
Entrevista interessantíssima que fiz com a Daniela Zampieri, psicóloga clínica, especialista em Neurodivergências e com a Ana Paterniani, médica psiquiatra e terapeuta sexual: “Antes de abordarmos essa temática cabe aqui uma breve conceituação sobre Neurodiversidade/neurodivergência. A Neurodiversidade diz sobre as diferenças neurológicas existentes entre os indivíduos, ou seja, pessoas neurodivergentes têm um funcionamento cerebral diferente do padrão.
Entre as muitas neurodivergências podemos citar as mais conhecidas, como o TEA (Transtorno do Espectro Autista), o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e AH/SD (Altas Habilidades e Super dotação).
Pessoas neurodivergentes também amam, sentem desejos, se relacionam, e também sofrem as consequências de um relacionamento, mas com muito mais intensidade no sofrimento.
As vivências positivas e conflitos existem para todos os relacionamentos, seja de pessoas neurodivergentes ou não. Mas, no Espectro Autista, por exemplo, a forma que a pessoa sente e interpreta os sentimentos e emoções, pode vir de forma distorcida, levando muitas vezes a sentir-se inadequada para aquela situação.
Dificuldades para interpretar o que a parceira deseja, de que forma deseja, seja através da comunicação, das expressões faciais ou corporais, e até mesmo dos jogos de sedução.
E quando falamos de relacionamentos a comunicação é essencial para que os pares possam manifestar aquilo que agrada e não agrada, tanto no campo afetivo relacional quanto no sexual.
E pensando em pessoas autistas que apresentam dificuldades e prejuízos na comunicação, a parceira ou parceiro devem ter ciência disso e buscar entender e compreender o funcionamento cognitivo e comportamental de seus pares. O diálogo na relação é a chave para que o casal afine os seus interesses e desejos, sem jamais deixar de conhecer e respeitar os limites um do outro.
Outro ponto importante a ser abordado é o do contato físico. Pessoas autistas têm uma hipersensibilidade sensorial muito aguçada, e a forma que lidam com as percepções táteis, olfativas, gustativas, visuais e auditivas, não é tão simples e confortável assim. Em se tratando de sexo, os corpos se encontram numa coreografia sincronizada em que existem temperaturas e texturas corporais, cheiros que exalam, troca de salivas, suor e fluidos, um toque mais forte, ritmos e intensidade que, a princípio, podem gerar ansiedade e desconforto.
Mulheres autistas podem apresentar disfunção sexual por conta do Espectro, como o vaginismo, por exemplo, levando-as à dificuldade de penetração durante o ato sexual. Além da dor e do desconforto sentidos nesse caso, o sentimento de não conseguir relaxar e sentir e compartilhar do prazer com seu parceiro, acaba por colocar a mulher num pensamento ruminante de que há algo de errado com ela, de que não é capaz o suficiente de proporcionar prazer ao outro, fantasias que permeiam o imaginário feminino, carregados de uma pressão cultural que só aumenta o sofrimento psíquico dessas mulheres.
Mais do que nunca a comunicação se faz necessária! Os parceiros falarem e serem ouvidos, sem julgamento, com aceitação e respeito, dentro do prazer que lhes é possível, pode tornar essa dança mais envolvente e prazerosa. E como já cantava Rita Lee: “Amor é Prosa, Sexo é Poesia.”
Então... Que não falte prosa e poesia onde os corpos se encontram!”
Luiz Xavier é Psicólogo Clínico, Terapeuta Sexual e Terapeuta de Casais