ARTIGO

O que buscar primeiro


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Em relação a nossos anseios e preocupações, se reconhecemos a validade dos ensinamentos de Jesus, cabe refletirmos acerca de sua recomendação: “Não vos inquieteis por vossa vida, com o que comereis; nem por vosso corpo, com o que vestireis”….“Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo”. Com essas palavras, o Mestre recomendou-nos procurar o essencial à nossa realização espiritual e garantiu que, assim procedendo, todas as necessidades nos seriam supridas.

Se considerássemos essas, como as demais afirmativas de Jesus verdadeiras, ou seja, se fôssemos seus seguidores não segundo convenções humanas mas de acordo com os critérios do próprio Mestre, nossa vida seria completamente diversa do modo como a temos vivido, pois muitos dos nossos atos desmentem nossa confissão de fé. Será que praticamos suas recomendações em nossa vida cotidiana?

Na maioria das vezes corremos atrás do que é secundário e negligenciamos o essencial ao espírito. Sempre prontos para as conquistas materiais, resistimos à busca daquilo que nos purifique, ilumine e liberte. Geralmente buscamos destaque social, vantagens financeiras, títulos acadêmicos, poderes mundanos, enquanto nossa realidade essencial permanece negligenciada, até que, diante de insuperáveis sofrimentos, lembramo-nos de procurar socorro espiritual.

Buscar o reino de Deus pode ser compreendido como o processo através do qual, após a remoção das sucessivas camadas do ego, descobrimos e revelamos nossa essência pura, divina, luminosa. Todos aqueles que alcançaram esse nível se transformaram por completo, mudando condutas, valores e prioridades, passando a agir segundo critérios de natureza espiritual, sempre em benefício dos demais seres.

Nossas aspirações revelam nossa real religiosidade, pois frequentar templos e participar de cerimônias e rituais é destituído de sentido se não representar uma genuína busca de autotransformação. Estamos saturados de aparências e carentes de essência; repletos de conceitos e vazios de amor; cheios de ostentações que nos encobrem o vazio interior. Se nos autodenominamos cristãos, podemos verificar se realmente o somos, mediante um sincero exame de consciência. Buscamos em primeiro lugar as coisas do espírito e o cumprimento da vontade divina a nosso respeito? Procuramos nos tornar instrumentos da sabedoria e do amor divinos em benefício do próximo, seja ele quem for? Servimo-nos dos recursos de que dispomos como ferramentas de promoção do bem comum? Parece-nos que a resposta a essas perguntas define se somos discípulos do Mestre ou se preferimos repetir a hipocrisia farisaica apontada por ele.

Os textos religiosos das mais diversas tradições recomendam que se dê atenção prioritária àquilo que concerne ao espírito, lembrando-nos que somos consciências em breve passagem pela dimensão física, condição a ser aproveitada como oportunidade de realização interior.

De acordo com leis que nos regem a vida e o destino, se cumprirmos os propósitos superiores para os quais estamos neste mundo, teremos todas as nossas reais necessidades satisfeitas, inclusive as de natureza material (o que não significa, obviamente, a satisfação de nossos desejos, caprichos e ambições egocêntricos).

Seguir a referida recomendação de Jesus acerca das necessidades materiais é, pois, um convite ao exercício e à manifestação da fé e da entrega aos desígnios divinos que proveem tudo aquilo de que necessitamos para alcançarmos a plenitude existencial.

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