É como se as lideranças mundiais estivessem sem régua e sem compasso. E, com isso, a humanidade percebe-se estar sem bússola. Logo – diante das inacreditáveis e suicidas loucuras que ameaçam o mundo – alentador será o reencontro de esperanças. Entre elas, na profética afirmação de Tolstói: “A beleza salvará o mundo”. Pois esta não há como vencê-la. O belo e o bom – e, portanto, a verdade – são inseparáveis. Na certeza disso, também Agostinho de Hipona – o santo Agostinho, formador do Ocidente – permitiu se lhe expandisse a alma num verdadeiro e imortal poema: “Ó, beleza tão antiga e tão nova! Estavas dentro de mim e eu a procurava fora.” Uma ode ao Criador.
Temos – apesar de pressões, de condicionamentos e de dependências – o excepcional privilégio de fazer escolhas. São opções que se nos apresentam até mesmo no cotidiano da existência. E, em cada momento da vida, algumas tornam-se totalizantes, escolhas que alteram rumos. O casamento, a atividade profissional, como referência. No entanto, quantas não seriam as que poderíamos reformular? Quantos os equívocos a serem revistos? E valores que perderam o significado?
A estupidez do materialismo desenfreado – a maldição de até o ser humano estar à venda no mercado das ambições – qualifica o ser humano por sua capacidade de consumo. Há produtores e consumidores; empregadores e empregados; alunos e professores. Somos identificados conforme as classes: A, B, C, D. E, no entanto, queremos ignorar a existência de uma “luta de classes”, realidade que sempre fez parte da condição humana. Não passa de simples conversa – ou de sonho, utopia – a de sermos “todos iguais perante a lei”. Há e sempre houve os “mais iguais”.
Talvez, da grande resposta, dela estejamos distanciando-nos. A busca e o encontro do belo. Da beleza, que é, realmente, “tão antiga e tão nova”. O belo tem o poder de encantar. E está – em toda sua simplicidade – exuberante ao olhar de todos. A todos os nossos sentidos. Até o horror tem sua beleza, apesar de seus efeitos. Um incêndio destruidor acontece com o esplendor das chamas. É bela a erupção de um vulcão que nos amedronta. O raio, o relâmpago que riscam os espaços. O Criador – seja lá quais sejam os nomes que se lhes dê – é um artista, o mesmo que Platão chamou de “arquiteto do Universo”. E nós próprios, também, fomos arquitetados.
Penso – angustiadamente – em Piracicaba, essa maravilha à beira-rio plantada. Quantas belezas em tudo, que “adoramos tanto, cheia de flores, cheia de encanto”.
Nossa singularidade nas raízes caipiras, nossa caipiracicabanidade feita de arte, de cultura, de ciência, de progresso até aqui racional. Ela não sobreviverá se não for diligentemente cuidada em suas raízes. Ela acabará vulgarizando-se se for usada para apetites e ganâncias pessoais ou de grupos. A Grécia tornou-se inspiração para o Ocidente ao ser abraçada por seus sábios. Piracicaba tem, urgentemente, que ser atendida por seus especialistas em teoria do viver na beleza e pelos expertos em realizá-la. Expertos que não se confundam com espertos.
“Ninguém ama aquilo que não conhece”. Nossos homens públicos, lideranças não mais devem ser aceitos por conhecerem apenas a realidade física desta terra, a cidade material. É na alma, no espírito, no coração de Piracicaba onde está a nossa verdade. Pois o belo é bom. E, sendo bom e belo, é verdadeiro. Portanto, não há muito a pensar, nem a elaborar discursos. São coisas de sentir. E, portanto, do coração.
Cecílio Elias Netto é jornalista e escritor.