O sonho do homem moderno, cravado pelo poeta cubano José Martí, dizia que a tríade do sucesso se resumia a “plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”.
Nos dias de hoje, o homem adulto não liga para árvores e alguns preferem até mesmo arrancá-las do solo. Escrever um livro? É mais fácil gravar vídeos e virar “influencer”. E planejar um filho é para quem tem dinheiro sobrando.
Os anos mudaram e sucesso hoje seria ter uma casa própria e um bom emprego. Mas o futuro chegou, e não está sendo nada fácil.
Você já deve ter ouvido alguém da Geração Z dizer que é possível que nunca tenham uma casa própria. Não que as pessoas nascidas na metade dos anos 1990 não tenham esse desejo, mas, do jeito que as coisas andam, não terão dinheiro para pagar por cada vez menos espaço disponível.
E isso foi traduzido em pesquisa da empresa Clever Real Estate. Segundo os dados, 93% da geração Z quer, sim, ter uma residência para chamar de sua, mas 60% destes jovens têm medo de nunca conseguir ter uma casa. E quase a totalidade, 98%, afirma que existem muitos obstáculos para conseguir realizar esse sonho.
O alto custo das casas, para 50% dos entrevistados, acaba inviabilizando o desejo. Já para 31%, são as altas taxas de juros as culpadas.
Afinal de contas, aquela história de nossos pais e avós que, aos 30, já tinham pelo menos um terreno para construir, é algo bem distante para a maioria dos 30tões destes 2020s.
A começar pelo emprego. Se antigamente nossos pais ficavam anos na mesma empresa, fazendo o mesmo trabalho com um bom salário até se aposentar lá pelos 50 e tantos, hoje a gente anda pulando de galho em galho em vagas de emprego cada vez mais enxutas e sem grandes expectativas salariais ou crescimento interno.
A impressão que dá também é que existem mais contas a se pagar do que antes. E, claro, o valor delas está bem mais alto. E sobra alguma coisa para guardar e começar um financiamento? Claro que não!
Pelo contrário, 78,8% dos brasileiros estão endividados, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Mas não pense você que isso é um problema só do Brasil. Longe disso! Na Europa, cada vez mais famílias estão vivendo com filhos com mais de 30 anos dentro de casa. A Irlanda registrou um aumento acentuado no número de jovens adultos que moram com os pais em meio à grave crise habitacional.
Entre 2017 e 2022 - o ano mais recente para o qual há dados disponíveis - a proporção de jovens de 25 a 34 anos que trabalham e moram com os pais aumentou de 27% para 40%, de acordo com a análise da agência da UE Eurofound.
E não só porque não conseguem comprar uma casa sozinhos, mas porque também não conseguem pagar pelo aluguel -- isso se acharem uma casa ou uma vaga disponível de acomodação compartilhada que seja.
Os países, mesmo os considerados desenvolvidos, parecem não estar aptos a enfrentar o futuro. Ou a Geração Z terá mesmo que abandonar o antigo sonho americanizado de querer ter casa, carro e o emprego da vida.
Também estamos falando de uma nova geração de adultos criada pela internet e com uma percepção de vida mais fugaz, dinâmica e acelerada. Por isso mesmo, 27,17% afirmam ter ansiedade, 36,48% têm estresse e 27,49% têm depressão (pesquisa Vittude).
Sou da geração anterior à Z, mas sinto que tudo isso respinga também na minha geração, que parece ainda mais incapaz de lidar com tudo isso devido a falta de entendimento desse novo mundo e uma já desgastada vontade de fazer acontecer.
E por fim ainda tem que ouvir a Geração Z nos chamando de “tio”.