Ano de eleição é sempre a mesma coisa. Não importa se o sujeito seja o “político tradicional” ou o tal “gestor outsider” -- aquele empresário de sucesso que prega ser uma nova resposta para velhos problemas.
Se o candidato está atualmente no cargo máximo do executivo, ele vai colocar a máquina pública para mostrar serviço aos eleitores e dar um “up” na sua campanha de forma artificialmente espontânea.
E quando as eleições são municipais, ah, isso fica muito mais explícito. Basta dar uma voltinha pela cidade e ver as obras acontecendo de vento em popa.
Quanto mais escavadeiras e cimento, mais propaganda de um prefeito “proativo” que coloca a mão na massa, mesmo que seja só no último ano de mandato!
Podem passar anos e décadas e um ato que o prefeito acredita ser perfeito (desculpem-me o trava-língua) para angariar votos é recapear o asfalto em ruas e avenidas da cidade.
Pense bem, parece um plano infalível: todo mundo precisa ir e vir, por isso é impossível não reparar nas obras em vias públicas. Apesar do congestionamento que essas interferências causam, a gente imagina sempre que: “ah, mas pelo menos está arrumando”.
Aqueles buracos que reclamamos há quatro anos estão, finalmente, “olha só!”, sendo tapados. E a promessa de um asfalto que mais parece um tapete para nossos carros flutuarem sobre ele está sendo cumprida.
A classe média pira!
Obras pela cidade precisam aparecer. Existem políticos até mais leoninos que divulgam suas obras em placas gigantescas para mostrar pro eleitor que ele está fazendo algo -- como se não fosse mais do que a sua obrigação como prefeito.
“Obra 3.324: Pintura Do Meio-Fio da Pracinha da Vila”. Muitas vezes o valor da placa, em si, deve ser maior do que a própria obra.
Já dizia um velho jargão político de que arrumar o esgoto de uma cidade é enterrar dinheiro. Afinal, obras feitas nos dutos nem sempre são vistas, apesar do saneamento básico tornar a vida em sociedade muito mais saudável.
Bem por isso, em termos nacionais, 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e 100 milhões não possuem acesso à coleta de esgoto, segundo o levantamento do Instituto Trata Brasil.
Uma matéria publicada pela Revista Veja revela que em sete anos o Brasil investiu 5,8 bilhões em projetos de saneamento básico. Por outro lado, só em 2024, o Congresso Nacional aprovou R$ 4,9 bilhões de Fundo Eleitoral para o financiamento das campanhas municipais no país.
Imagine só: ter água limpa saindo da torneira é menos importante do que a chuva de santinhos com aquelas faces calhordas de candidatos esparramados na garagem da sua casa. Lamentável!
É notável que prefeitos não estão ligando muito para as molas do seu carro popular quando rasgam a cidade para refazer asfaltos e remendar avenidas.
E não espere que as pracinhas tenham os meio-fios pintados tão cedo, muito menos que a frequência de outros serviços municipais como poda de mato alto ou aquela limpeza bonita das ruas aconteça com a mesma frequência que no ano eleitoral.
Mas a população parece que já percebeu -- finalmente -- que esse tipo de “glow” na campanha está fadado ao fracasso. Está na cara que usar essa plástica urbana para ganhar o voto da população, que passou os últimos quatro anos pedindo socorro sem ser atendida, não vai dar certo.
Basta conversar com seus familiares, amigos e vizinhos: todos estão, no mínimo, revoltados com tentativas como essas. Como se os cidadãos, que pagam seus impostos e vão às urnas, fossem peças de um jogo de mentiras e manipulações. E são! Mas eles sabem disso e podem virar a mesa no final.
Eu acredito que farsas como essas não são mais toleráveis. Já não era com os chamados “políticos tradicionais” e não é com quem se autointitula “gestor outsider” -- que, ca entre nós, é apenas uma capa de Chapeuzinho Vermelho sobre a mesma velha raposa da política.
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