Muitos me perguntam quais os efeitos neurológicos do uso da aceleração de recursos na internet ou em outros meios de comunicação. A resposta é que ainda não há estudos comprovando que isso cause danos cerebrais. Entretanto, usar as ferramentas de aceleração de áudio e vídeo de forma constante faz nosso cérebro assimilar (também) informações de forma acelerada e, então, a viver de forma acelerada, além do que, essa exposição a estímulos rápidos pode dificultar a retenção e o manejo das informações. A partir do momento em que seu cérebro se acostuma com a rapidez, vai ficando cada vez mais difícil se aprofundar em temas ou associá-los.
Outras consequências: ansiedade, dificuldades em treinar a tolerância (o outro pode não ter a mesma velocidade que você espera dele), além de que tudo isso esbarra em uma limitação: não dá pra “acelerar” a vida real, o que faz com que o cérebro, acostumado a uma velocidade acelerada, encontre barreiras para funcionar nesse mesmo ritmo na vida real, no quotidiano.
Estamos vivendo numa sociedade onde a pressa parece que já se tornou “norma” e isso bate de frente com a saúde mental, pelo poder que isso tem em provocar cada vez mais ansiedade. Aliás, diga-se de passagem, o Brasil já é considerado o país mais ansioso do Planeta. Já vemos, por exemplo, muitas pessoas se sentirem angustiadas quando a bateria do celular está acabando ou quando ficam sem conexão por algum motivo.
Outro ponto importante: sabemos que a comunicação via digital sem a fala, já restringe muito a eficácia da mensagem, imagina então a voz numa velocidade acelerada, onde há perda da entonação, parte imprescindível em uma comunicação, o que atrapalha consideravelmente a compreensão, gerando – entre vários prejuízos - até confusão.
A emoção ansiedade já é um sinal de que nosso sistema nervoso central emite em função de algo que está nos ameaçando ou desafiando. Agora, reflita: se começamos a nos acostumar com áudios acelerados, estamos, também, nos acelerando numa proporção acima de nossa capacidade mental e física.
Sim, a tecnologia está aí e o acelerador de áudio revolucionou a comunicação. Porém, precisamos refletir sobre o contexto disso. O que realmente é saudável? O que não é? Muitas vezes, por falta de tempo, precisamos acelerar o áudio, mas, será que estamos sem tempo por quê? E será que não continuamos nessa postura de acelerar áudio mesmo em situações onde “temos tempo”? Perceba aí que já migramos para um possível vício, totalmente desnecessário e maléfico.
Mas, afinal, por que estamos com tanta pressa? E o pior, ela nunca acaba! Estamos indo para onde com ela?
Na verdade, estamos cedendo a “compra” de informações desnecessárias e tentando controlar coisas que não estão no nosso controle, acumulando desnecessariamente nosso cérebro. Seria a pressa causada pela necessidade neurótica de acharmos que dessa forma seremos “melhores”? Melhores em que? E, por quê? E ainda: a que preço?
A aceleração de áudios é apenas parte desse processo de adoecimento, na maioria dos casos de forma inconsciente, o que causa prejuízo e sofrimento (mesmo que não a curto prazo).
Estamos, na verdade, cada vez mais preocupados em viver onde a vida não vive: ou no passado (em situações mal resolvidas) ou no futuro (em uma neurose que passa do ponto de equilíbrio do planejamento), sem viver intensamente e com qualidade, no único lugar onde ela vive: no aqui e agora!
Portanto, vale a reflexão sobre a necessidade dessa aceleração e seu uso com equilíbrio e consciência.
Clique para receber as principais notícias da cidade pelo WhatsApp.