cresceu e continua crescendo. A Banda pode ser contactada através de mensagens no Whatsapp: (19) 9.9812-7045.
Fara finalizar, gostaria que falasse de sua satisfação pessoal de estar à frente desta banda histórica e tão tradicional de Piracicaba... Sou muito grato a Deus por tudo e me sinto muito honrado em ser o maestro dessa bela Banda com essa historicidade incrível. Esse ano, completei 12 anos à frente como maestro; participei ativamente no rejuvenescimento da Banda, respeitando toda sua tradição e honrando os músicos veteranos. Luto pela Banda todos os dias, sempre disposto e auxiliando em todas as áreas, sempre divulgando para que seja mais conhecida dentro de Piracicaba, pois tem um valor imensurável e a Banda é patrimônio de todo piracicabano. Tem uma frase que falo quase em todas as apresentações que “a Banda é mais velha que o time de futebol do XV”; sou grato pelos amigos que fiz e tenho na Banda, todos ali têm um carinho e respeito enorme por mim desde o músico iniciante até o presidente da Banda, faço menção em agradecimento ao senhor José Paixão de Oliveira “Presidente da Banda” e ao Oswaldo Novello, “Diretor da Banda”, representando toda diretoria da mesma por confiar em mim a frente dessa tão valiosa instituição piracicabana.