Sergio Pacheco Jr.

“Problema de saúde pública do município é muito grave”

Por André Thieful |
| Tempo de leitura: 7 min

O médico Sérgio José Dias Pacheco Júnior (União Brasil) foi oficializado, neste sábado (20), em convenção partidária, candidato a vice-prefeito de Piracicaba na coligação encabeçada pelo deputado Helinho Zanatta (PSD), candidato a prefeito.

Aos 47 anos, o médico trabalha na cidade há 20 anos. Se formou em Medicina pela PUC Campinas em 2003. Ele conta que, aos oito anos de idade, já havia decidido ser médico, influenciado pela tradição familiar e pelo exemplo de seu avô, Aninoel, um dos primeiros médicos de Piracicaba. Casado com Raquel há 15 anos, ele é pai de Henrique, de 14 anos, Rafael, de 9 anos, e dos gêmeos Mateus e Gabriel, de 8 anos. Ao Jornal de Piracicaba, o médico faz uma análise dos principais problemas enfrentados pela saúde pública municipal. Mas, além de apontar os problemas, apresenta soluções.

Qual a sua especialidade e porque a escolheu?

Minha primeira especialidade foi a Cardiologia, que cursei na Beneficência Portuguesa de São Paulo. Sonhava com consultório cheio e tinha alguma preferência pela população mais idosa, tendo estagiado no INCOR (HC-FMUSP) durante a minha graduação e tendo iniciado subespecialização em Cardiogeriatria no Instituto Dante Pazzanese (também em São Paulo). Posteriormente, fui me encontrando mais nos hospitais, especialmente nas UTIs. Acabei virando especialista em Terapia Intensiva (UTI) em 2013 e em 2018 me especializei em Medicina do Tráfego (DETRAN) pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.

Gostaria que falasse sobre saúde pública. Começando pelas UPAs, posteriormente sobre UBS, USF, demora na realização de consultas e falta de médicos na rede municipal.

O problema da saúde pública do município é muito grave. E não é de hoje que nossa saúde vem “doente”. Há décadas a população dependente do SUS vem notando a deterioração dos serviços de maneira progressiva. Ressalto aqui que esse é um problema de gestão e não dos profissionais que estão trabalhando, em sua maioria tentando dar o seu melhor. Foi o sistema que deteriorou de tal forma que as condições dadas para esses profissionais trabalharem é pouco estimulante e altamente desgastante. Nossas UPAs têm condições de oferecer um serviço mais qualificado em todos os sentidos, mas, da maneira que essa falta de gestão eficiente foi se desenvolvendo e precarizando a saúde de maneira global, normalmente é na UPA que a corda arrebenta. A atenção deveria ser eficiente na UBS, porém, temos um número pífio de UBSs no município, perfazendo uma média de praticamente uma UBS para cada 30 mil habitantes. Nossa vizinha São Pedro, por exemplo, tem uma UBS para cada cinco mil habitantes. E vale ressaltar que a fatia do orçamento para qualquer município é a mesma, seja uma pequena cidade, uma cidade de porte médio ou mesmo a Capital. As USFs até temos um número razoável, mas, elas deveriam servir de suporte para as UBSs. E isso não acontece. A ineficiência gera risco e gasto desnecessários, havendo um enorme prejuízo financeiro e social. Há uma falta absoluta de gestão no sistema. É algo de muitos anos atrás.

Recebemos, constantemente, reclamações de UPAs lotadas e demora no atendimento. Qual a análise que o senhor pode fazer sobre essas reclamações e quais caminhos a cidade deveria adotar para evitar esse tipo de situação?

A cidade necessita sim de mais UPAs, mas, a origem do problema, conforme exposto anteriormente, é a falta de atenção básica. Fazendo uma estimativa otimista, a cidade precisaria ao mínimo dobrar o número de UBSs funcionando (e funcionando direito) para que as UPAs não ficassem estagnadas. E naturalmente após uma pandemia de Covid e epidemias de dengue e Influenza, há uma agudização desse problema crônico.

O senhor é a favor da terceirização das UPAs, como ocorreu nas unidades da Vila Cristina e da Vila Sônia?

A terceirização das UPAs em si, não vejo problema. Depende primeiramente se há profissionais disponíveis no município para não precisar terceirizar. Mas, imaginando que ela seja necessária, tem que ver exatamente o contrato de terceirização. Ou seja, na necessidade de terceirizar, tem que haver absoluta transparência sobre a forma de contratação, tempo, valores, prevendo todas as possibilidades de ampliar ou reduzir conforme demanda e necessidade. A empresa contratada tem que ter compromisso com a população, histórico de idoneidade e vigiar constantemente seus profissionais. Isso é o mínimo que o poder público tem que exigir.

