Com experiência de 40 anos no terceiro setor, a Primeira-Dama de Piracicaba, Valkiria Callovi assumiu a frente do Fussp (Fundo Social de Solidariedade de Piracicaba) em 2025 e tem seguido uma política de aproximação com as entidades assistenciais de Piracicaba. Nos primeiros meses de trabalho, visitou instituições e empresas da cidade para entender as necessidades e o que é necessário fazer, por parte do poder público, para auxiliar a população.
Frentes como ampliação de atendimento à população, com a descentralização dos serviços dos Fussp, e capacitação da população, especialmente os jovens, para favorecer a criação de empregos na cidade, estão no topo da lista de prioridades de Valkiria. “Não ficar só no prédio do Fundo Social. As pessoas têm muita dificuldade de se locomover, é demorado, caro, é um dinheiro que essa família precisa para outra coisa”, disse a presidente do Fussp. “As empresas são nossas parceiras, e a gente tem que ver no empresário aquela pessoa que também se arrisca, se dedica para gerar empregos e riqueza para o nosso país para ele continuar funcionando. Eu vejo que eles, hoje, estão passando por uma grande dificuldade de mão de obra”, completou. Veja a entrevista completa da Primeira-Dama de Piracicaba ao JP.
Quais são os maiores desafios do Fundo Social hoje?
Hoje nós estamos tentando mudar um pouquinho o fundo, levar o fundo para os bairros através das entidades que já existem no município. Nesse momento nós estamos conhecendo as entidades, retornando àquelas em que nós já estivemos e vendo a possibilidade de desenvolver o nosso trabalho lá, para atender a toda a população de Piracicaba. Não ficar só no prédio do Fundo Social. As pessoas têm muita dificuldade de se locomover, é demorado, caro, é um dinheiro que essa família precisa para outra coisa. A gente vai tentar criar cursos de capacitação em cada bairro, em cada entidade. A entidade tem um vínculo com a população do bairro. Elas conhecem já quem precisa da nossa ajuda.
Tem algum projeto ou campanha nova vindo aí?
Nesse momento, nós continuamos com a campanha da cesta básica, que são os alimentos. Ou é a cesta básica, o kit, ou os alimentos mesmo que a gente destina para as entidades. A gente também continua com a arrecadação de fraldas para acamados. Hoje nós temos em torno de 500 cadastrados, mas com as doações que nós temos no momento, conseguimos atender em torno de 250. Então nós precisamos de mais doadores de fraldas. E também estamos com a campanha de voluntários para a Festa das Nações. Mas não só para a Festa das Nações. Eu tenho visitado as entidades e eu vejo que os colaboradores, os diretores, os voluntários, são todos já mais velhos. A pessoa está ali, em torno de 70 anos, trabalhando. Eu acho que os jovens deveriam vir ajudar para aprender e prosseguir com essas atividades
Como as pessoas podem ajudar e fortalecer as ações do Fundo?
É só entrar em contato com o fundo social. Sobre o voluntariado, tem no site do Fundo Social um link onde as pessoas se inscrevem para a Festa das Nações para ser voluntário. Tem um link lá onde nós pegamos quem se inscreveu para colocar nas instituições. E para as doações, é só ligar no Fundo, que a gente retira. Ou levar lá. O Fundo está sempre aberto. A gente quer que as pessoas participem.
Como está o planejamento da Festa das Nações deste ano? Alguma novidade?
A Festa das Nações, hoje, a gente pode dizer que está profissionalizada. Tem a associação que cuida. O Fundo Social ajuda captando os voluntários, e a Prefeitura ajuda com algumas questões estruturais, de documentos, para a realização da festa. A Festa hoje é realizada através da Lei Rouanet que eles captam nas empresas do município. É uma festa que não depende exclusivamente da Prefeitura ou do Fundo Social.
Além da Festa das Nações, tem outros eventos solidários a caminho?
Sim. Piracicaba tem potencial e as entidades precisam. Nas próprias visitas que faço, a gente vê que elas dependem muito da Festa das Nações. A Festa das Nações contribui com grande parte do orçamento delas. Então, eu penso que nem todas as entidades conseguem entrar na Festa das Nações porque, quando você profissionaliza o espaço, vem as regras, normas. Então, não fsobra hoje muito espaço para mais entidades. Tem alfgumas que estão aguardando, elas vão sendo colocadas quando alguém desiste ou surge espaço, mas não dá para atender todo mundo. Eu até conversei com eles que, através da própria associação e juntando o Fundo Social, a Secretaria de Turismo, a Secretaria de Cultura, realizar outros eventos durante o ano no município. Evento que todas essas entidades podem participar. Precisa de inovação e o povo precisa de locais para ir, para se socializar. Hoje em dia, eu falo que grande parte da população mora em um apartamento. Durante a semana trabalha, estuda, não fica muito tempo. Chega em casa para tomar banho, jantar, assistir TV e dormir. No final de semana fica complicado de ficar com criança, o cachorrinho, o gatinho, todo mundo dentro de casa. Então a população necessita de locais de lazer e convivência.Tudo o que vai ser realizado através da prefeitura também vai ser destinado para as entidades
Sem a Festa das Nações, os repasses para as entidades seriam suficientes ou a arrecadação no evento faz toda a diferença?
