
A Orquestra Educacional de Piracicaba completa 10 anos em 2025. Nessa década de existência, a orquestra se tornou um dos principais modelos de ensino de música da cidade, e se tornou uma oportunidade de acesso à música de orquestra aos mais variados grupos. Entre eles, pessoas que tocam um instrumento por hobby e realização pessoal, sem o desejo de seguirem carreira na música. Nesse cenário, surgiu a OEP, que é coordenada pelo maestro Ivan Bueno.
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“Olhando esses cenários é que a Orquestra Educacional se apresenta como mais uma alternativa de oportunizar acesso a essas pessoas”, diz o maestro, que também ocupa o cargo de diretor artístico e arranjador da OEP. “Nesse sentido é que surgiu a ideia de ter um grupo orquestral que pudesse ser um espaço de acolhimento e aprendizado para aqueles que querem tocar seu instrumento dentro de suas habilidades e competências musicais e técnicas, um ambiente de conexão com pessoas e com um repertório sinfônico, proporcionando bem estar, interação, inclusão e experiências”, completou.
A OEP também oferece oportunidades para músicos que possuem aspirções profissionais, sendo uma porta de entrada desse público ao meio das orquestras. Nesse contexto, para o desenvolvimento desses músicos, foi criada a Orquestra de Câmara de Piracicaba. “Esse grupo se apresenta como um espaço para àqueles que almejam viver de música, tocar em orquestras profissionais. É um espaço onde o músico terá contato com outros maestros, solistas, músicos atuantes em orquestras profissionais, enfim um ambiente de novas conexões e experiências”, conta. “O repertório executado pela OCP não tem adaptação, os músicos leem o original, exatamente o que o compositor escreveu para essa formação instrumental”, finalizou. Confira a entrevista completa do maestro Ivan Bueno ao JP.
A OEP foi fundada em 2015 em Piracicaba com a missão de enriquecer cultural e socialmente a vida das pessoas. Primeiramente, gostaria que contasse como surgiu a iniciativa da OEP.
Participar de um grupo orquestral tocando um instrumento é sempre desafiador, é necessário estudar por muito tempo, dominar o instrumento, sua técnica e musicalidade, conhecer a história da música e tantos outros elementos importantes para um bom músico. Porém, uma parcela significativa das pessoas aprende instrumentos para o seu prazer, um hobby, um desejo pessoal, não necessariamente para serem profissionais, seguir a carreira de músico/musicista. Outro grupo de pessoas iniciam seus estudos no instrumento e não se sentem pertencentes em fazer parte de um grupo onde possam participar de acordo com o seu nível técnico naquele momento do aprendizado. Olhando esses cenários é que a Orquestra Educacional se apresenta como mais uma alternativa de oportunizar acesso a essas pessoas. Nesse sentido é que surgiu a ideia de ter um grupo orquestral que pudesse ser um espaço de acolhimento e aprendizado para aqueles que querem tocar seu instrumento dentro de suas habilidades e competências musicais e técnicas, um ambiente de conexão com pessoas e com um repertório sinfônico, proporcionando bem estar, interação, inclusão e experiências. A OEP também se apresenta como um meio necessário para aqueles que almejam uma vida profissional na área da música, desafiando-os e estimulando-os ao aprimoramento técnico e musical no instrumento, na interpretação musical e na prática em conjunto.
A OEP atende pessoas a partir dos 10 anos de idade com uma metodologia que é independente do conhecimento e habilidade musical prévia. Como isso funciona na formação dos alunos?
Para ter acesso às atividades da OEP são necessários ter um conhecimento técnico e musical mínimos, em consonância a um quadro classificatório definido na metodologia adotada – metodologia desenvolvida e apresentada no meu mestrado e doutorado na Unicamp. A partir desse conhecimento mínimo o interessado pode começar a participar da orquestra tocando uma partitura que foi adaptada/arranjada, que contém apenas esses elementos básicos que no momento é dominado pelo integrante. É aconselhável que o integrante continue seus estudos no instrumento para que avance no domínio técnico e na musicalidade e assim possa evoluir também para outros naipes da orquestra com mais desafios técnicos e musicais. Portanto, o interessado já precisa ter um domínio prévio do instrumento e um conhecimento mínimo da teoria musical e da percepção rítmica e melódica.
Ainda sobre a metodologia, como funciona o ingresso dos alunos?
