Clécio Mello, piracicabano de 61 anos, cativou os brasileiros há uma semana, quando participou do quadro Quem Quer Ser um Milionário, do programa Domingão com Huck, apresentado por Luciano Huck. Frente a frente com o apresentador, o metalúrgico protagonizou uma vitória emocionante no jogo de perguntas e respostas, quando levou para casa uma bolada de R$ 500 mil. Clécio chegou à pergunta do milhão, mas bateu na trave. Ainda assim, é um campeão, que levou o nome de Piracicaba para a rede nacional de televisão.
A participação de Clécio chamou a atenção pelo fato de ele responder a todas as perguntas com calma, tranquilidade e convicção. Mesmo perguntas muito específicas, como “o que a Dendrologia estuda?”. Clécio atribui seu resultado ao gosto pela leitura e a curiosidade que adquiriu com o hábito. “Como dizia o saudoso Ariano Suassuna, quando perguntavam a ele se tinha o hábito da leitura, a resposta era ‘hábito não, tenho o prazer de ler’”, conta. “Quando alguma coisa me chama a atenção, me aprofundo mais pra saber sobre aquilo”, diz Clécio. A leitura, que sempre fez parte de sua vida, ganhou ainda mais protagonismo após se aposentar, em 2018. Clécio revela: “Sempre tive esse gosto, agora que tenho mais tempo leio um livro por semana”.
Clécio conta que sempre gostou dos jogos de perguntas e respostas, famosos na televisão. Também diz que sempre acompanhou o programa, e que a iniciativa da inscrição no jogo foi da filha, Patrícia, que o incentivou a se candidatar, e o resultado da incentivo da filha foi visto por milhões de brasileiros. “Foi uma delícia”, diz. Mesmo com a tranquilidade que passou ao responder as perguntas, na hora do “vamos ver”, o metalúrgico conta que passou por momentos de tensão no palco, de frente com Luciano Huck. “Lógico que bate um nervosismo porque quando se joga em casa não temos nada a perder e lá não tem margem pra erro”, afirma. “Os momentos mais tensos foram as perguntas nas quais precisei de ajuda, no telefonema”, completou.
Antes do sucesso na telinha, Clécio iniciou sua trajetória na metalurgia em 1979, como aprendiz de torneiro mecânico, emprego que conseguiu 15 dias após entrar no Senai. Trabalhou como operador de máquina CNC, até que em 1986, se tornou programador. Passou pela supervisão do setor de usinagem da empresa onde trabalhou, até que se tornou supervisor geral de produção. Todo esse caminho na mesma empresa, onde encerrou a carreira em 2018.
Agora, o desejo de Clécio é levar a família para conhecer a Itália, país que teve a oportunidade de conhecer em 1994, quando foi designado pela empresa onde trabalhou para fazer um curso de programação de uma máquina. Por lá, conheceu locais icônicos, como a Capela Sistina e o Vaticano. “Quando voltei, minha esposa me pedia pra contar e então eu falava: não dá pra contar, tem que ver, qualquer dia te levo”, conta. E para quem quer se aventurar em um jogo, assim como fez, Clécio recomenda: “se a pessoa é curiosa e gosta de saber essas coisas que o povo erroneamente chamava de cultura inútil, tome coragem, se inscreva e estude bastante”. Confira a entrevista de Clécio Mello ao Jornal de Piracicaba.
Primeiro, gostaria que o senhor contasse um pouco da sua trajetória como metalúrgico. Como começou nesta área?
Entrei no Senai em 1979 no começo de fevereiro e 15 dias depois já estava registrado e trabalhando como Aprendiz de Torneiro Mecânico, ficava junto com um profissional experiente e ia aprendendo, pouco tempo depois passei a oficial e trabalhava sozinho. Em 1985 a empresa adquiriu uma máquina programada CNC (comando numérico computadorizado) e fui um dos 3 escolhidos para trabalhar nela, fiz curso de operação e programação. Em 1986 deixei de ser operador e me tornei programador. No ano de 1996 me tornei supervisor do setor de usinagem pesada. Como gostava muito dessa parte de programação, não quis deixar de fazer e isso me acompanhou por toda vida, exercendo assim as funções de supervisor e programador. Com o passar do tempo me tornei supervisor geral de toda a produção. Com isso ocupava uma mesa na engenharia industrial da empresa onde fazia meus programas, meus serviços de engenharia e acompanhava a produção no chão de fábrica. Encerrei minha carreira profissional em 2018 quando saí da empresa
O senhor se destacou no quadro Quem Quer Ser um Milionário, do programa Domingão com Huck. Como decidiu participar do programa? O que foi necessário fazer? Já acompanhava o programa antes?
