Em entrevista a OVALE Cast, o podcast de OVALE, o prefeito Anderson Farias (PSD) classificou como “tragédia” o impacto que a sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros, anunciada pelo presidente americano Donald Trump, terá sobre a cidade de São José dos Campos, em razão do polo aeroespacial instalado no município, em especial a Embraer.
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Entre os impactos, ele não descarta a redução de investimentos, a mudança de planejamento nas empresas e até demissões em massa, que atingiriam em cheio a economia da cidade.
“Vejo com muita preocupação a tarifa imposta pelos Estados Unidos”, disse Anderson durante participação em OVALE Cast, o podcast de OVALE. “Eu digo que é uma tragédia se isso acontecer. Vai fazer com que a Embraer faça mudanças de planos, quando ela vive hoje um dos seus melhores momentos”.
Para Anderson, outras empresas da cadeia aeroespacial, direta e indiretamente ligadas à Embraer, também sofrerão com o tarifaço de Trump. "A Embraer traz com ela muitas outras empresas, tanto de pequeno porte como de médio e grande porte. Então isso dá uma grande tragédia econômica".
Leia a seguir trechos da conversa com o prefeito de São José. A entrevista completa será publicada no próximo domingo (27), aniversário de 258 anos da cidade. Você pode acessar OVALE Cast com Anderson Farias nesse link.
O tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump ameaça sobretaxar em 50% as exportações brasileiras a partir do mês de agosto. Isso afetaria diretamente São José dos Campos, em razão da Embraer e do setor aeroespacial. Como gestor da cidade, como o senhor avalia esse risco de uma guerra comercial entre os dois países?
Bom, primeiro com muita preocupação. São José dos Campos é uma cidade que tem a sua participação no estado de São Paulo. A gente pode medir até para que as pessoas possam entender melhor. Somos a quarta cidade do estado na divisão do bolo do ICMS: São Paulo capital, Guarulhos, Paulínia, que tem a maior refinaria do estado, e São José dos Campos. E não tenha dúvida que na parte de exportações a cidade de São José contribui muito. As empresas que estão aqui, como a Embraer e todo aquele cluster aeroespacial, direta ou indiretamente ligado à Embraer, que fornecem diretamente para os Estados Unidos.
Eu digo que é uma tragédia se isso acontecer. Vai fazer com que a Embraer faça mudanças de planos, quando a Embraer vive hoje um dos seus melhores momentos. A gente acompanhou nos últimos 12 meses contratos foram assinados, a Embraer num bom momento de vendas das suas aeronaves, com investimento no eVTOL, o carro voador, nas novas aeronaves, na parte [da aviação] executiva.
A Embraer é um reconhecimento mundial. Não é só mais uma empresa de São José, mas uma empresa do Brasil, uma empresa que tem a sua grande importância. Isso fará com que ela tenha que rever todo seu planejamento. Não tenho dúvida. E lembrando que ela tem linhas de montagem nos Estados Unidos.
Ela pode ter que mudar seu planejamento, ter uma transferência e uma demissão em massa, isso pode acontecer. Isso é muito preocupante. A gente fala da Embraer, mas a Embraer traz com ela muitas outras empresas, tanto as empresas de pequeno porte como de médio e grande porte. Então isso dá uma grande tragédia econômica.
É muito ruim, porque isso é relação totalmente diplomática. Eu vejo que o Trump, na minha opinião, teve uma reação através de uma ação que se teve desde a reunião do Brics, desde as manifestações de alguns presidentes, inclusive do nosso presidente do Brasil. Então, acho que foi uma relação diplomática. Eu acredito que é possível ser revisto.
Aqui em São José já reuni muitas empresas, até para a gente poder saber dos impactos. Aqui temos a Johnson & Johnson, a única planta da Johnson do mundo, a única planta global que produz todos os produtos. Temos aqui a Panasonic, que é a única planta da América Latina que produz pilha alcalina. Então, a gente tem aqui empresas que vão ser afetadas diretamente, e isso vai fazer com que elas revejam o seu planejamento.
Só do anúncio já é um grande prejuízo. Só de ter o anúncio da tarifa já tem um grande prejuízo, porque todas elas colocam o pé no freio, seguram os investimentos, quer dizer, tudo isso já tem uma paralisação. Até que isso se retome novamente, isso ainda demora. Para parar, se para rapidamente. Agora para você retomar, você retoma daqui dois, três, quatro, cinco meses se nada acontecer, se voltar atrás.
