
Política pode ser um assunto árido, mas ganha em leveza quando elaborado por um conhecedor da matéria. O grande mérito do empresário Clóvis Vaz, por sinal, é transformar o que pode parecer chato e controverso em motivo de conversas agradáveis e elegantes. Esta habilidade torna suas missões um exercício para o desenvolvimento das relações humanas e sociais, além de constituir experiências inspiradoras.
A própria cidade ganha, em suas elaborações conceituais, uma dimensão socrática, e o diálogo institucional que ele estabelece se desenrola como um processo orgânico, articulado, para potencializar resultados mensuráveis e, por que não, plausíveis. Perde-se em seu horizonte de leitura dos fatos a dimensão do impossível e surgem com força a realidade e os entraves a serem superados.
Com mais de 35 anos de experiência em eleições brasileiras, italianas e na consultoria institucional e política, em mandatos parlamentares e de governos, Clóvis Vaz acumula uma série de ‘cases’ de sucesso que merecem destaque, sendo o mais recente, ter acompanhado de muito perto a campanha do atual prefeito de Piracicaba Helinho Zanatta (PSD), o qual ele também trabalhou para eleger.
Em seu histórico de aprendizado está já ter sido responsável pela Chefia de Gabinete e Assessor Especial na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e Diretor Legislativo na Câmara de Vereadores de Piracicaba. No Executivo, foi Secretário Municipal de Governo e Secretário Municipal de Saúde. Ocupou cargos de Dirigente Partidário Estadual e Nacional. Atualmente, presta assessoria institucional a organizações públicas e privadas, além de ministrar cursos e palestras que abrangem todo o universo político.
Para ter uma dimensão do personagem com quem estamos tratando, vamos conversar com o para as palavras do próprio Clóvis Vaz para esta entrevista ao Persona.
Como você se define como profissional?
Em poucas palavras, sou uma pessoa que gosta da política e sempre tive vontade de participar desse movimento social. Com 20 anos eu já era assessor na Câmara Municipal de Piracicaba. Inicialmente, assessorei o vereador Isaac Jorge Roston Jr. Foi um período de política intensa na cidade, devido à elaboração da Lei Orgânica do Município, e de muito aprendizado. Recordo que a Igreja Católica acompanhava de perto tudo o que acontecia no legislativo. Tanto é que certo dia o bispo dom Eduardo Koaik me perguntou o motivo de eu gostar tanto de política. Fui extremamente sincero. Afirmei que as pessoas de bem deveriam ocupar os espaços na vida pública, senão eles seriam ocupados pelas pessoas do mal.
Participar da elaboração da Lei Orgânica abriu portas?
Devido a isso, eu simplesmente fui convidado para ser diretor da Câmara, onde permaneci por seis anos. Porque passei a conhecer muito bem o que estava na legislação municipal e as regras internas do legislativo. Tudo era muito novo. Depois disso, fui para a campanha do então candidato a deputado estadual Roberto Morais. Com a eleição estadual ganha, trabalhei com ele como chefe de gabinete até 2010.
De quando é a ideia de ser empresário no segmento do marketing político?
Ainda em 2010 montei minha primeira empresa. Percebi que o segredo de uma campanha bem-feita e vitoriosa dependia de informações seguras e articuladas, porque processo eleitoral é complexo. Envolve várias expertises. As pessoas do ramo costumavam contratar empresa de pesquisa, estrategistas, equipe de marketing, analistas, tudo de forma independente, achando que isso representava um ganho. Mas ao fragmentar, a perda de informações ganhava dimensões críticas e nem sempre isso era percebido em tempo. Inclusive porque esses setores, que deveriam trabalhar de forma sincronizada, acabavam disputando espaço e poder entre eles, fazendo com que a campanha em si perdesse em eficiência. Pensei comigo: Vou montar uma empresa que concentre todas essas funções e que seja responsável pelas pesquisas de diagnósticos.
Você se torna, definitivamente, um homem do marketing político?
Sim. Eu enxergava um mercado aberto para empresas que pudessem administrar e definir ações a partir dessas informações, sem perda de conteúdo. Por isso, até hoje, só faço pesquisas qualitativas. Com as informações, defino as estratégias, que se resumem, essencialmente, em comunicação e articulação política. Isso se demonstrou modelo de sucesso. Tanto que ao longo dos anos, participei de 38 campanhas, sendo que em 35 delas saímos vitoriosos. Isso não só na região de Piracicaba, como também em outras cidades do Estado de São Paulo.
Nessa velocidade, você chegou às eleições italianas?
