EDITORIAL

Chegamos aos 125 anos com mais de 1,4 milhão de audiência

Por Por Marcelo Batuíra Losso Pedroso |
| Tempo de leitura: 7 min

Assusta-nos - e essa é a melhor palavra - a quantidade de leitores que nos acessam digitalmente. Em 125 anos de existência como jornal escrito nunca tivemos uma quantidade tão grande de leitores e de matéria lidas (e compartilhadas). O próprio termo «leitores» já está obsoleto. São usuários, internautas, enfim uma audiência de portal noticioso. Eles interagem, dão opiniões, xingam, protestam, replicam, apoiam, discordam, mas todos participam ativamente.

Antes contávamos nossos leitores aos milhares, hoje, extrapolam a casa do milhão. Será que a oferta gratuita da notícia digital impulsionou tanta leitura? Não parece ser esse o caso, pois outros websites noticiosos da cidade não trazem os mesmos índices de leitura (ou acesso).

Há aqui algo mais relevante que não pode ser deixado de lado: a credibilidade. Parece uma palavra antiga, já em desuso. Mas não é. Ao contrário, é justamente a credibilidade que nos diferencia dos demais. É a confiança do leitor (usuário, internauta) que gera a audiência. Não  basta disponibilizar a notícia em tempo real, já que quase todos os portais noticiosos o fazem. É necessário que aquilo que foi «publicado» (hoje dizemos «postado») tenha uma âncora na verdade. Essa ancoragem é a base de toda a credibilidade. E isso não significa que estamos imunes a erros, mas que es estamos comprometidos com a veracidade da informação.

Hoje, em face a tantas mudanças e incertezas quanto ao futuro, acreditamos que só a confiabilidade depositada pelo leitor servirá de medida para separar o joio do trigo. Somos gratos a cada um dos piracicabanos que depositam em nós essa confiança e, graças a ela, conseguimos crescer, mesmo num cenário de adversidades.

Primeiro, o surgimento da internet, depois as redes sociais, os blogs, os «youtubers» e todos aqueles que se auto intitulam «digital influencers» (influenciadores digitais, numa tradução livre) trouxeram consigo um verdadeiro tsunami de informações, imagens, casos, notícias, fatos e opiniões. Mas quem agora pode nos dizer o que é verdadeiro e o que é falso? Como separar a informação da opinião, se ambas são apresentadas como duas faces de uma mesma moeda? 
 Quando se perseguem as chamadas «fake news» (ou notícias falsas) não dizem como se pode distinguir o falso do verdadeiro. Quando nossos ilustres ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se dizem isentos para proferirem seus julgamentos, ficamos reféns da opinião unilateral deles (e de seu enorme poder), pois estamos de mão atadas. São apenas 11 pessoas em face a milhões de brasileiros que não podem os destituir nem os eleger. Quem poderá questionar suas ações, ditas inquestionáveis? A esperança ainda está na imprensa. Está naqueles poucos (e tradicionais) órgãos de imprensa que sobraram diante de inúmeras falências do meio impresso.

A informação, enquanto notícia, enquanto questionamento, sobreviveu nos meios digitais, por meio dos websites noticiosos e das tão mal faladas redes sociais. Em meio à interdição de se dar uma opinião e do agora tão comum cancelamento (ou proibição de uso) de redes sociais, sobram os veículos de imprensa. São estes os baluartes de uma democracia que teima em sobreviver em meio ao ativismo judicial. Os representantes eleitos estão sendo caçados, coibidos, tolhidos e presos. A vontade do povo já não é mais relevante, perante a força da lei, ou ao menos, perante aquilo que se interpreta da letra da lei. Nesses tempos assustadores, só resta uma voz para combater as fake news e as arbitrariedades: a imprensa.

O meio impresso, o jornal publicado em papel, aquele borrado com a tinta de impressão, está fadado a desaparecer. Teima em viver, mas seu destino está selado. Nossos leitores mais antigos sentem falta de manusear a notícia em forma de papel. É preciso ter respeito para com o leitor que nos tornou o que somos hoje. Esse leitor é o mais consciente, o mais atento, o mais cuidadoso. E desse leitor devemos aprender uma valiosa lição: a pressa na leitura é inimiga do entendimento. A notícia hoje é rápida, mas ela deve ser digerida com vagar.

