ARTIGO

Administrar o quê para quem?


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Por mais esforços faça este ainda jornalista, parece-lhe inútil tentar desligar-se da vida piracicabana. Pois não o consegue. Tem sido, assim, ao longo de toda uma vida. Desde a adolescência, aos 16 anos. O despertar, porém, ocorrera, aos 13, com a campanha nacional do “Petróleo é Nosso”. E o início de uma consciência cívica, aos 14, no impacto do suicídio de Getúlio Vargas.

E já não mais sabe, ele, se se trata de paixão, amor, hábito, vício, mania. Foi o que lhe ensinaram os grandes mestres ao início e na continuação de seu aprendizado jornalístico. Missão, diziam-lhe. Serviço social. Compromisso com a comunidade. E, para alguns deles, como que uma forma de sacerdócio, dados o devotamento e a dedicação que exigiam. Um ofício, então, numa relação íntima com a sociedade. E com intensa responsabilidade diante da profissão que se fazia. Pois, ao iniciar a jornada, professava-se. E professar é jurar.

Ora, em qualquer atividade, o longo exercício não traz apenas experiência. Cria, também, referenciais. E esses acabam por definir decisões, escolhas. Para o acerto e para o erro. Pois comparações nem sempre são aceitáveis. Há o perigo, até mesmo, de uma pessoa, tendo o mesmo nome de alguém memorável, acreditar possuir, também, as mesmas qualidades. Por exemplo: não basta ter o nome de Luciano, o Guidotti, para ser como o próprio. Há, pois, quem se perca pelo nome. Uma vítima de si próprio.

Piracicaba – terra amada, singular, privilegiada – pode estar, ainda outra vez, “perdendo o bonde da História”. Tem acontecido nos últimos anos. Nosso desenvolvimento ainda harmonioso devemo-lo, em especial, ao vigor da pujante iniciativa particular. Na política-administrativa, muito já se fez, embora parte do realizado seja ou tivesse sido mais de caráter eleitoral. As autorizações para obras e projetos imobiliários – inexplicáveis para a opinião pública – revelam, por outro lado, verdadeira invasão de áreas privilegiadas. E não mais se argumente, como justificativa inaceitável, haver a criação de empregos. As novas técnicas e os extraordinários recursos de engenharia estão – também na área das edificações – substituindo, cada vez mais, o trabalho operário humano.

A desafiadora e cada vez mais dramática exigência estão, ainda, na questão social. Pois, a cada dia, agrava-se a disparidade entre nossas categorias sociais. Tornou-se imperativo – e, portanto, um dever – priorizarmos não tão só os pobres, mas a infância e a juventude. Cobra-se da sociedade civil e do poder público uma urgente redefinição de prioridades e de opções preferenciais. O trabalho exige novas especializações, sonegadas, porém, aos jovens necessitados. São milhares deles buscando, a cada ano, um lugar no mercado de trabalho. E um sem número deles não possui as qualificações agora exigidas. Qual o caminho que lhes resta para sobreviver?

As próximas eleições municipais não parecem trazer grandes expectativas. Partidos políticos – ausentes das aceleradas mudanças universais – teimam em proceder em ações e decisões muitas delas já inoperantes. Há que se temer pelas consequências. Um próximo Executivo irá administrar o quê, para quem? É uma outra cidade, um outro município. E um povo já adequado a novas realidades. Como um homem público irá legislar sobre novas necessidades se não as conhecer?
Cidades são seres vivos. Que, além de um corpo, têm alma e espírito, concentrados em sua história. A alma, o espírito piracicabanos clamam por cuidados. Executar é, também, cuidar. Qual a proposta humanitária para o Executivo executar?

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