ARTIGO

O peso não é preguiça, é o prato que transborda

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 2 min

Caros leitores, fechem os olhos e imaginem alguém culpando seu corpo por não queimar calorias o bastante.

Agora, abram nos diante de um dado desconcertante: nas nações mais ricas, nós gastamos, não poupamos, mais energia todos os dias. Quem trouxe essa revelação foi um mosaico humano desenhado por Amanda?McGrosky, Herman?Pontzer e mais de 80 cientistas, que mediram, com água duplamente marcada, o metabolismo de 4?213 adultos em 34 populações que vão desde caçadores coletores Hadza, na Tanzânia, a executivos em Chicago.

O estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences sob o título “Energy expenditure and obesity across the economic spectrum”, mostra que, quanto maior o desenvolvimento econômico, maior o total de calorias que o corpo gasta; mesmo ajustado o tamanho corporal, a queda no gasto energético é de míseros 6?% a 11?%, insuficiente para explicar os oceanos de sobrepeso de hoje.

Se o fogo interno continua aceso, por que engordamos? A resposta tem cheiro, cor e sabor: o que colocamos no prato. O aumento de peso ligado à riqueza se explica dez vezes mais pela entrada de calorias do que pela saída. E um vilão se destaca: os ultraprocessados.

Quando dominam a dieta, o percentual de gordura corporal dispara, mesmo controlando idade, sexo e gasto energético.

Pense no corpo como uma empresa eficiente: se o caixa (ingestão) cresce sem que a folha de pagamento (metabolismo) acompanhe, o excedente vira estoque, no nosso caso, tecido adiposo. O mito da “falta de exercício” cai por terra; não é a preguiça que pesa, e sim o excesso calórico vendido como conveniência e prazer instantâneo. Fala a verdade, com a correria do dia a dia, quase ninguém cozinha mais em casa. Quem acompanha esta coluna já sabe: o emagrecimento nasce primeiro no prato, embora o exercício potencialize tudo.

Isso significa abandonar a caminhada ou a academia?

De jeito nenhum. O movimento é presente para coração, humor, longevidade. Mas, para frear a epidemia de obesidade, o palco principal é a cozinha, o supermercado, o aplicativo de delivery. É lá que escolhemos se nossa energia será combustível ou bagagem extra.

Então, da próxima vez que alguém disser “basta mover se mais”, lembre se deste retrato global: o corpo já se move e muito. Pelo menos é o que mostra este estudo. Mas este estudo serve para pensarmos nas escolhas. Não adianta caminhar uma hora na ESALQ e, todo dia, coroar a façanha com um sorvete. Cada mordida é uma conversa silenciosa entre você e suas células. Que tal responder com algo que nutra, em vez de sobrecarregar? Profissionais de saúde, nutricionistas, educadores físicos, estão ao alcance de um clique. Podemos copiar muito dos americanos, mas na alimentação, temos a chance de fazer muito melhor. A gente sabe, só tem que fazer!  Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.

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