A professora e doutora indígena da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP/MG), Raquel Pataxó, reafirmou a luta pela justiça ambiental em Bauru. Raquel veio palestrar sobre o tema “Serviço Social na Luta pela Justiça Ambiental para a Diversidade de Povos e Biomas” à convite da diretoria da Seccional Bauru do Conselho Regional do Serviço Social.
O encontro, que foi na sede do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção (Sintracom), no Centro de Bauru, às 9h desta sexta-feira (30), reuniu 30 assistentes sociais para refletir e viabilizar ações em defesa das causas indígenas, segundo a diretora do conselho, Vanessa Ramos.
“Somos aliadas dos povos indígenas e buscamos qualificar a base da nossa categoria profissional para ter melhores condições de atender as demandas deles. A partir de agora, prevemos nos envolver com os indígenas urbanos e ampliar as iniciativas existentes na região, como o coletivo Ação Libertária, Apeoesp Bauru, movimento Frente Pelo Clima, entre outros”, destaca a diretora.
O assunto foi escolhido a dedo para ser articulado entre os órgãos do serviço social a nível regional e federal, acrescenta Vanessa. “É preciso dar voz àqueles que compreendem e se relacionam com o mundo de forma sustentável, pois é provável que estejam acertando muito mais do que nós”, afirma.
Violência e ameaça ambiental: os principais desafios

Raquel Pataxó, 38 anos, cresceu no território indígena Barra Velha, na Bahia, mas vive e trabalha atualmente como assistente social em Mariana, Minas Gerais.
Clique para ouvir Raquel Pataxó cantar na língua indígena patxõhã.
A tragédia-crime foi fruto da Samarco Mineração, controlada pelas mineradoras Vale e BHP Billiton, do Canadá. Esse rompimento matou 19 pessoas, 11 toneladas de peixes por asfixia e fez secar um dos entes ancestrais do povo Konak, presente no local, o Rio Doce, chamado pelos indígenas de Watu. Ações judiciais sobre o caso seguem em andamento até os dias de hoje.
Segundo Raquel, a violência contra os povos indígenas perdura em diferentes regiões, porém sempre com os mesmos fundamentos. “Mesmo a história das cidades seguem contadas pela perspectiva dos cavaleiros desbravadores. A narrativa é que eles ergueram o mundo. Mas e quanto aos mundos indígenas que foram destruídos e o cemitério que ficou sob nossos pés?”, indaga.
A ativista frisa que quem luta pela defesa dos povos, automaticamente preserva a causa ambiental, afinal, os dois elementos são pertencentes. "Os grupos tradicionais guardam a memória de que o ser humano compõe a natureza e também faz parte dela. Por isso, nossa luta é pela vida", acrescenta.
Para ela, registrar as tradições e os conhecimentos dos povos é a ferramenta principal na luta em defesa da cultura indígena. “A caneta é a nossa flecha”, conclui.