ARTIGO

O fim estava próximo


| Tempo de leitura: 3 min

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Ainda de setembro de 1932, jornais de Piracicaba traziam ânimos aos conterrâneos que empunhavam armas pela causa constituinte na Revolução iniciada em 9 de julho daquele ano. Eis que em 2 de outubro, as lideranças paulistas cedem e firmam armistício com as forças federais de Getúlio Vargas. Acaba o último conflito armado em solo brasileiro movido pelos paulistas que exigiam uma nova Constituição, a qual viria dois anos depois.
O fim do levante civil pegou todos de surpresa. Em 2 de outubro de 1932, jornais locais – O Momento, Gazeta de Piracicaba e Jornal de Piracicaba – ainda traziam artigos para elevar o moral dos cidadãos que por aqui se dedicavam aos voluntários piracicabanos. Eram duas frentes: as dos piracicabanos que foram ao conflito armado e os piracicabanos e piracicabanas que aqui ficaram e atuavam como cozinheiros, enfermeiras, costureiras e outras formas de mão de obra para garantir o abastecimento das tropas. A partir de 3 de outubro, nenhuma nota mais foi publicada sobre a Revolução. Pudera ! Com seu fim, o estado de São Paulo passou a sofrer retaliações com a deportação para Portugal dos líderes que estavam na capital paulista. Começavam as retaliações, os julgamentos questionáveis, o medo social ...
Por volta do dia 12, pequenas notas nos jornais faziam referências aos piracicabanos que retornavam aos seus lares. Há depoimentos de que alguns que pegaram em armas pensando em conseguir emprego no caso da vitória paulista. Triste realidade, pois, a cidade afundava-se com a falta de insumos desde a farinha para o pão ao combustível para os veículos. Era necessária uma reconstrução local. Não a toa, o comércio se fortaleceu encontrando a necessidade de união criando sua associação comercial exatamente em julho de 1933, um ano após o início da Revolução.
Jornais locais passavam a ouvir os piracicabanos que retornavam. Alguns acusavam companheiros como pode ser visto nas páginas dos matutinos de então, com direito a réplica, tréplica, quadruplica e assim por diante, num incessante bate-boca popular. Houve manifestações, missas em homenagens aos falecidos e constituição de comissões para criar o jazigo do Soldado Constitucionalista no Cemitério da Saudade. O Monumento na Praça 7 de Setembro, só viria no dia 6 de setembro de 1938.
O sentimento, a honra a honestidade eram diferentes na época. Pode notar-se isso na carta de Antonio de Mattos, pertencente à Coluna do Ten. Cel. Romão Gomes: “Eu recusei promoção a sargento porque acho que não tenho competencia. Quero servir a S. Paulo, como soldado mesmo” (Gazeta de Piracicaba, 28/09/1932).
De 30 de setembro a 4 de outubro, silêncio geral. A Gazeta de Piracicaba em 5 de outubro traz mensagem de moradores de Campinas que se refugiaram por aqui, agradecendo a hospitalidade, pois a cidade foi bombardeada pelo ar e em Piracicaba encontraram a paz neste período turbulento. No agradecimento, acreditavam que estava no momento de retornar para a cidade natal. 
Dia 6 de outubro, também na Gazeta: “Começam a chegar os primeiros legionários do Ideal, os soldados conscientes da Liberdade, que deram tudo o que podiam dar para reintegrar a Patria na communhão da Lei, da Justiça e do Direito”. 
Moral elevado: “E elles chegam – nos olhos o brilho de um enthusiasmo que não esmoreceu – para o aconchego carinhoso da família, para o convívio acalentador dos amigos. Piracicaba, berço do civismo, cidade tradicional que sempre foi vanguardeira nos grandes movimentos de opinião que visaram engrandecer o Brasil, Piracicaba, meiga e carinhosamente recebe com flores os seus filhos queridos, que sempre a fizeram grande e respeitada. Uma multidão incalculavel, toda a sua população, espera nos gares das nossas ferrovias a chegada dos comboios que conduzem os phalangiarios heroicos e bravos da mais nobre elevada causa que jamais se agitou no scenario da nossa vida politica. Partiram sob o olhar maternal e confortados pelo enthusiasmo quente da mãe carinhosa que, agora, no seu regresso – que é glorioso como foi a sua partida – os recebe entre abraços e acclamações. Piracicaba, altiva e patriota, ainda uma vez é digna das sua tradicções gloriosas”. Autoria desconhecida, da redação daquele jornal.

Comentários

Comentários