COMURBA 60 ANOS

Piracicabanos relembram tragédia: ‘escutei minha mãe gritando'

Por Roberto Gardinalli | roberto.gardinalli@jpjornal.com.br
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“Naquela época, eu tinha 7 para 8 anos. Estava brincando no Grupo Prudente de Moraes com os meus amigos. De repente, escutei um barulho muito forte, e veio uma poeira que a gente não enxergava um ao outro a um metro. Escutei minha mãe gritando meu nome, ela veio correndo e me abraçou”. A lembrança é de Palmiro Romani, hoje artista plástico, que naquele dia 6 de novembro de 1964 presenciou a transformação do Edifício Luiz de Queiroz, popularmente chamado de Comurba, em poeira. A construção do Edifício Luiz de Queiroz começou no final da década de 1950, sendo que 14 dos 15 andares estavam prontos. Porém, apenas o Cine Plaza, no andar térreo, estava em funcionamento, o que diminuiu o impacto quanto ao número de mortos.

O hall do prédio, porém, chegou a abrigar algumas exposições culturais. “Eu me recordo de ter ido com meus pais uns dias antes, ver uma exposição de bonecos de cera ali no hall. Até lembro que fiquei impressionada com as réplicas das cabeças do Lampião e Maria Bonita. Quando o prédio caiu, e as brigadas começaram a retirar os escombros,  encontravam os bonecos de cera e os confundiam com pessoas”, relembra a escritora Ivana Negri. “Eu estava em aula, do Primeiro Científico no Colégio Piracicabano, e escutamos um ruído muito forte, parecido com o ronco de um avião a jato, passando por cima do centro da cidade, aí corremos até o gradil de dívida com a Rua Boa Morte,  olhamos para os lados da praça José Bonifácio, e presenciamos uma nuvem branca sob a praça, logo em seguida gritaram ‘o Comurba que caiu’, aí a aula terminou”, contou Oswaldo Cesar Dedini Capellari, de 79 anos. “Fomos até a praça demos uma olhada, e cada um foi pra sua casa”, completou.

“Minha mãe ficou super preocupada porque meu pai fazia banco, estava no centro, perto do prédio. Minha mãe correu para ligar para o meu pai. Ele atendeu, disse que estava tudo bem, mas que estava um alvoroço o centro. Eu lembro até hoje desse dia”, contou Romani. “Tive uma professora que era muito linda, mas tinha um lado do rosto marcado por cicatrizes. A família dela era dona da Casa Portuguesa e eles moravam nas adjacências do Comurba”, conta Ivana.

Apesar de ser uma das tragédias mais emblemáticas da história de Piracicaba, quem viu ainda acha que o histórico deve continuar sendo lembrado. “Se você perguntar para um jovem hoje, ele não sabe que existiu o Comurba”, diz Romani. “Quando escrevi a ‘Lenda da Cobrona na Catedral’ para crianças, lenda essa que diz que a Cobrona fica sob a Catedral e de vez em quando chacoalha a cauda, acrescentei que pode ter sido essa a causa da queda do Comurba.oi uma maneira de passar para as crianças esse fato que aconteceu muito antes delas nascerem”, finalizou Ivana.

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