UMA MISSÃO DIFÍCIL

Raiva e alívio fazem parte do fim de um relacionamento


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Mais apontamentos das aulas da pós-graduação ministradas pela professora, psicóloga e terapeuta sexual Arlete Gavranic. Acompanhem!

Terminar um relacionamento é uma missão difícil, principalmente quando a outra parte ainda está interessada e até mesmo apaixonada. Nesse momento são muitas as possibilidades: conversar abertamente, dar um tempo, romper efetivamente, sair aos poucos, dar canos, desculpas até cansar o outro. A outra forma é sumir: essa é a escolha de muitos, mas além de imatura é antiética: só mesmo quando a pessoa já vem tentando romper e sentindo-se sempre coagida ou chantageada a continuar. Aí uma sumida à francesa pode ser a solução para evitar enfrentamentos.

Mas existem preocupações que acontecem sempre que se tem que tomar decisões desse tipo: preservar a imagem social: se ele (a) sair falando mal de mim? e a intenção de não magoar o outro, principalmente se essa pessoa foi legal e teve um significado importante: afetivo, sexual, social e profissional na sua vida.

Mas, como fazer para não magoar o outro? Essa pergunta nos remete a “por que sempre temos que nos cobrar em agradar ou em não desagradar o outro?” Temos que ser “bonzinhos” sempre? É claro que não! Temos que ser éticos, o que significa sermos claros, não alimentar ilusões e nem desrespeitar a integridade do outro, seja com violência física, psíquica ou assédio moral. No entanto, é impossível achar que você ou qualquer outra pessoa consiga sair de um relacionamento evitando uma certa dose de raiva, mágoa, discordância, etc.

Namorados, noivos, cônjuges e amantes, sem exceção, vivenciam em alguma proporção a dor de uma perda ou o alívio do final de um relacionamento não mais satisfatório.

Relacionamentos sempre implicam em expectativa de vida e as pessoas podem, em seus processos pessoais, amadurecerem em sentidos diferentes, desenvolverem gostos diferentes, sonhos diferentes, resgatarem ou construírem desejos diferentes para si.

Não se pode julgar o desejo ou o amadurecimento da outra pessoa. Ninguém é obrigado a se manter em um relacionamento, se esse não é satisfatório ou não traz alegria, paz, desejo, equilíbrio; se não provoca a vontade de seguir em frente, ampliar horizontes e de construir juntos. É essa energia de vida e de afinidade que traz cumplicidade e alicerça um relacionamento.. Não são filhos, bens, sexo, culpas, medos e chantagens que impedem as pessoas de seguirem seu caminho.

Existem muitas frases que acabam sendo usadas na tentativa de arrumar uma saída mais fácil ou menos dolorosa para essa etapa de dizer “acabou”: “O problema não é com você”; “Tenho outras prioridades neste momento”; “Você é muito para mim”; “Preciso de espaço”; “É melhor sermos só amigos”; “Foi uma experiência legal/envolvente, mas não quero abandonar meus planos, profissão”, etc.

Ninguém se mantém em um relacionamento se não houver afeto, afinidade, desejo ou vontade de estar junto.

Muitas pessoas barganham para não saírem de relacionamentos, uns por afeto, outros por status, outros por bens, outros por medo... Muitos ameaçam com outras perdas, com escândalos, com os filhos, com família. Mas, para quê?

Aprender a ouvir o “não dá mais” ou “acabou” pode doer sim, mas é preciso ter maturidade para saber que a vida não vai parar e que existem outras pessoas e possibilidades de afeto.

Todo término abre novas oportunidades para recomeçar. E quanto menos lamentações, mais chance de viver prazerosamente outro começo.

Luiz Xavier é psicólogo clínico e terapeuta sexual.

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