Nos últimos meses, Piracicaba assistiu a um crescimento de «canais» de mídia, autointitulados «jornais», por meio de documentos digitais em formato PDF, contendo uma espécie de coletânea de artigos de autores diversos, mas sem um caráter informativo mais sério. A palavra «jornal» seria, inclusive, inapropriada, pois deriva (do francês) de algo que seja «diário» e tais publicações são hebdomadárias. O arquivo em PDF, reproduzindo um jornal impresso é um falso digital. Fugir ou negar o meio digital é fechar os olhos ao próprio presente.

Não se fala mais em «tiragem» de um veículo de imprensa, nem se usa mais o termo «leitores». Hoje os conceitos se ampliaram para «audiência » e «usuários», respectivamente. Não se trata de um rigor formal terminológico, são conceitos importantes para medir a amplitude e o alcance do meio de mídia e para saber onde devemos procurar (ou divulgar) a informação que se quer. Não dá para colocar todos os ovos no mesmo cesto como se fossem iguais. É necessário buscar métricas confiáveis para saber onde as pessoas estão buscando se informar. Esse é o primeiro passo para se fugir dos «caçadores de views».

Se você tinha um bom conceito pelos jornais O Estado de S. Paulo, O Globo, Folha de São Paulo, Zero Hora ou pelos websites noticiosos UOL, O Antagonista, Poder 360, Revista Oeste, Revista Veja e outros, tenha o mesmo critério na procura da notícia local. Procure se informar em veículos sem viés político (ou com menos viés possível).

Agora todo cuidado é pouco: com a Inteligência Artificial não só textos são criados, mas imagens inteiramente artificiais são feitas como se fossem reais. Vídeos, personagens, falas são totalmente criadas como se fossem um filme de cinema, mas sem precisarmos ter acesso a nenhum estúdio cinematográfico.

A credibilidade de quem maneja e posta a informação nos meios digitais é essencial. E essa confiabilidade não aparece de um dia para o outro. Por conta disso, um grupo de jornais tradicionais do interior do Estado de São Paulo se filiou a uma rede de notícias chamada SAMPI. Foi uma forma de tornar o acesso à informação mais confiável e fácil. Nos tempos das mídias digitais, a confiança do veículo é mais importante do que nunca. Qualquer um que acessar o website https://sampi.net.br/piracicaba poderá ter a certeza de que não será vítima de um golpe de fake news.

Talvez essa seja a explicação por trás de nossos números de audiência. Quando o Jornal de Piracicaba lançou sua primeira edição, em 04 de agosto de 1900, nossa cidade tinha acabado de completar seus 133 anos de fundação. Na época a cidade possuía apenas 24.693 habitantes, porém, boa parte (61%) ocupavam a zona rural. Foi nesse cenário que o JP de hoje teve início.

Hoje (2025) a população estimada de Piracicaba está por volta de 436,7 mil habitantes (considerando que em 2022, época do censo, tínhamos 423 mil), porém nossos «leitores» (ou usuários) estão batendo o número de 457.728, superior à própria população de Piracicaba. E a quantidade de leitura mensal mensurada pelo Google Analytics chegou a 1,436 milhão. Essa quantia nos dá conta de uma média horária de 3.988 pessoas acessando (e lendo) nossas notícias por hora, no período diurno.

Já é impossível negar ou ignorar o fato de que quem procura notícia, vai para o digital, acessa-a por meio de seus celulares. Hoje o papel impresso é um luxo que ainda se mantém para aqueles leitores que sentem a necessidade de receber um jornal impresso na porta da sua casa. Contudo, a quantidade de notícias postadas no portal sampi/jp, diariamente, é muito superior ao que é selecionado para o impresso. E muito mais atual. 
 Para quem gosta de seguir redes sociais, as nossas redes (Instagram, Facebook  e X) já ultrapassam 280 mil seguidores ativos. E não são robôs! São pessoas de verdade que escolhem nos seguir para receber (ver, ler, opiniar, protestar, questionar) nossas postagens de notícias. Não compramos seguidores, não inflamos ou «impulsionamos» conteúdos. Essa prática comercial comum no mercado não é compatível com nossos princípios de credibilidade.

Chegar aos 125 anos é uma alegria e também uma grande responsabilidade. Há um delicado equilíbrio que precisa ser respeitado: a tradição com a modernidade; a credibilidade com a agilidade da notícia. Só chegamos até aqui porque o que se publica - melhor dizendo - se posta, ainda tem relevância para quem lê.

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