ECONOMIA

Tarifa anunciada por Trump ameaça exportações de Piracicaba

Por André Thieful |
| Tempo de leitura: 3 min
Claudinho Coradini/JP
 Estados Unidos são o principal destino das exportações do município, chegando a representar 42% de tudo o que Piracicaba vende ao exterior
Estados Unidos são o principal destino das exportações do município, chegando a representar 42% de tudo o que Piracicaba vende ao exterior

A decisão anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto acendeu um alerta no setor industrial e no comércio exterior brasileiro, com reflexos diretos na economia de Piracicaba.

Em carta publicada nas redes sociais e endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump justificou a medida citando “relações comerciais injustas” e mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado, além de decisões judiciais brasileiras contra apoiadores de Bolsonaro que residem nos EUA.

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A nova tarifa contraria dados do fluxo comercial entre os dois países: juntos, Brasil e Estados Unidos movimentam cerca de US$ 80 bilhões por ano, e a balança comercial tem superávit de US$ 200 milhões a favor dos americanos. O Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) criticou a decisão, afirmando que faltam argumentos concretos para justificar o aumento tarifário e destacando que, apenas na última década, os Estados Unidos acumularam superávit de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens com o Brasil – valor que chega a US$ 256,9 bilhões ao se incluir o comércio de serviços.

Para o economista Ricardo Buso, trata-se de uma medida que impacta diretamente os americanos, ao encarecer os produtos brasileiros consumidos no país, e que, por consequência, atinge também o Brasil. “As consequências são graves, mas não catastróficas num cenário geral”, explicou. Ele ressaltou que os Estados Unidos absorvem aproximadamente 12% das exportações brasileiras, mas que os efeitos são mais fortes em setores específicos, como aço, petróleo e aviões – produtos mais industrializados, que respondem por uma fatia importante das vendas externas.

No caso de Piracicaba, os reflexos são ainda mais significativos. Segundo Buso, os Estados Unidos são o principal destino das exportações do município, chegando a representar 42% de tudo o que Piracicaba vende ao exterior. “Enquanto no Brasil as importações dos EUA equivalem a cerca de 16% do total, em Piracicaba essa participação sobe para 27%, o que demonstra um grau maior de integração com a economia americana”, destacou.

Buso explicou que existe, no entanto, uma exceção prevista pela medida americana: produtos brasileiros que contenham pelo menos 20% de componentes fabricados nos Estados Unidos pagarão a sobretaxa apenas sobre o restante do valor. “Isso pode reduzir significativamente o impacto para empresas que têm cadeias produtivas integradas com os Estados Unidos, como é o caso da Embraer e da principal exportadora de Piracicaba, que tem matriz americana”, disse.

O economista também lembrou que, historicamente, medidas protecionistas acabam sendo revistas por conta dos impactos negativos na própria economia dos EUA. “Trump já fez movimentos parecidos no passado, tensionando ao extremo para depois negociar acordos. Não é impossível que ocorra algum recuo, mesmo após o prazo de 1º de agosto”, avaliou.

Na nota oficial, o Ciesp repudiou o uso da tarifa como instrumento de disputa política e ideológica, defendendo que a soberania nacional deve ser respeitada e que as relações internacionais precisam se basear no diálogo diplomático e em dados concretos. “Questões pessoais de governantes não podem prevalecer, pois os dá-nos são severos e de difícil reparação”, diz o texto.

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