VÍCIO DEVASTADOR

Bastou um clique: 'o Tigrinho virou um pesadelo em minha família'

Por Da Redação |
| Tempo de leitura: 3 min
Foto: acervo pessoal

O impacto do vício começou com um link inocente.

Quando Irani Santos da Silva aceitou participar do que parecia apenas um passatempo virtual, não imaginava que estava abrindo as portas para um vício devastador em toda a sua família. Desempregada e enfrentando crises de ansiedade, ela mergulhou no "jogo do tigrinho" — aplicativo de apostas que tem conquistado milhões de brasileiros — após ver sua filha ganhar pequenas quantias. “A felicidade dela era contagiante. Pensamos: por que não tentar também?”, relembra.

Na imagem:  Irani Santos da Silva aceitou participar do que parecia apenas um passatempo virtual.

Logo, não só Irani e a filha Livia estavam jogando diariamente, mas também o marido Renato e até a mãe dela, Iracemi. O que começou como curiosidade virou dependência. “No início é animador. Você deposita R$ 20 e ganha R$ 100. Parece fácil. Mas quando percebe, está colocando tudo ali dentro: tempo, dinheiro e saúde mental”, desabafa.

Uma promessa, um vídeo e o fundo do poço

O estopim veio quando Irani perdeu R$ 5.200 de uma vez — dinheiro que estava guardado para necessidades básicas do filho mais novo, de apenas seis meses. Tomada por remorso, ela gravou um vídeo chorando e relatando sua experiência. A publicação viralizou, com mais de 500 mil visualizações, e serviu como ponto de virada. Desde então, Irani está sem jogar, embora cada dia represente uma nova batalha.

“Aquilo me destruiu. Senti vontade de desaparecer. Minha cabeça gritava que eu era uma péssima mãe. Não tive coragem de contar pro meu marido. Passei 30 minutos paralisada, imaginando que minha vida tinha acabado”, relata, emocionada.

Segundo ela, o aplicativo indicava que já havia atingido o nível 26, o que significa ter movimentado cerca de R$ 30 mil em apostas. “Nem os bônus vinham mais. Eu só depositava. Era como jogar dinheiro em uma fogueira.”

Um ambiente que não ajuda

Apesar do esforço para abandonar o vício, Irani sente que o ambiente familiar dificulta sua recuperação. “Pedi ajuda ao meu marido. Ele diz que quer parar, mas continua apostando escondido. Minha mãe perdeu o brilho... fica a noite inteira no celular. A autoestima dela sumiu”, observa.

A situação de Livia, sua filha mais velha, é ainda mais preocupante. “Ela começou a pedir dinheiro pela internet, quer vender os próprios pertences e fica extremamente agressiva quando perde. Grita, xinga... parece alguém em crise de abstinência. Tenho medo de que cometa alguma loucura.”

Estatísticas que assustam

O caso de Irani não é isolado. Levantamento realizado pelo Instituto DataSenado em outubro de 2024 revelou que mais de 20 milhões de brasileiros com 16 anos ou mais já apostaram online. A USP estima que 2 milhões dessas pessoas estão viciadas. O dado mais alarmante: 42% dos que apostam estão endividados — uma armadilha sem saída para quem já vive na margem.

Medo do futuro e pouca esperança

Hoje, Irani tenta cumprir uma promessa: abandonar os jogos se o resultado da biópsia do pai, suspeito de câncer, for negativo. “Não quero mais isso pra minha vida. Mas estou cercada por pessoas que não enxergam o problema”, diz.

A mulher acredita que os membros da sua família só vão parar quando algo mais grave acontecer. “Eles não me escutam. Talvez precisem sentir na pele. O que mais me dói é saber que posso perder minha filha para esse vício.”

O que começou como diversão virou um pesadelo. E Irani, mesmo determinada a resistir, teme ser sugada de volta. Afinal, como lutar contra o vício quando ele está em todos os cômodos da casa?

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