ARTIGO

Quando o corpo se move, a memória desperta

Por Rogério Cardoso |
| Tempo de leitura: 3 min

Recentemente, conversando com meus alunos nas aulas de personal, todos nós temos notado como cresce o número de pessoas com Alzheimer ao nosso redor. Mas imagine que cada passo na sua caminhada, cada contração suave do músculo na academia, seja um recado ao cérebro dizendo: “estou aqui e lembro me de você”.

Foi justamente isso que um estudo publicado recentemente, em 2025 no Complementary Therapies in Clinical Practice  intitulado “Comparing the Impact of Various Exercise Modalities on Old Adults with Alzheimer’s Disease: A Bayesian Network Meta Analysis”  revelou ao mergulhar em 29 ensaios clínicos envolvendo mais de 1?500 idosos. Ao comparar diferentes modalidades de movimento, os pesquisadores mostraram que o oxigênio extra de uma caminhada rápida tem 79?% de probabilidade de liderar a corrida quando o assunto é clarear a mente. Traduzindo em prática: cerca de três pontos a mais em testes cognitivos, equivalentes a recuperar meses de desempenho que pareciam perdidos.

Mas há dias em que a vida pede firmeza. Nesses momentos, erguer um halter ou tensionar uma faixa elástica não é apenas fortalecer o braço; é potencializar a qualidade de vida. O treinamento de resistência foi campeão em devolver autonomia às tarefas simples como vestir se, pentear os cabelos, preparar o café ou, como gosto de dizer aos meus alunos, andar pela rua carregando duas sacolas sem perder o equilíbrio. Pequenas vitórias que, somadas, devolvem dignidade a quem muitas vezes sente a própria história escapar pelos dedos.

Existe ainda o peso invisível da tristeza que pode acompanhar o envelhecer. Para dissipar essa névoa, programas de atividade física variados e afetuosos mostraram se os mais eficazes contra a depressão. Já os sustos da agitação ou irritabilidade, as tempestades emocionais tão comuns na doença, serenaram sobretudo sob o ritmo constante do aeróbico. Nada disso é simples, mas é infinitamente melhor do que permanecer imóvel.

Se eu pudesse cochichar no ouvido de cada familiar que encontro para conversar eu diria: escolha o movimento que se encaixa no dia, na energia, na segurança.

Misture caminhadas leves com exercícios de resistência, como quem tempera um prato para realçar todos os sabores. Não existe remédio sem efeito colateral tão precioso quanto a dança entre coração, pulmões e músculos. Ela custa pouco, cabe no quintal ou na sala e, sobretudo, lembra à pessoa por trás do diagnóstico que ainda há mundo para explorar. Tenho um aluno com demência por corpos de Lewy e, em cada aula, vejo como ele segue forte, ativo, presente.

Talvez o segredo não esteja em eleger um vencedor absoluto, mas em celebrar a pluralidade do movimento. O corpo humano é uma orquestra: quando cada instrumento toca, a melodia da vida se faz ouvir,  mesmo onde a memória teima em se calar. E se o relógio parece avançar demais, lembre se de que nunca é tarde para calçar os tênis e desafiar o destino. Cada respiração é fagulha de esperança, cada gota de suor um lembrete: ainda somos aqui e agora. De passo em passo, a vida insiste em florescer. Então, qual será o seu primeiro passo hoje? Até a próxima!

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.

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