Sempre acompanhei o programa, sempre gostei desses jogos de perguntas e respostas. A iniciativa da inscrição foi da minha filha Patrícia, ela comentou comigo que precisava fazer um vídeo e descrever um pouco sobre mim, cidade, hobby, alguma curiosidade e porque gostaria de participar. Assim fizemos, a partir daí houve todo um processo, entre bate papos e alguns testes até chegar o momento de participar.
E como foi estar no palco do Domingão? O senhor impressionou pela segurança que passou ao responder às perguntas. Ficou nervoso durante o jogo ou foi tranquilo?
Foi uma delícia. Lógico que bate um nervosismo porque quando se joga em casa não temos nada a perder e lá não tem margem pra erro. O que ajuda bastante é o apoio que o pessoal responsável pelo quadro nos da , é um cuidado, um carinho, uma força que a gente recebe desde o momento que saímos de casa até o retorno. A gente não precisa se preocupar com nada, eles cuidam de tudo, nossa única preocupação é concentrar para manter a calma e responder as perguntas. Os momentos mais tensos foram as perguntas nas quais precisei de ajuda, no telefonema, por exemplo, são somente 30 segundos, é muito tenso.
O programa deu algumas perguntas bem específicas e bem curiosas, como o que a Dendrologia estuda. O senhor se considera uma pessoa curiosa? Acredita que esse foi um dos motivos para ter ido tão longe no programa?
Com certeza foi isso. Como dizia o saudoso Ariano Suassuna, quando perguntavam a ele se tinha o hábito da leitura, a resposta era "hábito não, tenho o prazer de ler".
Sempre tive esse gosto, falei pro pessoal, agora que tenho mais tempo leio um livro por semana e quando alguma coisa me chama a atenção, me aprofundo mais pra saber sobre aquilo
O senhor também já comentou que gosta muito de ler, e que lê um livro por semana. Quais os tipos de livros que o senhor mais gosta e quais são seus autores favoritos?
No tempo da escola era mais literatura brasileira, Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz. Passada essa fase veio o tempo dos romances policiais, li quase toda a coleção da Agatha Christie, é minha favorita. Gosto muito de Ken Follet , Irving Wallace , Stephen King , já li Gabriel Garcia Marques , Harper Lee , gosto de tudo.
E como foi a reação da sua família com o resultado do programa?
Todos ficaram muito felizes. Tenho uma rede grande de amigos e somos muito próximos, então parte da torcida era garantida já, com isso vinha uma certa pressão também pois, tinha um sonho de ir longe, mas sabia das dificuldades do jogo. Após o programa a família foi só alegria.
O senhor disse que um dos seus desejos é viajar com a família para a Itália. O senhor sempre quis conhecer a Itália? O que gostaria de conhecer no país?
Conheci a Itália em 94, quando fiz um curso de programação de uma máquina fabricada lá . Ficamos lá por cerca de um mês e nos finais de semana a gente passeava. Através de uma agência fiz um passeio chamado Roma Antiga e fiquei maravilhado. Fui ao Vaticano, capela sistina, e quando voltei, minha esposa me pedia pra contar e então eu falava: não dá pra contar, tem que ver, qualquer dia te levo.
Por fim, para quem gosta desse tipo de jogo e quer se aventurar, o que o senhor recomenda? Precisa estudar muito?
Recomendo à todos que gostam, é muito prazeroso. Se a pessoa é curiosa e gosta de saber essas coisas que o povo erroneamente chamava de cultura inútil, tome coragem, se inscreva e estude bastante.