O Comando de Aviação da Polícia Militar de São Paulo (CAvPM) completou 40 anos de existência neste mês de agosto. Nessas quatro décadas de história, as aeronaves conhecidas como “Águia” realizaram cerca de 400 mil missões e 182 mil horas de voo.
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O Águia atua em operações policiais, resgates aeromédicos, salvamentos e transportes de órgãos e pacientes, além de prestar apoio operacional para órgãos como o Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Policiamento de Trânsito, Rodoviário, Choque e Polícia Ambiental. São ações em que o resgate luta contra o tempo. Além de emergências do dia a dia das cidades, as aeronaves auxiliam em desastres nacionais como as enchetes do Rio Grande do Sul, neste ano, e o rompimento da barragem em Brumadinho (MG), em 2019.
O Comando de Aviação da PM está na capital e em outras dez bases destacadas pelo interior, o que possibilita que qualquer helicóptero Águia esteja a menos de 15 minutos de 85% da população paulista. Fundado em 1984 ainda como Grupamento de Radiopatrulha Aérea (GRPAe), a unidade leva o nome do patrono da aviação da corporação, João Negrão. De lá para cá, foram realizados cerca 3 mil salvamentos, 13 mil resgates aeromédicos e 900 transportes de órgãos humanos.
Além das ações em território paulista, o CAvPM atua em missões humanitárias fora do estado, como nas enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul nos meses de abril e maio de 2024 e no rompimento das barragens em Brumadinho (MG), em 2019. Outras atribuições do Águia são escolta e transporte de presos; apoio em eventos críticos com reféns, pessoas com propósitos suicidas, artefatos explosivos; ações de inteligência; combates a incêndio; avaliações de risco; e transporte de autoridades.
O CAvPM conta ainda com a Divisão de Manutenção Aeronáutica, com oficina homologada e mecânicos de voo. A estrutura é responsável por acompanhar e gerenciar os contratos de manutenção e realizar inspeções preventivas e corretivas nas aeronaves da PM, garantindo a confiabilidade e segurança das tripulações e da população.
‘Voar para Servir‘
Atualmente, o Comando de Aviação da PM soma um efetivo de cerca de 500 policiais e uma frota de 29 helicópteros e três aviões, além de drones. Das centenas de policiais que compõem a unidade, o mais longevo é o sargento Emerson Minozzi Correa, tripulante operacional que há 32 anos atua em operações do Águia. O oficial ingressou na área de aviação da corporação em 1996 e, três anos depois, se tornou tripulante fixo. Desde então, o sargento atua diariamente em operações policiais e de salvamento a bordo das aeronaves.
“Temos que estar sempre tranquilos e bem treinados, para que a gente possa ter o melhor tempo de resposta e alcançar o êxito na operação, que quando acordamos nem sabemos qual vai ser. O principal é estar bem, saber que temos aeronaves e equipamentos de primeiro mundo e pessoas altamente treinadas ao lado”, afirma. Um tripulante operacional, como o sargento Emerson, é o policial treinado para desempenhar qualquer atividade dentro da aeronave. No geral, as operações contam com um piloto, copiloto e dois tripulantes operacionais.
“Em uma ocorrência, temos a visão do todo e alimentamos os policiais territoriais com as informações, para que se atualizem sobre o cenário do momento. Assim, a gente acaba tendo uma eficácia muito grande no desdobramento da ocorrência”, explica o policial.
Águia que salva vidas
Além das ocorrências policiais, um dos principais empregos dos helicópteros Águia é no resgate aeromédico. A chefe da divisão da medicina de aviação do CAvPM, capitão Fabiana Ajjar, explica que, além dela, o comando conta ainda com outros dois médicos militares, além de médicos civis à disposição diariamente para atuar nos resgates.
