O "fantasma do comunismo" é uma expressão que ganhou notoriedade no contexto da história política e filosófica, sendo particularmente associada ao Manifesto Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848.
A frase inicial do manifesto diz que "um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo". Foi o suficiente para que, até hoje, o tal "fantasma do comunismo" representasse um medo latente e uma ameaça da ideia do comunismo, enquanto movimento político e ideológico, em governos e classes sociais.
Em pleno 2024, o medo que um país se torne comunista ainda ronda na cabecinha oca de eleitores que nem sabem sequer o que comunismo de fato significa.
Eu vou ajudar: comunismo é uma ideologia política, econômica e social que propõe a abolição da propriedade privada dos meios de produção (como terras, fábricas e empresas) e a criação de uma sociedade igualitária, onde os recursos e riquezas são compartilhados coletivamente.
O medo de que o Brasil se torne comunista foi usado durante a ditadura militar (1964-1985) como justificativa para o golpe de 1964 e as ações autoritárias do regime.
O temor era manipulado, principalmente no contexto da época, no auge da Guerra Fria, período de tensão entre os Estados Unidos (capitalismo) e a União Soviética (comunismo). E também após a Revolução Cubana (1959), que transformou Cuba em um país socialista aliado à União Soviética.
É claro que o medo do comunismo encontrou apoio em setores conservadores da sociedade, principalmente com a Igreja Católica, temerosíssima que o comunismo fosse uma ameaça aos valores cristãos e às tradições sociais.
Mas apesar de qualquer justificativa, o Brasil nunca esteve perto de se tornar comunista. Mesmo assim, nas últimas eleições, o "fantasma do comunismo" seguiu presente na fala de extremistas que querem, com o tal argumento, evitar que políticos mais progressistas se elejam.
O ex-candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, chegou a dizer, em um dos debates ocorridos no primeiro turno das eleições de 2024, que, tirando ele, todos os outros que pleiteavam o cargo faziam parte de um “consórcio comunista”. E olha que entre eles estavam nomes de partidos como o MDB, de Ricardo Nunes, e o PSDB, de José Luiz Datena. Mais capitalistas que eles…
Há quem jure de pé junto que o "fantasma do comunismo" anda puxando nosso pé. Outro dia, ouvi um áudio que a mãe de uma amiga minha enviou para ela. Nele, dizia estar aflita, pois, se o Lula ganhasse as eleições, o comunismo iria se instaurar no Brasil.
Pedi que ela respondesse à mãe perguntando o que era comunismo. A resposta veio vaga, basicamente dizendo ter sido o pastor quem a alertou no culto de que “era algo ruim para o Brasil”.
Não que eu precise ou queira defender países que adotaram o regime comunista, muito pelo contrário, mas o PT ou o Lula, especificamente, nunca foram ou serão comunistas.
Basta ver o seu primeiro mandato (2003-2010), quando os bancos lucraram 279,9 bilhões de reais, oito vezes mais que os 34,4 bilhões de reais em lucros durante o mandato do antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Bem comunista, não é mesmo?
E se fossemos pensar nos países comunistas hoje no mundo, os primeiros que vêm à cabeça são China e Coréia do Norte, que não são lá muito fãs da democracia. Como então o PT, comunista como dizem tais línguas, deixou o poder com tanta facilidade quando perdeu as eleições ou sofreu um impeachment?
Pelo que eu saiba, nunca encontraram nas mãos de petistas uma minuta de golpe de estado ou um plano para assassinar opositores que venceram as eleições. Fica a dúvida. Seria o tal "fantasma do comunismo" tão assustador assim ou apenas parte de um filme de terror barato que querem vender como “blockbuster”?