ARTIGO

Desapropriar a Boyes e transformá-la em um centro de inovação


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Os proprietários da antiga fábrica de tecidos “Boyes” acumulam quase R$ 5,8 milhões em débitos pendentes com Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) – conforme noticiado pelo Jornal de Piracicaba em sua edição do dia 29 de junho. Também de acordo com essa matéria, esses valores são retroativos e constam em aberto no cadastro da dívida ativa da Prefeitura de Piracicaba. Para nós, isso demonstra o quanto os proprietários não estavam interessados em preservar o imóvel centenário – objeto de um projeto de especulação imobiliária sem fundamento, que altera toda a paisagem do entorno do Rio Piracicaba e traz a ela transtornos irreversíveis.

Sabendo-se agora do valor dessa dívida gigantesca dos proprietários da “Boyes” com a cidade de Piracicaba, o Executivo Municipal deveria – como um acerto de contas – desapropriar o imóvel. Afinal, o prédio histórico da “Boyes” – fábrica fundada em 1874, com o nome de Fábrica de Tecidos Santa Francisca – teve a sua origem a partir do empreendedorismo de Luiz de Queiroz – figura de fundamental importância para a cidade de Piracicaba. Nesse sentido, importa também reconhecer que a “Boyes” foi a primeira grande indústria originalmente piracicabana – tendo recebido a primeira linha de telefone da cidade – e ali se instalou a primeira usina hidrelétrica de Piracicaba, um sinônimo de inovação para o município.

Respeitando esse DNA inovativo, o Executivo Municipal deveria recuperar esse patrimônio histórico, transformando-o em um grande espaço de inovação. Tenho acompanhado os debates sobre ciência, tecnologia e inovação, inclusive participei da revisão do Plano Diretor de CTI do município. Assim, percebo a necessidade urgente de novos espaços para start-ups, incubadoras e ou um novo Parque Tecnológico de Piracicaba que atenda os mais diversos setores de desenvolvimento em CTI. Afinal, Piracicaba vem perdendo empresas de inovação que buscam se instalar em outras cidades porque, entre outros motivos, nossa cidade não oferece um arcabouço legal que dê segurança jurídica a empresas do setor – uma vez que a cidade não implantou o planejamento estratégico do setor.

Na mesma trilha, a Boyes pode também ser o espaço no qual se pode reativar o extinto IPPLAP, instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba extremamente necessário para pensar o futuro da cidade e que foi deixado de lado pela atual administração.

A “Boyes” tem perfil para tornar-se espaço de inovação de outras áreas de fundamental importância para a cidade, como a da cultura, o do turismo e da educação. Patrimônio centenário, a antiga fábrica pode abrigar assim um museu do futuro – que desperte interesse dos mais jovens acerca do espírito inovador próprio da cidade que já foi berço do Proálcool e se anuncia agora como berço nacional do hidrogênio verde (o combustível que, menos poluente, vem sendo chamado de combustível do futuro).

Alinhada aos excelentes centros de ensino superior – de causarem inveja a muitas cidades do mundo – que Piracicaba possui, a “Boyes” pode ser um hub, um elo entre a academia, a economia e a sociedade – comportando ainda um centro de convenções que a cidade tanto carece.

Imagino nossos jovens, cientistas, empresárias e empresários circulando por esse espaço, dando vida a suas ideias e sonhos para transformá-los em soluções que melhorem a vida das piracicabanas, dos piracicabanos e de toda a sociedade com soluções criativas, socialmente e ambientalmente responsáveis.

Por fim, respeitando o passado desse espaço que já foi tão importante para economia de Piracicaba, a “Boyes” pode abrigar ainda outras experiências para assim colocar Piracicaba como verdadeiramente uma cidade inteligente e modelo no cenário da inovação mundial. 
Para isso, basta vontade política.

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