Então eu espero que essa relação comercial com o Brasil, que tem uma relação centenária com os Estados Unidos, espero que isso tenha um peso, do ponto de vista de ter uma reavaliação. Que o Brasil tenha condição de ter pessoas que possam dialogar com os Estados Unidos, nas relações comerciais, porque eu acho que há interesse dos dois lados. Os Estados Unidos também têm um grande interesse nessa relação comercial com o Brasil, mas eu não tenho dúvida, na nossa situação, de que somos a ponta mais fraca dessa história. Mas eu acredito que há uma necessidade, acredito ainda que haverá uma revisão. Haverá uma reconsideração com relação a um acordo comercial.
Acho que nessas horas, os Estados Unidos vêm demonstrando, desde que o Trump foi eleito, de fazer esse acordo. Quer dizer, eu acredito que ele faz essas manifestações para poder chamar para a mesa e fazer novas negociações, do ponto de vista de negociação comercial. Mas o que a gente não pode é levar essas questões de acordos comerciais para as questões de relações diplomáticas. Ou seja, de levar isso para lados pessoais, de levar isso para lados ideológicos. Como foi dito, quer dizer, o presidente Lula não tinha necessidade de falar algumas questões sobre a própria figura do presidente.
Nesse momento, são pessoas que têm que deixar de lado as suas ideologias e governar um país, governar os seus cidadãos, governar seu povo. E nessas horas você tem que deixar de lado e realmente fazer aquilo que é melhor para o seu país.
Prefeito, ainda nesse tema, na questão política, a medida de Trump provocou uma divisão na liderança da direita aqui no Brasil. De um lado, o bolsonarismo raiz elenca a questão da anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, junto com essa questão da tarifa, como ponto principal. Do outro, como o governador Tarcísio de Freitas, que defende a união de esforços para atacar o problema. Qual sua avaliação dessa questão política?
Eu acho que fica muita discussão e muita retórica nessa história. Fica muita aquela questão de relação a essa anistia. Eu já vi algumas entrevistas do próprio ex-presidente Bolsonaro falando que a anistia que ele defende é para o dia 8 de janeiro, são daquelas pessoas, e não da dele. Então fica muita retórica, muita especulação. Quem fez um movimento mais certeiro foi o governador Tarcísio, de realmente sentar e por uma forma de negociação diplomática, mostrar quais são os prejuízos de ambos os lados. Não tem que levar isso para o lado político, esse assunto é muito sério. Uma coisa muito séria que impacta muito o país.
Estamos falando de emprego, de investimento, não estamos falando de futuro, mas de coisas que podem acontecer agora, em curto prazo, uma taxação dessa que entre em vigor em 1º de agosto, não tenha dúvida, em 30 dias a gente vai ter um grande reflexo, seja de demissões em massa, ou seja até de diminuição de planejamento, com diminuição de investimento. Não tem que ser do lado político, isso é um grande problema no Brasil. A gente está vivendo nos últimos anos muita politização. A política de P minúsculo, e não uma política de construção de políticas públicas.
Acho que o Tarcísio tomou uma postura correta, de chamar, de sentar ali de forma diplomática com os responsáveis, chamando a embaixada americana para poder ter um diálogo, para poder abrir pelo menos esse diálogo com o estado de São Paulo. Com a importância que o estado de São Paulo tem dentro do país, acho que tem toda essa capacidade. E acho que o Tarcísio agiu corretamente ao tomar essa atitude, aliás, ele vem fazendo isso. Ele já se reuniu novamente com os empresários, do agro, até para saber quais são os impactos e como que podemos, todos juntos, trabalhar de uma forma para poder reverter essa situação.
Comentários
2 Comentários
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Cremildo Ribeiro 25/07/2025Nossa que surpresa !!A cidade com governo bolsonarista e cidadãos amplamente bolsonaristas reclamando de tarifas de Trump, não se sentem felizes por estarem participando do crescimento da América?? Vamos todos colocar os bonezinhos do MAGA, venha Trump e governe para nós !!!!! -
Lucas Leite 24/07/2025Se tem tanta preocupação assim com São José, seria prudente cancelar a licitação para alugar ônibus elétricos.