Imagine sentir-se exausto depois de tarefas simples como subir uma escada ou dar uma volta no quarteirão. Para milhões de pessoas que enfrentaram a COVID-19, essa sensação não é passageira, é uma nova rotina. A isso damos o nome de Long COVID, uma condição que pode afetar até 25% dos infectados pelo vírus, segundo a American Heart Association.
Mas o que realmente acontece dentro do corpo de quem desenvolve Long COVID? A resposta começa com o que os médicos chamam de descondicionamento cardiovascular. Pense no seu coração como um músculo que, quando pouco usado, seja por causa de internações, isolamento ou medo de se movimentar — começa a enfraquecer. O resultado? Um coração menor, menos eficiente, que precisa bater mais rápido para manter o mesmo trabalho. Esse é o motivo da taquicardia, da falta de ar, da tontura e, principalmente, do cansaço extremo que tantas pessoas relatam. Quem trabalha com saúde e escuta esses relatos com frequência sabe o quanto eles são reais e impactam vidas. Eu mesmo já ouvi alguns por aqui…
No estudo “Exercise Intolerance and Response to Training in Patients With Postacute Sequelae of SARS-CoV2 (Long COVID)”, publicado na revista Circulation, os pesquisadores detalham como esse descondicionamento é semelhante ao que ocorre com astronautas no espaço ou pacientes em repouso absoluto: o coração perde força, o volume de sangue circulante diminui e os músculos ficam menos eficientes em captar oxigênio. A boa notícia é que tudo isso pode ser revertido.
Ao contrário do que muitos temem, o exercício, quando bem orientado, não piora os sintomas. Na verdade, ele pode ser a chave para a recuperação. O segredo está em respeitar o corpo. Começar devagar, com atividades em posição reclinada como bicicleta ergométrica ou remo e aumentar a intensidade aos poucos. Estudos mostram que, mesmo com treinos leves, pacientes melhoram sua capacidade respiratória, ganham força e reduzem sintomas como fadiga e confusão mental.
Os autores do artigo destacam que esse cuidado deve ser ainda maior em populações vulneráveis, como mulheres, pessoas com menor renda e minorias raciais, que frequentemente enfrentam barreiras para acessar programas de reabilitação. A Long COVID, além de um problema de saúde, escancara desigualdades sociais que precisamos enfrentar com urgência. E, embora o SUS seja uma verdadeira bênção, pouco se faz ainda no Brasil em termos de políticas públicas voltadas à atividade física orientada como forma de recuperação.
No fundo, esse estudo não fala apenas de sintomas. Ele fala de esperança. De como a ciência pode devolver às pessoas o prazer de se mover, respirar fundo e sentir que estão, pouco a pouco, voltando a si mesmas. E, mesmo com tantas perguntas ainda sem resposta, uma coisa parece cada vez mais clara: o movimento, orientado, adaptado, persistente, pode ser o começo da cura.
Por isso, se você conhece alguém que ainda enfrente esse desafio, incentive-o a procurar um cardiologista, um fisioterapeuta ou um profissional de educação física.
O tratamento não precisa vir em forma de comprimido. Às vezes, ele começa com um passo pequeno. Um passo que, dia após dia, vai trazendo de volta a leveza das coisas simples e a força que parecia ter se perdido. Até a próxima!
Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.