“Está ruim, mas está bom” é uma expressão que contém a coexistência do bom e do ruim em um equilíbrio instável. Ela revela uma adaptação psicológica a circunstâncias adversas, onde o que é considerado bom não é o ideal, mas sim o que é possível ou aceitável dentro de limitações. O que é bom pode se manifestar em momentos de paz relativa, segurança mínima ou na sobrevivência em meio a dificuldades. O que é ruim, surge de restrições econômicas, injustiças sociais ou falta de perspectivas de mudança.
A frase aparece quando as condições poderiam ser piores ou quando qualquer reação parece inútil ou arriscada. Ela expressa uma aceitação resignada, uma forma de consolo que valoriza o que é positivo, mesmo que o negativo prevaleça. Esse mecanismo de defesa psicológico evita o desespero, mas pode levar à complacência.
A origem exata da expressão é incerta, mas ela parece ter raízes culturais profundas, especialmente em regiões onde as dificuldades são constantes e as pessoas aprenderam a valorizar pequenas vitórias ou a manter a esperança em cenários desafiadores. Comum no Brasil, essa expressão tem paralelos em outras culturas que enfrentam desafios semelhantes.
Esse estado de consolo é mais aceito em sociedades onde o sofrimento é rotineiro e as expectativas são baixas. Essa resignação pode ser prejudicial quando impede o progresso, perpetuando ciclos de pobreza, injustiça e estagnação. O consolo e a resignação oferecem conforto imediato, mas podem inibir a busca por melhorias necessárias.
A frase “tudo igual, mas muito melhor” reflete uma tentativa de ver o lado positivo em um cenário que essencialmente permanece o mesmo, mas que é interpretado de forma mais otimista. Isso pode ser visto como uma racionalização do “está ruim, mas está bom”, onde a melhora é percebida mais na atitude do que nas circunstâncias objetivas.
Esse tema é genuíno porque reflete a realidade vivida por muitas pessoas que, diante da impossibilidade de mudar o contexto atual, encontram maneiras de se adaptar emocionalmente. “Deixar como está para ver como é que fica” pode ser colocada ao lado de “está ruim, mas está bom” como uma filosofia de vida que prioriza a manutenção da estabilidade, mesmo que precária, ao invés de arriscar mudanças incertas.
Na política, o tema reflete a falta de esperança na capacidade dos líderes de promover mudanças significativas. “Tudo continua do mesmo jeito” ressoa em momentos de desilusão, quando a expectativa de melhorias é baixa. No entanto, sempre há esperança de que a condução dos problemas públicos possa melhorar, mesmo que essa esperança seja frágil.
A globalização traz vantagens como acesso a novas tecnologias e ideias, mas também exige sacrifícios em termos de identidade cultural e soberania econômica. Esses sacrifícios podem aumentar o sentimento de que “está ruim, mas está bom”, ao criar novas desigualdades ou intensificar as já existentes.
Se não estiver bom, reclamar pode ser uma forma de resistência, mas o impacto disso depende de quem ouve as reclamações e de quais ações podem ser tomadas. Em muitas situações, o consolo é admitido como a única opção, o que levanta a questão de como romper esse ciclo.
“Está ruim, mas pode ficar pior” é uma possibilidade realista que alimenta a aceitação do contexto atual, enquanto “está ruim, mas está bom” pode permanecer como uma expressão de adaptação, mas não necessariamente de progresso. “Está bom, mas vai ficar melhor” é a nossa esperança, uma expressão que, ao contrário de “está ruim, mas está bom”, carrega a promessa de que o futuro pode, e deve ser melhor do que o presente.
Como fica a satisfação humana nesse contexto? Muitas vezes, ela é suprimida em favor da sobrevivência ou estabilidade. Substituída por uma aceitação resignada, a satisfação humana pode ser limitada, comprometendo o crescimento pessoal e coletivo. Para alcançar uma satisfação genuína, é necessário enfrentar desafios e buscar melhorias reais, tanto no presente quanto no futuro. A incerteza continua!
Walter Naime
Arquiteto-urbanista
Empresário.