ARTIGO

Teoria das inteligências múltiplas


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Não é fácil se quebrarem ideias geralmente tidas como indiscutíveis e de senso comum. É o que se verifica em torno do conceito de superdotação no ambiente escolar. Poucos temas pedagógicos são tão mal entendidos como esse.

Em primeiro lugar, confunde-se superdotação com genialidade. Por outro lado, supõe-se que superdotação é sinônimo de elevado quociente de inteligência. E, por fim, imagina-se que um aluno superdotado é uma espécie de super-homem em miniatura, com poderes sobrenaturais que facilitam tudo na vida.

É preciso entender bem o que é e o que não é o aluno “superdotado”, e como tal aluno, de acordo com a legislação brasileira e com as diretrizes pedagógicas prevalentes na atualidade, tem necessidades especiais e, assim sendo, tem direito a receber um tratamento diferenciado nos ambientes escolares.

Atualmente, costuma-se designar como de altas habilidades/superdotação (AH/SD) os alunos que: 1) revelam uma habilidade acima da média (comparativamente com os da mesma faixa etária) em alguma área específica, ou em algumas áreas conjugadas; 2) mostram motivação e envolvimento nas áreas de seu especial interesse; 3) e que, por fim, não apenas reproduzam, nessas áreas, o que ouviram e aprenderam, mas demonstrem possuir uma criatividade e uma capacidade de inovação singulares.

Essas características, quando coexistem num mesmo indivíduo, permitem que ele possa ser considerado como de AH/SD. Elas podem se manifestar em áreas muito diferentes; pode ser na área escolar propriamente dita, manifestando-se num desempenho com altas notas; pode ser na área intelectual fora do ambiente escolar, no caso de alunos medíocres no desempenho escolar, mas que revelam notável desenvolvimento intelectual fora do currículo escolar; pode ser em termos de liderança, pela capacidade demonstrada de influenciar e arrastar atrás de si os colegas; pode ser no campo artístico, com particular dotação para música, desenho, pintura ou teatro; pode, ainda, ser em termos de psicomotricidade, com talento especial para esportes e, conforme o caso, até na dança.

Não se deve confundir o AH/SD com o gênio. O AH/SD é bem dotado em alguma, ou em algumas áreas específicas. Somente se fosse altissimamente dotado em todas poderia fazer jus à designação como gênio. Gênios existem, mas são raríssimos na história da Humanidade. Não são frequentes os Leonardo da Vinci, os Isaac Newton ou os Pico della Mirandola...

Nem sempre os AH/SD possuem um elevado QI (quociente de inteligência). O QI durante muito tempo foi usado por psicólogos e pedagogos como único apto à classificação das pessoas pelo grau da inteligência. Mas, com os avanços da Psicologia e da Neurologia, sabe-se que ele é muito útil para avaliar apenas a capacidade de raciocínio lógico-matemático - que corresponde a um tipo de inteligência, não porém a todas elas.

Hoje em dia, o paradigma vigente é o das inteligências múltiplas, proposto pelo norte-americano Howard Gardner na década de 1980. Depois de muitos anos de pesquisas sobre pessoas consideradas inteligentes ou geniais em várias culturas do planeta, Gardner chegou à conclusão de que o conceito de inteligência não é unívoco, mas multívoco; e que não existe uma única forma de inteligência, mas diversas: a lógico-matemática, a linguística, a espacial, a físico-cinestésica, a interpessoal/intrapessoal, a musical, a natural e a existencial.

Pela teoria das inteligências múltiplas, compreende-se que uma pessoa seja extremamente bem dotada e quase genial numa área e seja, ao mesmo tempo, bastante inferior à média (e até deficiente) em outras áreas. Compreende-se que Einstein fosse um físico genial, mas nada entendesse de música ou de política e nem sequer soubesse dizer, com segurança, se já havia almoçado ou se ainda precisava fazê-lo. Compreende-se também que Beethoven fosse um gênio da música, mas ao mesmo tempo fosse um fracasso monumental em matéria de organização ou finanças, e era tão pouco organizado que vivia num quartinho sujo e bagunçado, quase um chiqueiro.

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