A história de Piracicaba é cheia de surpresas e curiosidades. Com setembro chegando, fomos aos velhos alfarrábios saber o que ocorreu nos últimos séculos aqui na Noiva da Colina. Na verdade, chegamos um tanto longe destes 200 anos, até porque a história vivida foi registrada apenas em atas manuscritas pela Câmara de Vereadores. Livros, diários, revistas ... eram raridades no século retrasado. Fotos, então, nem se pensar.
Mas vamos a alguns acontecimentos que hoje soam como curiosos, bebendo na fonte de pessoas como Leandro Guerrini, Samuel Pfromm Neto e almanaques de época.
Aliás, setembro fez com que Piracicaba tivesse referências importantes, muitas delas vindas após o centenário da Independência, ocorrido em setembro de 1922. Segundo cartas escritas por alunas da atual escola Sud Menucci, na cápsula aberta dois anos atrás, após ficar enclausurada por 100 anos, Piracicaba seria Shangri-la nos dias atuais. Triste ilusão ... dura realidade ... Uma das cartas diz que Piracicaba deveria ter dezenas de aviões voando pelo seu céu durante a abertura desta cápsula do tempo. Isso era esperado porque, em 1º de maio de 1922, pousou o primeiro avião em nossas terras. Coisa de outro mundo ! A cidade parou para receber tal aeroplano em área considerada como o primeiro aeroporto situada onde hoje encontra-se o campo do Ginásio da Esalq e a Igreja São Judas Tadeu. Na época, a carta, ainda trazia referência aos jornais da cidade. “Quem sabe daqui 100 anos existam muitos mais jornais que hoje para informar a cidade”, dizia – mais ou menos assim – uma das missivas. Triste realidade. No meio do caminho não tinha uma pedra, mas sim um Facebook, um Instagram, um What’s app ... E os jornais ... Bom. Próximo assunto !
Setembro também nos fez esquecer a praça 7 de Setembro, situada em parte de onde está hoje a praça José Bonifácio, que até os anos 40 era dividida em duas. Era o trecho onde situava-se o Teatro Santo Estêvão. Jogamos a mesma para o esquecimento. Mas a cidade deve à setembro sua mais extensa avenida (acho eu), a Independência, que começa na Governador e finda-se na rodovia Luiz de Queiroz. Tem também o Jardim Monumento, com praça e monumento ao centenário da Independência.
Ainda sobre a praça, lembramos do italiano Lélio Colucini, que, em 7 de setembro de 1938 teve inaugurado o seu Monumento ao Soldado Constitucionalista, hoje em área próxima ao seu local original após ser desmontado, removido e montado na praça em frente ao Cemitério da Saudade. Foi ele quem projetou e fez o monumento, bancado financeiramente pela população em homenagem aos piracicabanos que tombaram na Revolução de 1932. A placa de bronze com os falecidos foi furtada ano passado.
O mês também motivou a criação do “Circolo Meridional XX de Setembro”, em 1898, reunindo imigrantes europeus em especial italianos, cujas reuniões ocorriam no Hotel do Lago, também na praça 7 de setembro. Teve entre seus fundadores o jornalista Felipe Angelis, idealizador, em 1906, do jornal “Il popolo”, inteiramente escrito em italiano, exaltando o papel e as atividades destes italopiracicabanos. O Circolo, em 1905, uniu-se à Società Italiana di Mútuo Soccorso.
Também em setembro, no ano de 1950 temos a notícia do falecimento de Antónia Martins de Macedo, conhecida por Madre Cecília, a qual nasceu em 1852. Ingressou como irmã na igreja em 1895, quando tornou-se viúva, mãe de três filhos. Três anos depois fundou o Lar Escola Coração de Maria, inicialmente um asilo de órfãs. O processo de canonização da madre teve início em 1992.
Também foi em setembro, no dia 6, que fez-se a luz ! Aqui em Piracicaba, a energia elétrica torna-se novidade, com maquinário e lâmpadas importadas de Nova Iorque por Luiz de Queiroz. A iluminação não era pública e sim particular, até porque não existiam normas para isso. Isso ocorreu em 1893 quando Queiroz implantou postes nas proximidades de sua fábrica de tecidos, onde situou-se a Boyes na atual avenida Beira Rio. Era atração da população ver postes iluminando a noite neste trecho, retornando depois para casa na escuridão ou em trechos abastecidos por postes com lamparinas.
Leandro Guerrini lembra que “foram iluminadas as ruas Prudente de Morais, São José, Alferes José Caetano, Direita (Morais Barros), do Comércio (Governador Pedro de Toledo), da Glória, (Benjamin Constant), 13 de Maio e Santo Antonio - o bloco central das vias públicas da terra, circundando o Jardim Público”. Algumas lâmpadas foram quebradas por estilingadas, patrocinadas por opositores de Queiróz. Mas, aí, já é outra história. E viva setembro !
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