Graças à nossa habitual concepção materialista da vida, tendemos a considerar real aquilo que passa pelos grosseiros filtros dos nossos sentidos, o que condiciona nosso pensar e agir. No entanto, aqueles que expandem sua percepção e reconhecem realidades mais sutis, tornando-se receptivos às inspirações que os guiam, por sua vez inspiram os demais. Seus ideais e conduta dignos alimentam e orientam as ações alheias, contribuindo para o aprimoramento dos padrões de vida da sociedade de que fazem parte.
Esse despertar da consciência, com o desenvolvimento do senso de responsabilidade e as consequentes mudanças de comportamento para melhor, são parte importante das propostas espirituais e religiosas, as quais convidam seus adeptos a seguirem princípios elevados, tornados ideais a serem vividos.
Um ideal verdadeiro – aquilo que pode impulsionar mudanças positivas – é algo primeiramente percebido ou concebido por seres dotados de elevada capacidade intuitiva e de grande inspiração. Após esse contato inicial, esse ideal passa a ser compartilhado com os indivíduos que se mostrem receptivos e que se proponham à sua materialização. Assim se formam os grupos que agem nas mais diversas áreas, sejam religiosas, sociais ou de natureza diversa, e as pessoas que compartilham um mesmo ideal congregam forças que as impulsionam à sua realização.
Nos críticos tempos atuais torna-se especialmente importante a verificação dos ideais aos quais nos associamos, pois tornamo-nos corresponsáveis pelas ideias que pomos em prática e pelos movimentos que alimentamos com nossa participação. Por isso, nunca é demais atentarmos para que nossas energias sejam mobilizadas para ações educadoras, curativas e pacificadoras.
Nesse processo, há ideais tão avançados que se encontram distantes da nossa condição habitual. Esse parece ser o caso do Evangelho, cuja mensagem trazida por Jesus ainda não encontrou suficiente eco em nossa alma e cujo convite temos sistematicamente recusado, mesmo após dois milênios de sua presença na Terra e a propagação de sua doutrina pelos seus seguidores. Mesmo assim, as sementes de vida abundante têm sido lançadas, aguardado que nosso solo interior se torne fértil para que germinem, floresçam e frutifiquem.
A vida e os ensinamentos, os exemplos e feitos de Jesus são evidências inequívocas de que o reino por ele apresentado era a realidade em que vivia. Ao nos anunciar esse reino e a possibilidade de o conquistarmos, propôs uma jornada de realização espiritual para que, um dia, também alcancemos a plenitude. A permanente comunhão com a fonte da vida, o amor incondicional, o perdão irrestrito, a misericórdia sem limites, a sabedoria incomum, a verdade transparente, o poder de cura sem igual são evidências do estado sublime em que o Mestre vivia. Ao demonstrar esse estado de ser, Jesus nos acenou com a possibilidade de o atingirmos também, ainda que para isso tenhamos um longo caminho. A nosso ver, um dos aspectos maravilhosos da mensagem do Cristo é a afirmação de que a realidade em que ele vivia não era privilégio seu, mas que poderia ser alcançada por qualquer um que se dispusesse a praticar as recomendações evangélicas, localizando esse reino dentro de nós, cabendo-nos descobri-lo e revelá-lo.
Nesse sentido, viver segundo os ideais mais elevados que se possa conceber, tornando-os realidade no mundo material, é desafio a todos os que anseiam por um mundo melhor, colaborando desde já para sua implantação.