Faz a diferença. Faz toda a diferença no orçamento da entidade. Tanto é que elas até se queixam de certas situações que, se acontece um imprevisto, sentem a diferença no orçamento.
Como tem sido a parceria com as entidades para garantir mais impacto social?
Eles ficam felizes com a proximidade da prefeitura, do Fundo junto delas. Eles demonstram isso. E eu acho muito importante isso. O terceiro setor é muito mais rápido que o poder público para chegar na população. O poder público depende de muita legislação, é moroso para poder fazer um projeto, atender um problema. O terceiro setor consegue fazer isso com rapidez. E nós temos entidades excelentes aqui. Temos grupos que nem são entidades, mas que estão desenvolvendo trabalhos maravilhosos. Então a gente tem muito trabalho social. Aliás, eu quero por no site do Fundo uma pequena história de cada entidade. Para que a pessoa, quando sentir vontade de doar, possa ir lá e analisar qual é o perfil que ela se identifica, que tem uma empatia. Eu acho que a gente tem que ter no site do Fundo tanto uma divulgação dos nossos colaboradores, que são pessoas que estão sempre junto com a gente, e as entidades que estão fazendo o papel delas na comunidade.
Como sua experiência como vereadora e secretária de governo influencia seu trabalho como primeira-dama?
Na realidade, esse trabalho que a gente vem realizando como presidente do Fundo, é um trabalho que a gente, que já é do terceiro setor, desenvolve. Eu já fiquei 40 anos trabalhando no terceiro setor. A gente fazia muita festa. A gente dependia de muita participação das pessoas no nosso trabalho. E é isso que o Fundo precisa, que as pessoas estejam inseridas nas entidades. O trabalho social beneficia todo mundo, quem dá e quem recebe. Essa é a importância do Fundo. O trabalho que a gente quer fazer no Fundo já vem dessa experiência no terceiro setor. E, também, lógico, a administração pública trouxe um conhecimento maior, porque a gente sabe como funciona, o que pode, o que não pode fazer dentro do poder público. Acho que toda experiência é válida.
Sua formação em Pedagogia, Filosofia e Serviço Social ajudou a moldar sua visão sobre políticas públicas?
Sim, eu estudei muito essa área de humanas. Eu lecionei por 30 anos no Ensino Fundamental, 12 anos no Ensino Médio, e 40 anos que eu dirigi a creche em Charqueada, a Chapeuzinho Vermelho, que é uma entidade filantrópica. Lá, não só com creche, mas como pertencia ao centro comunitário, que é o único equipamento lá no município, nós trabalhamos com grupo de jovens, famílias. Já fizemos muito trabalho. Nesses 40 anos nós trabalhamos com todas as faixas etárias.
O que a vida pública te ensinou de mais valioso?
Que o cargo público não é status. Eu costumo falar que nós temos mais patrão do que todo mundo, porque aqui em Piracicaba nós temos quase 500 mil patrões. E o cargo público, a gente está nele. É momentâneo, passa rápido. E antes de tudo, nós somos cidadãos, nós pagamos impostos. Acho que todo mundo tem o mesmo direito. Enquanto a gente está aqui na prefeitura, o Helinho, no Fundo Social, a gente tem que procurar fazer o melhor para a população.Às vezes a gente não consegue contentar todo mundo. Aliás, na maioria das vezes. Nem na casa da gente nós não contentamos todo mundo a todo momento. Imagine uma população de quase 500 mil habitantes. Eu acho que o gestor tem que ter a responsabilidade de pensar o que é melhor, não só para o momento, mas pensar no futuro. Uma administração não pode estar pautada no momento, tem que pensar daqui 20, 30 anos para garantir uma situação de conforto, segurança, bem-estar para a população, também.
Como você vê o futuro das políticas sociais na cidade?
Eu estou visitando tanto as instituições como as empresas. As empresas são nossas parceiras, e a gente tem que ver no empresário aquela pessoa que também se arrisca, se dedica para gerar empregos e riqueza para o nosso país para ele continuar funcionando. E a gente tem que ouvir os dois lados. Eu vejo que eles, hoje, estão passando por uma grande dificuldade de mão de obra. Estou conversando com muita gente e tem muita dificuldade de mão de obra. Por isso, nós do Fundo vamos estar conversando para que a gente possa estar com vistas para capacitar a população, para que a pessoa consiga ter o emprego, a autonomia, para que o município melhore. Não só o município, mas o país. Com essa diminuição demográfica, a população está diminuindo, nós precisamos trabalhar com os nossos jovens, dar condições para que eles tenham um emprego, então vamos trabalhar com a capacitação.