Ao considerarmos os ciclos da vida e a proximidade do encerramento deste ano, sentimo-nos convidados a refletir acerca do que temos feito no decorrer dos doze meses, tanto quanto a aproximação do Natal nos suscita ponderações sobre nosso agir em relação aos ensinos e propostas de Jesus.
Basta-nos breve rememoração para percebermos que o mundo – reflexo e expressão de nosso estado interior – continua demasiadamente distante de tudo o que foi proposto, ensinado e exemplificado pelo Mestre. Parece que, após dois milênios, pouca coisa mudamos em termos de conduta, princípios e valores, haja vista o modo de vida predominante. Continuamos egocêntricos, orgulhosos, violentos, competitivos, arrogantes… e a lista parece tanto maior quanto mais analisemos a nós mesmos.
Se por um lado tem havido notáveis conquistas científicas e tecnológicas, trazendo conforto e multiplicando facilidades, continuamos, em grande parte, indiferentes ao sofrimento alheio, mesquinhos em nossos interesses, egoístas em nossas escolhas, imediatistas e materialistas, apesar dos rótulos religiosos que ostentamos. Nossa hipocrisia não difere significativamente daquela dos fariseus dos tempos bíblicos, assim como nossa brutalidade não se distanciou tanto da apresentada àquela época.
Se o Cristianismo se disseminou como instituição, atendendo, até os dias atuais, a diversos interesses (muitos dos quais mais humanos que espirituais), não penetrou suficientemente nos corações ou nas mentes, nem transformou a conduta, os valores e a vida de parcela significativa dos que se consideram cristãos. Isso se evidencia pela nossa conduta, pois nos mostramos capazes de agredir, perseguir e desrespeitar nossos irmãos sob os mais absurdos pretextos, contrariando frontalmente os postulados evangélicos.
Ao considerarmos a celebração do Natal, ela tem sido tão descaracterizada que se transformou em festa profana, na qual o sentido e o significado da mensagem crística são ignorados. Apesar dessa triste realidade, conforta-nos saber que estamos em constante processo evolutivo, graças ao qual tendemos, ainda que lenta e gradualmente, a sublimar impulsos e a educá-los, com vistas a um viver e conviver mais harmoniosos e saudáveis, a serem conquistados em futuro não distante. Estamos plenamente convictos de que caminhamos para tempos melhores, após o turbulento período de purificação em que nos encontramos. Nesse sentido, a compreensão e a aplicação da mensagem evangélica precisam ser ampliadas, a fim de assumirmos maior responsabilidade pela nossa vida, educando-nos pelas referências do Cristo, que nos pede, acima de tudo, misericórdia e perdão, bondade e amor.
A proximidade do Natal e do final do ano, desde que não sejam apenas práticas consumistas e festejos profanos, pode se converter em oportunidade de reflexão e renovação de propósitos para o ano novo. Sabe-se que nesta época a evocação de Jesus e de sua mensagem abre em nós possibilidades de recebermos, de modo especial, inspiração e forças para a renovação de nossa vida. A simples lembrança da figura sublime de Jesus nos ameniza a agressividade, nos pacifica o coração, nos predispõe à reconciliação e nos inspira a manifestarmos o melhor em benefício do próximo.
Apesar de nossa contumaz negligência, a inspiração do Cristo continua vertendo sobre toda a humanidade, aguardando que nos abramos a recebê-la, quando então poderemos sentir de modo mais pleno a vida abundante que nos foi anunciada e oferecida por ele.