
Uma das coisas que sempre gostei no jornalismo é quando o trabalho nos surpreende, e foram muitas as vezes que isso aconteceu em quase 20 anos de profissão. Entre elas está o dia que eu “quase” entrevistei o papa Francisco.
Era julho de 2013, quando Francisco foi ao Brasil em sua primeira viagem internacional, rumo à Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Eu, de Piracicaba, quase 600 km distante da Cidade Maravilhosa, jamais imaginei que faria parte desse evento, um dos maiores do catolicismo.
Até que, na redação do Jornal de Piracicaba, onde era repórter da editoria de Cidades, a editora-chefe Ude Valentini fez o convite. E eu, na plenitude de um jovem repórter, não negava nada.
E lá fomos eu e o fotógrafo Claudinho Coradini atrás do papa Francisco. Na ida, pegamos carona com uma excursão de um grupo católico de Piracicaba em um ônibus. Foi divertido no começo, entrevistando aqueles entusiasmados fiéis que estavam prestes a ver mais de perto o líder de sua igreja.
Mas confesso que foi difícil dormir com tanta animação até o amanhecer em cerca de 11 horas de viagem. Acontece que, quando chegamos no destino, todos iriam para o hotel descansar, menos eu e Claudinho, que começamos nossa saga atrás do papa.
Primeiro, fomos para o local de boas-vindas aos fiéis que estavam participando da Jornada, no Complexo do Maracanã. Lá, no meio de uma multidão de pessoas, lembro de ter encontrado alguns piracicabanos.
Depois, seguimos para o Palácio São Joaquim, onde vi Francisco rezar o Ângelus, da sacada. Foi um dos momentos que mais cheguei próximo a ele.
Enquanto aguardávamos o papamóvel chegar, fiquei próximo de uma mãe que carregava seu filho. Quando o papa se aproximou, ele avistou a criança e desceu do seu veículo para beijar o bebê e foi nessa hora que estendi o meu braço para, em uma tentativa obviamente frustrada, tentar pegar uma palavra do pontífice para minha reportagem.
Apesar do fracasso da entrevista, rendeu uma foto para minha lembrança.
Eu e Claudinho seguimos para Copacabana, onde 3,5 milhões, na maioria jovens, esperavam o papa Francisco para a Via-Sacra na Praia de Copacabana. Nunca vi tanta gente na vida e aproveitei para encontrar mais personagens para minha matéria.
Nos intervalos, aproveitava para anotar e tentar deixar o esqueleto do texto pronto, com a paisagem privilegiada do Rio de Janeiro.
Em Copacabana, tivemos a chance de ver novamente o papamóvel passar. A noite avançou e continuamos nossa peregrinação -- literalmente. Era tanta gente que muitas ruas em volta de onde foi montado o palco para o evento estavam fechadas. Por isso, para encontrar um táxi e voltar para o hotel, demoramos horas.
Só sei que, chegando no hotel, Claudinho foi dormir, com seu dever já cumprido, mas eu varei a madrugada escrevendo os vários textos que foram combinados para uma grande reportagem de meio de página, que saiu logo no outro dia.
Foram 24 horas praticamente ininterruptas de trabalho, mas, mesmo exaustivo, lembro daquele dia com alegria. Por cumprir a missão que me foi dada e por presenciar de perto a vontade e a energia de Francisco de iniciar seu papado junto ao povo, principalmente aos jovens.
O sucesso da reportagem foi tão grande que virou uma exposição, com as fotos de Claudinho e os meus textos, e percorreu algumas igrejas de Piracicaba.
Não sou uma pessoa religiosa, mas fiquei comovido com a morte do papa Francisco. Talvez pela forma como ele sempre tratou de algo tão careta e conservador, como o papado de uma igreja católica, de forma sorridente e sempre despretensiosa.
Descanse em paz, Francisco, e que o Conclave eleja alguém que possa continuar o seu belo trabalho.
Rubinho Vitti é jornalista.