ARTIGO

Despertar para vida


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A condição humana, sob uma visão evolutiva, é transformação incessante, e nesse processo a consciência atravessa etapas sucessivas de desenvolvimento. Nos passos iniciais dessa longa trajetória que temos trilhado como humanidade, predomina a identificação com expressões materiais da vida, em seus aspectos instintivos, biológicos. Em etapas posteriores, desperta-se para as realidades psicológicas – emocionais e mentais – até se atingir a consciência espiritual, que abarca e transcende as demais dimensões.
Inicialmente dominados pelos instintos agressivos, remanescentes de nossa ancestralidade, somente a pouco e pouco temos adquirido controle sobre os próprios impulsos, aprendendo a canalizá-los para finalidades construtivas e elevadas. 
À medida que o despertar consciencial prossegue, fruto da maturação interior, gradualmente se percebe a vida em sua realidade mais profunda, transcendente. Como parte das mudanças comportamentais positivas decorrentes desse despertar, passa-se a reconhecer e reverenciar a vida em todos os seres, planos e mundos. Um dos indicativos da expansão da consciência é o reconhecimento da presença divina em tudo e em todos, mesmo naqueles que ainda desconhecem sua própria natureza.
Ser plenamente desperto, Jesus afirmou: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João 14:2). Se a casa do Pai é o Universo, as infindáveis moradas são os mundos que o compõem. Só existem moradas onde há moradores, portanto o próprio Mestre esclarece quanto à multiplicidade de mundos habitados. Essa afirmação pode ser compreendida como alusiva aos mundos espalhados pelo espaço sideral, tanto quanto em relação aos diferentes níveis de consciência em que vive cada um.
Os indivíduos espiritualmente maduros revelam uma concepção ampliada da vida e do Universo, por haverem trilhado caminhos que ainda não percorremos. Têm consciência de sua realidade espiritual, transitoriamente habitando a dimensão física. Penetraram em dimensões mais profundas e amplas da vida, por isso têm sido considerados mestres e profetas, santos e sábios. Conscientes das realidades transcendentes da vida reconhecem-se, tanto quanto aos demais, na sua essência divina, manifestando genuína fraternidade e respeito pela vida sob todas as suas formas, por isso são invariavelmente bondosos e pacíficos.
Ensinam-nos eles que cada um, mediante esforços e práticas, superação de impulsos primitivos e vícios, ao lado da conquista de virtudes e da purificação do próprio ser – após o atual estágio neste planeta – se habilitará a ingressar em mundos ou dimensões cada vez mais sutis, elevados e perfeitos, segundo as leis de sintonia e de causa e efeito.
Nessa jornada, as religiões e filosofias espiritualistas – desde que corretamente compreendidas e restauradas em relação ao que lhes foi acrescentado, omitido ou distorcido por interesses escusos –, podem funcionar como roteiros libertadores, facilitando o despertar espiritual de cada um.
Quem passa por esse processo reconhece não somente a vida em sua universalidade mas também sua sacralidade. O ápice desse processo permite a alguém amar seus inimigos, não os considerando como tais, reconhecendo-os como irmãos temporariamente equivocados, conforme a proposta evangélica. Despertar para essa realidade é, portanto, um processo verdadeiramente educativo, pois quem passa por ele torna-se mais cooperativo, fraterno e pacífico, apto a colaborar verdadeiramente com as transformações que se fazem urgentes no mundo.

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