Esta foi uma experiência diferente, gratificante e muito rica. Assessorei e fiz campanhas para o senador e deputado italiano Fausto Longo – motivo de honra para mim. Tive a oportunidade de conhecer melhor as mazelas e as grandezas do parlamento italiano. Foi nesta fase da minha carreira que percebi também não só a importância, como a inevitabilidade do uso das redes sociais em um processo eleitoral. Devido às novas tecnologias de comunicação de massa, o processo eleitoral estava mudando em todo o mundo, inclusive no Brasil. E precisávamos estar preparados.
As redes sociais trazem uma revolução?
Não. Elas são apenas ferramentas que precisam ser devidamente calibradas e usadas, o que exige um estudo delicado do seu potencial de influenciar nos resultados. Porque elas são abastecidas de conteúdo que nós mesmo produzimos e pelo qual interagimos. Na prática, acredito muito na articulação política, no contato com as pessoas, com as entidades, com os setores organizados. Com esta articulação real, em alto padrão, as redes sociais vão apenas potencializar a comunicação que chega a cada eleitor. Se ela for bem-feita, lá na ponta, vai repercutir a mensagem desejada.
Como você tem analisado o cenário local e regional?
Minha última missão, até o momento, em termos de campanha, foi participar da eleição de Helinho Zanatta, com uma equipe que se demonstrou vencedora. Há anos venho afirmando que as eleições piracicabanas estavam claras. As pesquisas qualitativas indicavam que as pessoas queriam o novo, mas o novo com segurança. Helinho começou com 4% e ganhou a eleição de maneira espetacular. Porque ele foi o candidato que trabalhou intensamente para mostrar que era a novidade. É um cara resolutivo e sabe governar. É um gestor público extraordinário.
A eleição de Zanatta está muito ligada também ao trabalho de Alex de Madureira, não?
Com certeza. Eu considero o Alex um político do futuro. Eu não estou arriscando, eu estou afirmando: o futuro da política é Alex Madureira. Ele conseguiu compreender como funciona a política muito precocemente. É um jovem que tem o ‘time’ do processo e vai longe. É preparado e continua se aprimorando a cada dia. É muito bem relacionado com o governo estadual. Sabe fazer seu papel como ninguém. Eu diria que o Alex é o deputado de Piracicaba. Ele vai numa linha um pouco parecida com o que foi os primeiros mandatos do Roberto Morais. Roberto foi um grande deputado. Outro nome que segue esta mesma trajetória, é o prefeito de São Pedro, Thiago Silva. Um jovem que nunca perdeu uma eleição na vida. Foi três vezes vereador, duas vezes vice-prefeito e duas vezes prefeito. Isso tudo aos 43 anos. Tem uma visão regional impressionante. Ele trouxe São Pedro para o futuro.
Como você sintetiza o marketing político desenvolvido pela sua empresa, a Multipla?
É com essa visão diferenciada que ela atua no setor do marketing político. Até porque nós não trabalhamos só em campanha eleitorais. Eu tenho uma tese que é a de campanha permanente. O vereador, o deputado, o prefeito, precisam estar em campanha permanente. Aqui entra o trabalho de comunicação institucional da Múltipla. Essa é a nossa praia. Já trabalhamos para a Fiesp, PCJ, Simespi e tantas outras instituições que precisam de um trabalho nesse sentido. Aqui incluo também o Sindicado dos Metalúrgicos, que reformulou toda sua atuação por causa dessa nova visão. Wagner da Silveira (Juca) e sua equipe já perceberam que o sindicato tem que estar integrado com a sociedade, não só com os metalúrgicos, mas com toda a cidade. O Sindicato dos Metalúrgicos tem feito isso, de maneira muito eficiente.
Qual é a síntese dessa ópera?
Alguém precisa pensar o futuro da cidade. Você não pode deixar para o prefeito pensar o futuro, porque ele é tomado diariamente por demandas de toda a ordem. Então você tem que ter pessoas na cidade que pensem no futuro. Em nossa cidade, o PECEGE é um bom exemplo disso. Trabalha com vistas ao futuro. Onde estamos? Onde queremos chegar? Nesse processo, entram vereadores, deputados, intelectuais, empresários e movimentos sociais. As prefeituras precisam abrir espaços e ouvir essas forças. As cidades são formadas pelos seus moradores. Quais são suas demandas? Tivemos como grande exemplo em Piracicaba o ex-prefeito José Machado. Ele era um gestor que soube ouvir a população. Nem analiso o que ele fez ou deixou de fazer à frente do governo municipal. Mas era um homem sensível à realidade social. A Múltipla, seguindo esta lógica, continuará dando suporte aos trabalhos que ela já iniciou. Trabalhamos 24 horas por dia, porque a política é muito dinâmica. Se eu parar uma semana de acompanhar a dinâmica dos meus clientes, no mundo político, as falhas se atropelam e atropelam os meus clientes. Então eu tenho que estar muito antenado com o que acontece e me renovando.