Sobre as Unidades Básicas de Saúde, há muita reclamação sobre a demora para agendamento de consultas e exames. Porque isso ocorreu e como reduzir os prazos tanto para consultas como para realização de exames?

É preciso construir o mais brevemente possível novas UBSs, bem distribuídas pela cidade (para estar sempre perto da população) e fazê-las funcionar da maneira adequada, com os profissionais adequados. Médico clínico-geral, ginecologista, pediatra, dentista e farmácia. Na UBS deve ser marcada a consulta, o especialista, os exames de sangue, a retirada de medicamentos e a marcação de cirurgias.

A contratação de médicos, pediatras e outras especialidades, tem sido feita com muita dificuldade pela Prefeitura. É vantajoso para um médico, atualmente, trabalhar para a Prefeitura de Piracicaba?

O salário oferecido pela prefeitura está longe de ser ruim. Mas não é atrativo para ninguém trabalhar sobrecarregado.

E como resolver esse problema?

A melhor maneira de resolver é criar condições de trabalho atrativas. O salário é o menor dos problemas, mas a condição que o profissional trabalha é quase desumana. Nisso incluo todos os profissionais de saúde. O médico não quer deixar um paciente aguardando por um atendimento ou na fila por uma cirurgia. Vejo como necessidade uma força-tarefa, eventualmente atrelada à saúde privada do município, para que haja aumento do efetivo de profissionais.

O senhor é favorável ao uso da telemedicina para agilização do atendimento médico na rede pública?

Sou amplamente favorável. A telemedicina reduz filas, reduz riscos, fornece receitas, atestados e serve para uma gama enorme de atendimentos. Mas também tem que ser fiscalizada para saber a qualidade do profissional do outro lado da tela e principalmente ser melhor divulgado para que não haja a procura aos serviços de saúde por motivos que poderiam ser facilmente resolvidos em tele-atendimentos de cinco ou dez minutos.

Os Programas de Saúde da Família, em sua visão, tem cumprido o papel deles? Qual a importância da medicina preventiva?

De toda a nossa rede é onde eu vejo menos falhas. Mas, ele é inteiramente responsabilidade do Governo Federal e, por esse motivo, há quase cinco vezes mais USFs do que UBSs. O município praticamente não gasta com a USF, então acabou sendo convidativo para o executivo municipal espalhar USF. Porém, o principal papel que ela deveria ter que era dar suporte à UBS, fica travado pela ineficiência das UBSs.

O senhor, como médico, passou recentemente por grande desafio, com a pandemia da covid-19. Quais experiências o senhor pode tirar desse período?

A pandemia foi nos últimos cem anos a situação de saúde mais difícil vivida pela população mundial. Para a população brasileira e a piracicabana não foi diferente. O que os serviços de saúde cresceram em organização e programação logística para catástrofes foi muito grande. E eu fui apenas um grão de areia. Cada profissional de saúde de cada serviço de saúde que trabalhou para atender durante a pandemia se desdobrou, saiu de casa, serviu horas e horas a mais de plantão. Muita gente merece aplauso, merece reconhecimento e fez com que houvesse uma união nas equipes muito grande, como em uma guerra.
Na sua opinião, estamos livres da covid-19? Eu não acredito em uma nova pandemia dessa proporção pela Covid 19. Mas, outros vírus, infelizmente, certamente virão dar uma assombrada “de vez em quando”.

É possível avaliar o risco de uma nova pandemia de outro tipo de vírus?

Dificílimo fazer uma previsão de “quem” e “quando”. Mas haverá novas pandemias. Desde que nasci lembro do terror do cólera, do Ebola, do H1N1, do Covid, da dengue, etc. As transmissões são muito rápidas e dependem de ações conjuntas para sua mitigação.

Quais lições podem ser tiradas da experiência vivenciada pelo senhor durante a pandemia?

Sempre soube e pratiquei isso, mas, a pandemia deixou muito claro para todos que ninguém faz nada sozinho. Um depende do outro. Todas as áreas foram importantes na pandemia e os profissionais de saúde, todos, se desdobraram e se fizeram úteis demais. É importante ressaltar a importância de não deixar pendências, não deixar o “eu te amo” para depois, não guardar a melhor garrafa de vinho para uma ocasião especial. Se você está vivo e lendo isso agora, comemore, beije seus familiares, trabalhe para ajudar os outros, declare-se às pessoas. Muitas pessoas não tiveram e não terão essa chance. A vida está acontecendo agora.

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