TECNOLOGIA NO CAMPO

'Conectividade rural é benéfica', diz professor da Esalq premiado

Por Roberto Gardinalli | roberto.gardinalli@jpjornal.com.br
| Tempo de leitura: 6 min
Divulgação

Vencedor do prêmio Fundação Bunge de 2024, que valoriza a produção científica e a pesquisa brasileira, o professor titular da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) Durval Dourado Neto possui uma extensa carreira na ciência. Com o tema “Desenvolvimento e uso de tecnologias e conectividade acessíveis para a sustentabilidade no campo”, sua pesquisa vencedora do prêmio deste ano mostra outra face do agro brasileiro, para além do plantio e fertilidade das terras produtivas.

“Além de disponibilizar tecnologia que gera riqueza, a conectividade rural possibilita melhorar a gestão do negócio, preservar o ambiente, melhorar a educação e criar empregos no campo”, conta o pesquisador.

Graduado em Engenharia Agronômica em 1984 pela Universidade Federal de Viçosa, Durval Dourado Neto é mestre em Agronomia, com foco em Irrigação e Drenagem, pela Esalq, e tem passagens por universidades mundo afora, como a ICTP, em Triese, na Itália, além de Pós-Doutorado em física do solo concluído na Universidade da Califórnia. Ao todo, a carreira do cientista abrange estudos em 53 países. Atualmente, é coordenador do Grupo de Políticas Públicas (GPP/USP) e do Centro de Agricultura Tropical Sustentável, da Universidade de São Paulo (STAC/USP).

A pesquisa desenvolvida pelo grupo coordenado por Durval Dourado Neto, além da importância para o agronegócio no geral, fornece dados importantes para o Governo Federal, que são usados na elaboração de políticas públicas voltadas à conectividade no campo e como a tecnologia pode aumentar os ganhos produtivos dos trabalhadores. “O governo tem apoiado estudos sobre o aumento da conectividade no campo, gerando ganhos aos produtores, com efeito do aumento de lucratividade (otimização de processos visando o aumento de produtividade com redução de custo) decorrente da expansão na cobertura da internet”, diz. “Quando associado à ampliação do uso de insumos, potencializa o crescimento da produção agropecuária”, completou. “O reconhecimento incentiva a manutenção desses estudos abrangentes que apresentam grande impacto na sociedade”, finalizou”. Confira a entrevista com o professor Durval Dourado Neto ao Jornal de Piracicaba.

Primeiro, gostaria que contasse um pouco da sua trajetória na sua área de atuação e, também, como professor na Esalq, em Piracicaba.
Conclui a graduação em Engenharia Agronômica em 1984, na Universidade Federal de Viçosa, Mestrado em Agronomia (Irrigação e Drenagem) pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (1989), Especialização em Física do Solo pelo International Centre for Theoretical Physics (ICTP) [Trieste, Itália] (1989), Doutorado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade de São Paulo (1992), e Pós-Doutorado em física do solo e modelagem em agricultura junto à Universidade da Califórnia (1995). Com experiência profissional de abrangência nacional e internacional em 53 países, tenho trabalhado fortemente na área de modelagem em agricultura desenvolvendo tecnologias diversas, como conectividade acessível para a sustentabilidade no campo, com o objetivo de otimizar o uso de recursos naturais e insumos para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Sou professor da Esalq/USP desde 1989, lecionando disciplinas em cursos de graduação (mais de 6000 Engenheiros Agrônomos) e pós-graduação (orientador de cerca de 140 Mestres e Doutores), e assumindo diversos cargos de gestão como Chefia de Departamento, Coordenação de Pós-graduação, Vice-Diretor, Diretor. Atualmente sou Coordenador do Grupo de Políticas Públicas (GPP/USP) e do Centro de Agricultura Tropical Sustentável, da Universidade de São Paulo (STAC/USP), criado recentemente pelo Professor Doutor Carlos Gilberto Carlotti Júnior (Reitor da USP).

