A frase, originalmente em inglês, é atribuída ao comediante americano Charles "Chuck" Palahniuk: “Stop making stupid people famous”. Ou seja, “Parem de fazer pessoas idiotas famosas!”.
Ela circula já há muitos anos e está estampada em canecas, camisetas e afins.
Mais famosa que a frase, no entanto, são os idiotas que, todos os dias, deixamos cada vez mais famosos. E como fazemos isso? Bom, talento não nos falta para tal façanha.
E a plataforma perfeita para isso se chama internet. Você já percebeu que se um conteúdo online tem boas intenções, é interessante, inteligente, traz cultura e informação (real), ensina e evolui o ser humano, frequentemente, ele não é tão popular?
No entanto, o contrário deste modelo é o que viraliza, alimentando os famintos algoritmos e nossa sede por polêmicas e absurdos do cotidiano.
Assim nascem os idiotas famosos. Afinal, quando seus nomes são citados, suas imagens compartilhadas e sua mensagem é espalhada, mesmo por quem não goste deles, um destinatário perfeito está sempre disposto a adorá-los.
Com as enchentes no Rio Grande do Sul, vários idiotas saíram de suas tumbas para assombrar alguns e deixar outros apaixonados. Um deles possui 10 milhões de seguidores nas redes sociais, onde faz papel de uma mistura podre de coach com guru, pastor com político. Vitaminado tipicamente brasileiro.
Sua “ajuda” para o Estado seria impecável se fosse apenas a arrecadação de doações, mantimentos e outros itens, algo que muitas celebridades, empresas e afins têm feito. Mas na mão de idiotas famosos, a boa ação vira um show de horrores.
Aquela mesma cartilha de pastores que usam do palco da igreja para culpar alguma coisa que acontece no mundo a um grupo específico de pessoas ou de crenças que não sejam as deles. O culpado é sempre o outro.
Por exemplo, o tal coach evangélico acha que a culpa da tragédia ambiental no Rio Grande do Sul foi o show de Madonna em Copacabana -- para ele um ritual satânico que ofereceu corpos das vítimas das enchentes no RS para o “satã”.
Porém, não ouvi ele dizer um pio sobre o agronegócio na região e o lobby dos congressistas do Estado em “passar a boiada” nas leis ambientais. Mas, claro, a Madonna seria “mais perigosa” que o abençoado “agro”.
Para uma pessoa sensata, apenas ao assistir cinco segundo dos vídeos deste charlatão na internet seria suficiente para perceber a picaretagem da figura. Mas isso não é o que acontece com os 10 milhões que o seguem.
O que me choca mais é saber que tenho 14 conhecidos no Instagram que seguem o idiota, entre gente bem estudada, jornalistas, políticos e “influencers”. Alguns, idiotas iguais. Outros: “o que vocês estão fazendo aí?”.
Já virou meio que tradição no Brasil a gente idolatrar idiotas. Parece que o primeiro que aparece dando a solução dos problemas do país em três palitos é eleito, politicamente ou intelectualmente, por pessoas que parecem estar atordoadas.
Esse mesmo já tem mostrado seus desejos políticos e, olhando para a experiência do Brasil de 2018 a 2022, não me espantaria que ganhasse o pleito com seu discurso mequetrefe e seu histórico de crimes perfeitos para sua ideia de imperialismo pentecostal.
Talvez seja isso mesmo. As pessoas estão perdidas, como em queda livre, e agarram-se na primeira mão que aparentemente lhe oferece ajuda, mas que é apenas um atalho para uma queda muito maior.
Ps.: não citarei o nome do idiota famoso. É exatamente desta forma que espalhamos sua propaganda gratuita de idiotices.
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