Decorridos os 258 anos, Piracicaba marca no dia 1º de Agosto o seu aniversário.
Com o Rio ainda murmurando a história. Não é à toa que ele canta, pois viu nascer, crescer, tropeçar e reinventar essa cidade, que não para de se perguntar onde estamos? Para onde vamos?
Formar uma cidade é mais do que abrir ruas e fincar casas. É sobre plantar gente, sonhos e teimosias no mesmo chão. É sobre enxergar além do mato, da pedra e do curso natural das águas. Piracicaba nasceu assim, no encontro da necessidade com a oportunidade. Na beira do rio, o povoado cresceu porque havia pesca, madeira, fertilidade, e sobretudo um chão que dizia “fique”!
Uma cidade se forma pela soma do solo, dos recursos naturais, das gentes que precisam, e que ousam. O empreendedorismo, antes mesmo de ter nome, era gesto. Era a dona de casa que cozinhava para os tropeiros, o fazendeiro que via no engenho mais que açúcar, o líder que via futuro onde outros só viam capim.
Os patamares de uma cidade se medem no tempo e na transformação. Não só no número de habitantes, mas no modo como esses habitantes vivem. Piracicaba, entre 1767 e 2025, pode ser dividida em capítulos não por exatidão matemática, mas por pulsação histórica.
No começo, o comércio era sobrevivência, troca de farinha por ferramenta, de peixe por tecido. Depois, virou vocação. Vendia-se o que a terra dava. Da agricultura ao açúcar, da cana ao álcool. A cidade soube se reconfigurar, sempre com uma pitada de fé, outra de trabalho, e uma colherada de política.
Os patamares políticos e sociais se alternaram da vila rural ao centro agroindustrial, do domínio religioso à secularização do saber, da prefeitura ao campus universitário. Saúde pública, transporte, educação, tudo veio aos poucos, como tijolos em uma edificação que nunca termina. As fases de alinhamento entre o local, o estadual e o federal moldaram avanços e atrasos da República Velha à era Vargas, do milagre econômico aos dias de incerteza digital.
Ao todo, Piracicaba viveu talvez cinco grandes patamares: fundação e povoamento, estruturação agrícola, modernização urbana e industrial, expansão institucional, e a era da complexidade urbana. Cada um com suas dores e brilhos.
Mas todo patamar, por mais sólido, é só base para o próximo. A diferença está nos fatores humanos. Sem entusiasmo, ninguém sonha com o que ainda não existe.
O planejamento entra aí como domador das forças e ansiedades. Saber crescer é tão importante quanto saber parar. Porque crescimento sem controle vira caos, e entusiasmo sem direção vira desperdício.
Piracicaba precisa pensar agora qual será o “pulo da Gata” no próximo patamar? Vai se reinventar pela tecnologia, pela cultura, pela sustentabilidade, ou continuará a reboque de velhos modelos? Pode parecer que o futuro acontece naturalmente, mas é ilusão. O que acontece por inércia é o desgaste, não o avanço.
O desafio está em limitar o crescimento onde ele machuca. Planejar com consciência. Não é crescer por crescer. É crescer com identidade. E que o Rio, sempre atento, nos lembre: o fluxo muda, mas o leito permanece. Que a cidade saiba mudar sem perder o seu rumo!
Feliz aniversário, Piracicaba!
Walter Naime é arquiteto-urbanista e empresário.