ARTIGO

Filhos, filhos...


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Ah! Vinicius, Vinicius... De Moraes. Sentimento humano algum deve haver não tenha, ele, sentido, vivido e externado. Com seu canto e seu pranto. Com sua poesia, seus versos; com sua música e estro. Quem – além dele – diria do amor encontrado: “que não seja imortal, posto que é chama; mas que seja infinito enquanto dure”? Quem? Neruda, talvez?  
    Pois é. Vinicius deveria ter poetado ainda mais sobre rimas inseparáveis: amores e dores, dor e amor. Dores de amores, dor de amor; amores dolorosos, dores amorosas. E, na verdade – em nome dessa estranha raça masculina – deveria revelar que, por mais rústicos sejam, pais há, sim, com coração de mãe. Fingem, disfarçam. Mas têm. Se olhos foram treinados para evitar lágrimas, o homem derrama-as dentro do coração. E, quando desaba de dor, mal sabe ou consegue reerguer-se. No entanto, é obrigado a conviver com essa farsa de “sexo forte”. 
    Retomo, porém, esse misto de nostalgia e de saudade que, à simples lembrança de Vinicius, acelera a respiração. Sim, nostalgia de um tempo feito de encantos, de lugares simples, mas reconfortantes; de pessoas inesquecíveis. E uma saudade doce, sem amarguras, trazida por lembranças que se não desfazem jamais. Não se trata de um “querer outra vez”. Trata-se de agradecer, de sorrir ao lembrar, de reconhecer-se privilegiado diante do que viveu. Pois tristezas, fracassos, tolices, erros, equívocos ficam ocultos sob algum tapete da alma. E a inteligência, providencialmente, reluta em revivê-los. O amargor não deixa saudade. A doçura, sim. 
    Mas, ah! Vinicius, Vinicius... Para reconfortar-me, ele vem em meu auxílio quando penso em filhos e netos. Como estão, por que viajam, que loucura não morarem comigo, todos nós na mesma cidade? E quando ficam doentes? Neles, até um resfriado, uma gripezinha traz o medo terrível de uma pneumonia. E os machucados, os tombos, as brigas entre si? E a adolescência que, em nosso lar, aconteceu quase que com todos eles, os cinco, ao mesmo tempo? Choro interminável e chantagista de crianças; noites mal-dormidas ou nem-dormidas; hora de dormir, hora de acordar; hora de almoço, hora de jantar; hora de levar à escola, hora de buscar... Momentos de raiva, de sair correndo, de fugir, de desaparecer; apertos financeiros, festinhas de aniversários, deles e dos amiguinhos; angústias de Natal, reuniões com tios, avós, parentes; reclamação da escola, limpar bumbuns, discussões conjugais, “vou contar pro seu pai”, “vá falar com sua mãe”...
Mas, por que cresceram, deixando de ser crianças tão rapidamente? Ora, mas isso parece o “querer outra vez”! Mas não quero. Porém, de quando em quando, quero. Criei-os para a vida e para o mundo e eles acreditaram nisso. E foram-se. Seguiram o ritmo da vida. Sei disso, pois o mesmo eu o fiz com os meus pais. No entanto, tinha, realmente, que ser assim? Amar dói simplesmente por ser amor. E amar à distância, sem tocar, nem beijar e abraçar? E contentar-se – mesmo que quase diariamente – em vê-los e conversar por uma telinha de celular?   
    Uma das conclusões – já quase ao fim da jornada – é a de que, em havendo uma outra vida, eu deixaria de fazer e de viver muito e muito do que fiz e vivi. Reconheço tolices, bobagens, burrices que, em cada época, pareceram-me corretas. 
Mas... E meus filhos? E se eu não os tivesse comigo? Como viveria, eu? 
    Vinicius poetou sabiamente: “Filhos? Melhor não tê-los! / Mas, se não os temos, como sabê-lo? (...)/ Chupam gilete, bebem xampu, ateiam fogo no quarteirão/ Porém, que coisa, que coisa louca, que coisa linda, que os filhos são!”

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