Polícia Civil decide realizar reconstituição da morte de Vitória

A Polícia Civil de Cajamar, cidade na Grande São Paulo, decidiu realizar a reconstituição da morte da adolescente Vitória Regina de Sousa, 17. O corpo dela foi encontrado em uma área de mata no dia 5. Vitória sumiu ao retornar do trabalho para a casa no final da noite de 26 de fevereiro.
A decisão contrasta com afirmação do delegado Fábio Lopes Cenachi, responsável pela investigação. Na terça-feira (18), durante coletiva de imprensa, ele disse que não faria sentido realizar a reconstituição por ter convicção de que o operador de empilhadeira Maicol Antonio Sales dos Santos, 23, foi quem cometeu o crime.
A Folha de S.Paulo questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) sobre o possível recuo do delegado. Em nota, a pasta disse que "a Polícia Civil solicitou ao IML a reconstituição do crime para esclarecer todas as circunstâncias em que ele ocorreu".
"O principal suspeito segue preso temporariamente após confessar a autoria do homicídio e as investigações prosseguem pela Delegacia de Cajamar para a conclusão do inquérito policial", acrescentou. Não foi informada uma data para a reconstituição.
A fala de Cenachi ocorreu horas depois de Maicol supostamente ter confessado o crime na presença de uma advogada, que não a dele, chamada por policiais para acompanhar a confissão.
A defesa de Maicol, no entanto, não aceita o documento como um interrogatório válido, por não estar presente. Ainda mais porque o suspeito afirmou ter sido pressionado pelos policiais a confessar o crime.
Em áudio gravado pelos advogados na quarta-feira (19), minutos antes de Maicol ter sido transferido para o Centro de Detenção Provisória de Guarulhos (SP), ele deu sua versão do episódio.
"Se vocês puxarem pela câmera ali fora, eles [policiais] foram lá me chamar e eu falei que não ia falar com eles. Aí o policial falou 'já que você não vai cooperar comigo, então você vai ficar no banheiro'. Eles me colocaram no banheiro, muito sujo, podre", disse Maicol.
"Quando foi por volta de 22h, eles me chamaram na sala lá em cima e o delegado falou que ia me f... de qualquer jeito. Ele falou que ia colocar minha mãe na cena do crime, que ia colocar minha esposa, que ia prender minha mãe, prender minha mulher. Se eu não cooperasse ele falou que ia colocar minha família toda. Aí eu inventei uma história e falei que fui eu", finalizou.
No áudio, Maicol se emocionou e foi consolado pelos advogados, que disseram que a família dele estava bem e que seria protegida pelo Estado.
Segundo o delegado Luiz Carlos do Carmo, diretor do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), os advogados de Maicol chegaram a estar na unidade, mas deixaram o local antes da confissão, pois eles queriam que o suspeito se mantivesse calado.
"Eles [advogados] podem abandonar a causa, mas não podem forçar a não confissão do acusado", disse Cenachi durante entrevista coletiva.
Carmo afirmou que Maicol "era obcecado pela vítima". Durante a entrevista ele chamou o suspeito de "stalker".
A defesa do suspeito divulgou também neste domingo (23) uma nota criticando a postura do delegado Cenachi pelo pedido de perícia psiquiátrica em Maicol diretamente para a Polícia Técnico Científica.
"A defesa de Maicol Antônio Sales dos Santos questiona, veementemente, a conduta adotada pelo delegado responsável pelo caso, que, sem ordem judicial, agendou a realização de uma perícia psiquiátrica. Tal medida desrespeita expressamente o artigo 149, §1º, do Código de Processo Penal, tornando sua realização ilegal e arbitrária", diz o texto.
O artigo em questão diz que, quando houver dúvida sobre a integridade mental de um acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor ou de familiares que este seja submetido a exame médico-legal.
O pedido pode ser feito na fase de inquérito, como é a situação de Maicol, desde que ordenado mediante representação da autoridade policial ao juiz competente.
"Além disso, causa extrema preocupação o momento em que essa perícia foi determinada: apenas um dia após a suposta confissão de Maicol, que, por si só, já está cercada de graves irregularidades. A ausência dos advogados constituídos no ato, a realização da oitiva durante o período de repouso noturno e a coação psicológica sofrida e relatada pelo investigado são elementos que não podem ser ignorados", continua a defesa.