ARTIGO

O valor da gratidão


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A gratidão como norma de vida, embora desejável e benéfica, ainda é rara em nosso mundo, dominado pelo egocentrismo. Condicionados que estamos a padrões disfuncionais de conduta, a gratidão, por enquanto, não nos é atitude espontânea, devendo, por isso mesmo, ser cultivada.

Costumamos ser ingratos e até rebeldes em relação ao que nos contraria e nos tira da zona de conforto – geralmente o que mais nos promove o crescimento interior. Revoltamo-nos com frequência diante de prejuízos aparentes, sem percebermos que podem ser meios para conquistas imperecíveis.

A aceitação das ocorrências adversas inevitáveis nos predispõe ao passo seguinte, de agradecê-las como ferramentas da vida para nos aprimorar, seja em forma de experiências que nos instruem, de dores que nos purificam ou de obstáculos que nos fortalecem. A gratidão é portadora de potencial curativo ainda desconhecido e nos torna capazes de reconhecer os benefícios ocultos naquilo que nos corrige o caráter e que nos impulsiona a conquistas interiores mais amplas. Essa atitude nos é desafiadora, pois requer, além de humildade, compreensão mais profunda dos mecanismos da vida. Agradecer é uma forma de reverenciar a vida, reconhecendo os infinitos mecanismos de que dispõe para nosso aprimoramento.

Agradecer não é, como pode parecer a uma apreciação superficial, atitude masoquista, quando se é alvo de sofrimentos, provações ou dificuldades, mas compreensão das situações, convertendo-as em ferramentas evolutivas. Nesse sentido, a gratidão não é apenas virtude passiva, mas parte de um ativo processo de autotransformação.

As atitudes contrárias à gratidão – queixa, rebeldia, crítica e vitimismo, refletem visão limitada e distorcida da realidade e representam prisões psíquicas. Esses padrões disfuncionais acabam se tornando vícios de comportamento, geradores de conflitos e infelicidade.

Agradecer também é reconhecer as graças que nos alcançam, muitas vezes por meios inusitados. Quantas vezes recebemos ajudas inesperadas, auxílios anônimos, apoio de quem menos esperávamos e oportunidades de reparação diante de erros cometidos?

Pode-se agradecer pelo bem que se recebe, pelo mal que foi evitado e até mesmo pelo aparente mal que sucedeu, pois tinha alguma função a desempenhar, seja como lição, provação, corrigenda ou purificação. Desse modo, não são os fatos em si que se tornam merecedores de gratidão, mas a compreensão do quanto podem ser valiosos instrumentos no processo de aperfeiçoamento interior.

A retribuição é uma forma de agradecimento, e pode ser dirigida a qualquer ser, não necessariamente a quem nos haja beneficiado, já que todos fazemos parte da infinita teia da vida. Ao fazermos o bem inserimos no sistema universal energias positivas, e esse ato pode retribuir indiretamente algo que tenhamos obtido de outros indivíduos, em prévias ocasiões.
Devido ao predomínio do ego, temos dificuldade de reconhecer os verdadeiros estímulos à nossa evolução, e costumamos nos rebelar ante ocorrências que nos contrariem interesses pessoais. Quando estivermos mais despertos, certamente reconheceremos como impulsos positivos o que hoje nos motiva resistência ou queixa. Seremos capazes, como o fazem os sábios, de agradecer àquilo que nos aprimora, que nos purifica e nos liberta das amarras do egocentrismo. Até lá, podemos gradualmente exercitar a gratidão desde as pequenas ocorrências do cotidiano, através de cuja prática nos abriremos a novas e mais amplas possibilidades de autorrealização.

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