O interessado que possua esse conhecimento mínimo exigido do instrumento e da teoria musical ele passa por uma conversa de esclarecimento e uma pequena avaliação técnica com o maestro. Isso é necessário para que o maestro consiga direcionar o melhor aproveitamento desse aluno dentro do grupo. Certamente esse novo integrante estará sempre ao lado de pessoas com um pouco mais de experiência, que por sua vez, terá a missão de auxiliá-lo nos desafios que aparecerão durante a execução musical. Também vale lembrar que a OEP é uma prática em conjunto, portanto o músico precisa ter seu próprio instrumento. Instrumentos maiores e muito caros esses a orquestra possui, como a família de percussão e contrabaixos acústicos.
A partir disso, como é feito o desenvolvimento desses alunos?
A OEP é uma prática que possibilita acesso de diferentes níveis técnicos no instrumento e de conhecimento musical, partindo daquele conhecimento mínimo exigido. Para que isso aconteça é necessário que todo o repertório desenvolvido pela OEP seja adaptado/arranjado, contendo para cada naipe da orquestra no mínimo 2 níveis de habilidade técnica, um mais simples e o outro mais complexo. Para o ouvinte não faz diferença, isso é necessário para que a OEP cumpra seu papel de inclusão de aprimoramento constante. Conforme o aluno vai estudando, se aprimorando e tendo experiências ele começa a fazer a transição do naipe mais simples para o naipe mais complexo, sempre tendo o auxílio e a orientação dos líderes de naipes, até ter condições técnicas e musicais para executar com excelência o repertório mais complexo da orquestra. Na OEP é assim: quem sabe mais ajuda quem sabe menos e com isso ela está em constante aprimoramento.
A OEP também possui vinculada a Orquestra de Câmara de Cordas. Como surgiu a ideia da criação dessa Orquestra? Como ela funciona?
Quando o integrante da OEP consegue dominar o seu instrumento técnica e musicalmente e com isso o repertório mais complexo ele é convidado para participar da Orquestra de Câmara, atualmente temos apenas a família das cordas, mas a intenção futura é ter outras famílias também (madeiras, metais e percussão). Essa orquestra surgiu pela necessidade de acolher e atender músicos e musicistas em suas aspirações profissionais. Esse grupo se apresenta como um espaço para àqueles que almejam viver de música, tocar em orquestras profissionais. É um espaço onde o músico terá contato com outros maestros, solistas, músicos atuantes em orquestras profissionais, enfim um ambiente de novas conexões e experiências. O repertório executado pela OCP não tem adaptação, os músicos leem o original, exatamente o que o compositor escreveu para essa formação instrumental.
Hoje, você considera que tanto a OEP quanto a Orquestra de Câmara de Cordas são essenciais na formação de músicos em Piracicaba?
Sim, sem sombra de dúvidas. Estes grupos se tornaram necessários e espaço de passagem para quem quer tocar seu instrumento, seja como amador, como hooby, ou para os que aspiram viver da música, executando com excelência seu instrumento sinfônico. Este projeto permite acesso para quem tem pouco conhecimento musical (Orquestra Educacional) e para aqueles que dominam o instrumento (Orquestra de Câmara). Com isso o projeto abraço a todos, respeitando cada um seu momento de aprendizado e domínio técnico. Que o acesso a orquestra não seja privilégio de poucos, mas acessível para todas as pessoas.
No contexto da pergunta anterior, há relatos de alunos da OEP que se destacaram também em outras orquestras além de Piracicaba?
Temos diversos ex-integrantes que hoje tocam em orquestras jovens e profissionais em São Paulo e de outros estados. Outros em fase de aprimoramento em faculdades de música e alguns seguindo a carreira como músico compartilhando seu talento em diversos grupos musicais pelo Brasil. Ficamos muito felizes e honrados por ter feito parte do aprendizado dessas pessoas que nos orgulham com seus talentos. A OEP e a OCP são espaços de oportunidades e de acesso para o desenvolvimento de habilidades e competências artísticas e musicais das pessoas.
Por fim, como vê a importância da formação musical na vida de uma pessoa?
Considero fundamental para o desenvolvimento da plenitude do ser humano. A música nos equilibra, nos deixa mais sensíveis, mais humanos, mais gente. Ter conhecimento musical nos transforma como pessoa, nos permite crescer e desenvolver em benefício próprio e da sociedade, é bom pra todos. Acredito que se tivéssemos mais acesso aos bens e serviços de formação musical seríamos uma nação diferente, um povo melhor para si mesmo e para o outro. Música transforma a vida das pessoas e as pessoas transformam o mundo (parafraseando o educador e filósofo Paulo Freire). Desejo que tenhamos mais projetos semelhantes a esse apresentado, porque certamente seríamos melhores, melhores em tudo.