“Do ponto de vista do equipamento, todas as aeronaves que saem para resgate aeromédico têm ventilador mecânico, monitor, desfibrilador, aspirador e material para fazer pequenas cirurgias. Tudo que precisa para deixar a pessoa viva. Os médicos e enfermeiros devem ser capazes de atuar com paciente crítico e com risco iminente de morte”, diz a médica policial. Fabiana afirma que a principal tarefa é estabilizar a vítima antes de entrar na aeronave e levá-la rapidamente para um hospital que ofereça o suporte que o quadro clínico exige.
“Mais de 90% dos pacientes são de trauma. E a resolução final do paciente é no hospital. É indiscutível o benefício do transporte e resgate aeromédico pela questão do tempo. Não é só levar a vítima, mas levar rapidamente ao local uma equipe capacitada para tirar a vítima do risco de morte. Com certeza, muitas vítimas são salvas”, relata.
No ano passado, o Governo de SP adquiriu o helicóptero H135. O modelo biturbina é utilizado pelos principais operadores aeromédicos do mundo. A aeronave é usada exclusivamente para resgates e possui capacidade para transportar até sete pessoas. Ela vem equipada com guincho elétrico e pode, eventualmente, transportar uma segunda maca.
“Tecnologicamente, é imbatível. Na missão no Rio Grande do Sul, pela primeira vez fizemos transportes com dois pacientes ao mesmo tempo: um deles com uma senhora entubada com pneumonia e um paciente extubado. E um segundo com duas crianças, uma de três e outra de dez anos. É uma aeronave fantástica”, relata a capitão.
Com mais de 20 anos de atuação no Águia, a chefe da divisão de medicina do comando afirma que a missão no Sul foi a mais marcante. Na ocasião, as aeronaves da PM paulista realizaram diversos transportes de pacientes que estavam em hospitais atingidos pelas enchentes.
“Eram pacientes muito graves em UTIs que tinham que ser evacuadas. Tiramos um bebê cardiopata de um hospital em uma condição quase impossível de ser transportada. Ele precisava sair de lá para fazer uma cirurgia cardíaca. Até hoje, toda semana o pai dele me manda uma mensagem agradecendo. O bebê fez a cirurgia e hoje está em casa. Tenho certeza que foi a estrutura de São Paulo que permitiu isso”, relembra emocionada.
Os resgates envolvendo crianças fazem parte da rotina dos profissionais que atuam na aviação da PM. “As ocorrências que mais marcam são aquelas que envolvem crianças. Ainda mais que a maioria aqui tem filhos. A gente acaba se envolvendo”, afirma o cabo Lopes, que compõe o quadro de enfermeiros do CAvPM há 12 anos.
Uma vez aprovado, há um período de curso teórico e prático, além de treinamentos de adaptação às aeronaves. Antes de ser piloto, o policial precisa passar por uma fase como co-piloto. “Cada um tem sua função dentro da cabine muito bem definida. Tem que haver uma sintonia grande entre a equipe”, afirma o capitão.
O piloto diz que, embora não considere que haja voos mais difíceis que outros, há aqueles que oferecem mais risco. “Por exemplo, pousar em uma área restrita, mais ‘apertada’, ou pousar em um campo de futebol. As duas são áreas não homologadas, onde não é qualquer aeronave que pode pousar. Ambas exigem preparo e tempo de experiência do piloto e da tripulação”, explica.
A função exige um alto grau de discernimento para a tomada de decisões durante o voo. “Exige muita maturidade para fazer julgamentos corretos no meio do voo: o quanto posso abaixar, quais são os obstáculos que estão ao redor da aeronave para um pouso numa grande avenida, por exemplo. São avaliações que o piloto, em conjunto com a cabine, vai tomando”, relata.
Há oito anos pilotando os helicópteros Águia, Lucas afirma estar vivendo um sonho. “Quando pensei em tentar ser piloto da PM, achei que seria muito difícil entrar. Até hoje, por vezes não acredito que consegui, de tão gratificante. É indescritível o prazer que é voar e ajudar as pessoas”.