A palavra “vício” geralmente nos faz pensar em drogas pesadas ou em cenas dramáticas de filmes e séries. Mas a verdade é que muitos vícios passam despercebidos porque são socialmente aceitos, fáceis de encontrar e até incentivados no dia a dia. Esses são os chamados vícios lícitos. Eles não são escondidos nem ilegais, mas isso não os torna menos perigosos. Pelo contrário, justamente por parecerem inofensivos, eles podem causar um estrago enorme na saúde física, emocional e financeira das pessoas.
O cafezinho da tarde, a cervejinha do fim de semana, o cigarro depois do almoço, a comprinha por impulso, a rolagem sem fim nas redes sociais. Tudo isso pode começar como um hábito inocente e virar uma dependência que tira a liberdade, afeta os relacionamentos e bagunça o equilíbrio da vida.
Tomemos como exemplo o álcool, ele é vendido em qualquer esquina, faz parte de comemorações, está nas mesas de bar e nos comerciais de TV. Só que o consumo frequente pode evoluir para um vício silencioso. A pessoa não se percebe dependente, porque não está bêbada o tempo todo, mas já não consegue mais relaxar sem uma taça de vinho ou uma latinha de cerveja e aí entra um risco sério: o hábito vai ganhando espaço, dominando as emoções e virando uma muleta para lidar com o estresse, a ansiedade e até a solidão.
Outro vício lícito bem comum é o cigarro, mesmo com todos os avisos nas embalagens e campanhas de saúde, ainda há quem use o tabaco como válvula de escape. E o problema aqui não é só o vício químico, fumar também vira um ritual, uma espécie de companhia em momentos difíceis. Quem tenta parar sabe como é duro, pois o corpo pede, a mente resiste e o costume pesa. A nicotina prende de um jeito traiçoeiro, enquanto os danos ao pulmão, ao coração e à qualidade de vida vão se acumulando.
E não dá para deixar de fora os vícios digitais, sim, estamos falando do celular, da internet, dos joguinhos e das redes sociais. Hoje, muita gente acorda e dorme com o celular na mão, passa horas rolando a tela, perdendo o sono e se comparando com a vida dos outros. Isso interfere na produtividade, nas relações reais e na saúde mental. O vício digital é um dos mais difíceis de perceber, porque faz parte do ritmo moderno, só que aos poucos ele vai consumindo o tempo, a atenção e até a autoestima.
Outro vício bem presente, e que costuma ser até comemorado é o do consumo. Comprar virou uma forma de se sentir melhor, de preencher um vazio ou recompensar um dia difícil. Cartão de crédito na mão, clique feito, pacote chegando, mas depois vem o arrependimento, as dívidas, o acúmulo de coisas desnecessárias e aquele alívio momentâneo vira uma bola de neve emocional e financeira.
O grande desafio com os vícios lícitos é justamente o disfarce, pois como são aceitos, não despertam alerta. A pessoa só percebe que perdeu o controle quando já está sofrendo as consequências e por isso, é tão importante olhar para os próprios hábitos com honestidade e perguntar a si mesmo: “Será que eu estou no comando ou esse hábito está me comandando?” Não se trata de proibir tudo ou viver numa bolha mas é sobre equilíbrio, consciência e liberdade.
Buscar ajuda profissional também é fundamental, terapia, grupos de apoio, médicos. Há caminhos possíveis para quem quer se libertar, reencontrar o próprio eixo e viver com mais leveza e o primeiro passo é reconhecer que todo vício, mesmo que lícito, é uma prisão disfarçada.
Então, da próxima vez que aquela cerveja parecer inofensiva, que a vontade de fumar bater ou que a mão coçar para uma comprinha online, respire fundo e pense: eu estou escolhendo ou apenas repetindo um padrão? Porque liberdade de verdade é quando a gente vive com consciência e não no automático. Adoro quando tomamos consciência e buscamos novos caminhos!
Com carinho, Fabiane Fischer.
Fabiane Fischer é especialista na recuperação de dependentes químicos, abusos e compulsões.