ARTIGO

O poder que sai da nossa boca

Por Fabiane Fischer |
| Tempo de leitura: 3 min

Existe algo em nós que muitas vezes passa despercebido, mas que carrega uma força imensa: a palavra. O que sai da nossa boca tem poder. Poder de construir ou derrubar. Poder de curar ou ferir. Poder de abrir caminhos ou fechar portas. Às vezes, sem perceber, estamos moldando nossa vida com aquilo que dizemos todos os dias.

Não é difícil notar isso. Basta lembrar de como nos sentimos quando alguém nos diz algo que nos motiva, que nos valoriza, que nos enche de esperança. Uma palavra de carinho pode mudar o rumo de um dia difícil. Do mesmo modo, uma palavra dura, mesmo dita sem intenção, pode causar tristeza, insegurança ou afastamento. Palavras marcam e ficam gravadas na memória.

A palavra não é só som, ela carrega intenção, ela comunica não apenas o que pensamos, mas o que acreditamos. E é por isso que precisamos cuidar da forma como falamos com os outros e também conosco. Quando dizemos “não vai dar certo”, estamos plantando desânimo. Quando dizemos “vai passar, eu vou conseguir”, estamos abrindo espaço para a superação. É como se nossas palavras fossem sementes, e o coração, a terra onde tudo floresce. A colheita do que dizemos chega, mais cedo ou mais tarde.

A vida já tem seus desafios, mas a forma como falamos sobre eles pode fazer toda a diferença. Reclamar o tempo todo nos faz sentir presos. Agradecer, mesmo em meio às lutas, nos traz leveza. Não se trata de fingir que tudo está bem, mas de escolher onde colocar o foco: naquilo que paralisa ou naquilo que impulsiona. Ao mudar o que falamos, começamos a mudar o que sentimos e isso, aos poucos, muda o que vivemos.

Também precisamos lembrar do impacto das palavras dentro de casa. Com os filhos, por exemplo, cada palavra dita constrói parte da identidade deles. Quando dizemos “você é inteligente, estou orgulhoso de você”, estamos fortalecendo sua autoestima. Por outro lado, quando repetimos “você só faz tudo errado”, mesmo sem intenção, podemos minar a confiança que estão tentando construir. Nossas palavras se tornam espelhos onde os outros se veem.

Nos relacionamentos, o cuidado com as palavras é o que mantém o afeto vivo. Um simples “obrigado”, “me perdoe” ou “eu te amo” pode restaurar laços que estavam se desgastando. Palavras gentis não custam nada, mas valem muito.

E não podemos esquecer de como falamos com nós mesmos. Somos, muitas vezes, nossos piores críticos. Repetimos internamente frases como “sou um fracasso”, “nunca vou conseguir”, “isso não é pra mim”. Mas quando começamos a falar com mais compaixão, dizendo “estou tentando”, “vou aprender com isso”, “mereço crescer”, começamos a mudar por dentro. A forma como nos tratamos define muito do que conseguimos alcançar.

É importante entender que não estamos falando aqui de mágica, mas de consciência. De responsabilidade com o que lançamos no mundo. De perceber que nossas palavras são ferramentas que podem ser usadas para criar pontes ou levantar muros.

Falar com fé, com esperança e com gentileza é um exercício. Às vezes, exige esforço. Mas é um esforço que vale a pena. A palavra tem o poder de antecipar os caminhos, de preparar o terreno para o que desejamos viver. Ela nos conecta, nos move, nos transforma. Uma palavra de vida, dita na hora certa, pode ser o sopro que reacende a esperança de alguém.

Que possamos escolher bem as palavras que usamos. Que sejamos fonte de ânimo, e não de peso. Que possamos abençoar ao invés de julgar. Que sejamos lembrados por espalhar palavras que confortam, que elevam, que ajudam a seguir em frente.

Em tempos em que tanta coisa nos puxa para o medo e para a pressa, que cada um de nós possa ser um canal de palavras que acolhem, que inspiram e que trazem vida. Porque o que sai da nossa boca volta para nós. E quando espalhamos luz, um pouco dela sempre fica com a gente.

Com carinho, Fabiane Fischer.

Fabiane Fischer é especialista na recuperação de dependentes químicos, abusos e compulsões.

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