ARTIGO

Ineficiência e Irresponsabilidade da Prefeitura com a Ciclovia

Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC

Por Rogério Cardoso | 19/05/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Em um ato de inaudível desrespeito ao meio ambiente e à população de Piracicaba, a prefeitura decidiu construir uma ciclovia às margens do Rio Piracicaba, apelidada de “Riverside”. Como carioca radicado na cidade há 15 anos, lamento profundamente a escolha de um nome em inglês para um local com uma identidade e tão rica como a de Piracicaba. Como diria o escritor Cecílio Elias Netto, devemos zelar pelo que Piracicaba tem de melhor: a sua caipiracicabanidade.

Acompanhamos com tristeza a tragédia que se desenrola no Rio Grande do Sul, resultado da devastação de áreas de proteção permanente (APPs) ao longo do Rio Guaíba. O desmatamento desenfreado facilitou a especulação imobiliária e a exploração desenfreada dos recursos naturais, deixando a região vulnerável às inundações. Essa tragédia serve como um alerta para os perigos da negligência ambiental e da falta de planejamento urbano.

Em Piracicaba, estamos repetindo os mesmos erros. A construção da ciclovia Riverside implica na remoção de parte da mata ciliar, violando a Lei no 12.651/2012, que determina a criação de uma APP de no mínimo 100 metros às margens de rios. Essa atitude insensata demonstra a total falta de compromisso da prefeitura com o futuro da nossa cidade.

As APPs são fundamentais para a preservação da biodiversidade, a qualidade da água e o equilíbrio climático. Destruí-las para construir uma ciclovia precária e mal planejada é um crime contra a natureza e contra as próximas gerações. Além dos impactos ambientais irreversíveis, a própria ciclovia gera questionamentos. A área escolhida não oferece segurança para os ciclistas, com falta de iluminação, sinalização inadequada e um trajeto sem infraestrutura adequada. Será que alguém da Prefeitura correria ou andaria de bicicleta a noite neste local?

O local já possuía um piso compatível com a prática do ciclismo e passeio de mountain bike, tornando desnecessária a concretagem e a re- moção de árvores. Ademais, do outro lado do rio já existe uma ciclovia que liga a Avenida Cruzeiro do Sul ao Bairro Bongue.

Conversei com membros do Mais Ciclovias Piracicaba (@maiscicloviaspiracicaba), um grupo dedicado à promoção da ciclomobilidade na cidade. Eles confirmam que não foram consultados sobre a construção da ciclovia, evidenciando a total desconexão da prefeitura com os usuários reais do espaço.

Como corredor e ciclista, lamento profundamente a falta de inteligência por trás deste projeto. A ciclovia Riverside é um exemplo claro da negligência e da ineficiência da gestão pública.

É inadmissível que a prefeitura priorize um projeto mal planejado e prejudicial ao meio ambiente em detrimento do bem-estar da população e da preservação da natureza. A proteção do meio ambiente e a qualidade de vida da população não podem ser negociadas. A prefeitura precisa agir com responsabilidade e respeito para garantir um futuro sustentável para nossa cidade.

Existem diversos exemplos de ciclovias bem sucedidas em outras cidades brasileiras, como Fortaleza, João Pessoa e até mesmo no Rio de Janeiro. Bastaria um pouco de pes- quisa e estudo para que a prefeitura encontrasse soluções mais adequadas e sustentáveis para a mobilidade urbana de Piracicaba, sempre respeitando o Código Florestal e o meio ambiente.

Concluo com as palavras de Cecílio Elias Netto, adaptando uma frase de um de seus últimos artigos: “O mundo, o planeta reage à ação deletéria dos gestores em relação ao ambiente? ...Onde estamos? O que há na cabeça, no conhecimento, no espírito dessa gente? Por que pisoteiam nosso Rio Piracicaba? Ou não conhecem ou nunca passaram por lá para correr ou fazer seu exercício! Que pena! Até a próxima!”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

1 COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.

  • Funcionário público que não pode se identificar
    19/05/2024
    Parabéns pelo texto e pelos argumentos que te levaram à crítica sobre a imbecilidade dos governantes na questão da conservação ambiental e dos recursos naturais renováveis, construindo sem nenhum critério, e sobrepondo áreas naturais.