O senhor foi premiado na categoria Vida e Obra no tema “Desenvolvimento e uso de tecnologias e conectividade acessíveis para a sustentabilidade no campo”. Como o senhor vê esse reconhecimento para o seu trabalho e, também, para a Esalq como um todo?
É uma honra esse reconhecimento à Universidade de São Paulo. Junto com o Grupo de Políticas Públicas (GPP/USP) que coordeno, onde participam diversos profissionais dedicados, buscamos caracterizar (conhecer) a demanda e oferta (realidade) de conectividade no campo, no intuito de subsidiar Políticas Públicas para melhorar a conectividade rural com o objetivo de melhoria da qualidade de vida das pessoas. Além de disponibilizar tecnologia que gera riqueza, a conectividade rural possibilita melhorar a gestão do negócio, preservar o ambiente, melhorar a educação e criar empregos no campo. A conectividade rural proporciona a inclusão digital com impactos benéficos sustentáveis muito significativos nas esferas econômica, social e ambiental.

Hoje, o senhor coordena o Grupo de Políticas Públicas que executa trabalhos em diversos temas ligados ao desenvolvimento do agro. Um deles, diz respeito à conectividade, importância da digitalização da agricultura e reflexos na produção e bem-estar dos produtores. Com a sua pesquisa, é possível dizer que o Brasil avançou nesse sentido? Como é, hoje, a relação dos agricultores com a conectividade?
Podemos afirmar que o primeiro passo para avançamos é conhecermos a nossa realidade. Para tal, torna-se necessário caracterizar a demanda e a oferta de conectividade. O segundo passo é estabelecer a solução estratégica por intermédio de inteligência territorial subsidiando o Estado brasileiro de informações para estabelecimento de Políticas Públicas de curto, médio e longo prazo, com objetivos estratégicos diversos, utilizando modelos mecanísticos (modelos inteligentes que simulam os mecanismos de funcionamento que regem os processos de interesse) estocásticos (análise de risco que incorpora probabilidade de sucesso das intervenções estratégicas) com abordagem Sustentável de acordo com as atuais demandas da sociedade. O terceiro passo é estabelecer políticas para viabilizar a execução. Há muito o que fazer com a ampliação da conectividade rural no aspecto econômico (geração de riqueza), no aspecto social (geração de empregos), e no aspecto ambiental (preservação).

Em um mundo conectado, o sinal de internet hoje é uma necessidade em todos os segmentos da economia mundial. Hoje, regiões importantes para o agro brasileiro, como o Centro-Oeste, têm 76% da área sem sinal ou sinal ruim para 3G e 82% da área sem sinal ou sinal ruim de 4G. O que é necessário para que essas lacunas no sinal de internet nessas regiões sejam preenchidas?
Desenvolver Política de Estado que invista permanentemente em ciência e tecnologia para constante atualização da solução estratégica conforme os estudos realizados pelo GPP/USP. O redimensionamento do sistema, o monitoramento, e o interesse de intervenção pública e privada precisam ser constantemente revistos com critério científico.

As pesquisas desenvolvidas pelo senhor e pelo seu grupo também ajudam a subsidiar o governo para a implementação de programas de conectividade e plataformas digitais. Hoje em dia, como o governo tem atuado para atender a essas demandas do agro por conectividade?
O governo tem apoiado estudos sobre o aumento da conectividade no campo, gerando ganhos aos produtores, com efeito do aumento de lucratividade (otimização de processos visando o aumento de produtividade com redução de custo) decorrente da expansão na cobertura da internet. Quando associado à ampliação do uso de insumos, potencializa o crescimento da produção agropecuária. Os resultados do estudo “Cenários e perspectivas da conectividade para o agro” mostraram que a instalação de antenas em 4.400 torres já existentes, em conjunto com o posicionamento de aproximadamente 15.182 antenas, resultaria em uma cobertura satisfatória da necessidade de conexão rural do Brasil. Com o avanço dos estudos, é possível identificar as lacunas e contribuir para alternativas de aumento de produtividade, com menor impacto ambiental, maior geração de emprego e melhoria da educação e renda e, consequentemente, da qualidade de vida.

Por fim, na sua opinião, qual é o nível da pesquisa e produção científica brasileira atualmente? Como vê a importância de prêmios como esse, da Fundação Bunge, na valorização da ciência nacional?
O Prêmio Fundação Bunge vem valorizar o que a Universidade de São Paulo tem realizado na área de Pesquisa e Desenvolvimento de tecnologias para melhoria da conectividade, visando atender as demandas da sociedade. O reconhecimento incentiva a manutenção desses estudos abrangentes que apresentam grande impacto na sociedade.

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