ARTIGO

A greve dos aplicativos na rede estadual de ensino


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Foto: reprodução Freepick

O mestre Paulo Freire, patrono da educação brasileira, dizia que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

Esta frase evidencia que a educação é uma atividade essencialmente humana, um diálogo profundo e amoroso que só pode acontecer na relação entre professores e estudantes, na sala de aula, aprendendo juntos.

É claro que a tecnologia pode e deve ser usada na educação como instrumento auxiliar, para melhorar o processo ensino-aprendizagem, jamais substituir a relação presencial e direta entre professores e estudantes.

Durante a pandemia, quando fomos obrigados a manter distanciamento social e as escolas precisaram ficar fechada. Você deve se recordar de todas as dificuldades daquele período e de quanto os estudantes, sobretudo das escolas públicas, deixaram de aprender, quando todas as atividades escolares eram feitas por meios de computadores e celulares.

Além das dificuldades decorrentes do uso desses novos instrumentos no processo educativo, a situação foi muito agravada pela forma como a Secretaria Estadual da Educação conduziu o processo, sem preparação, sem formação para os professores, sem disponibilizar equipamentos e todas as dificuldades de acesso dos estudantes de baixa renda. Milhares não possuíam celulares, tablets, acesso à internet e não puderam a acompanhar as aulas e demais atividades.

Isto gerou um enorme déficit de aprendizagem. Nem o governo estadual passado, nem o atual, desenvolveram um programa de recuperação efetivo para auxiliar na recuperação da aprendizagem desses estudantes.

Os aplicativos e plataformas digitais estão tornando o ensino uma atividade fria, formatada e distante. E todo mundo está aprendendo menos. São criados por pessoas que não conhecem a realidade dos professores e dos alunos. Entendem de tecnologia, mas não de educação.

Além disso, as plataformas digitais estão sendo utilizadas para controlar e intimidar professores, retirando-lhe a autonomia pedagógica é inerente à sua profissão. Os professores são obrigados a utilizarem slides prontos, muitos deles com erros ou abordagens equivocadas, ideológicas e doutrinárias, como as recentes descobertas de aulas digitais que remetiam a vídeos e matérias dos grupos de extrema-direita Brasil Paralelo e MBL.

O assédio moral se dá presencialmente, nas salas de aula, e também por meios das plataformas digitais da SEDUC. Tudo é registrado, controlado e vigiado, como se o professor fosse um perigo ou mero executor das tarefas que lhes são ordenadas.

Por isso, professores e professoras das escolas estaduais vão fazer do dia 13 até o dia 19 de maio a greve dos aplicativos. Vão ministrar aulas à moda antiga, seguir seus planos de curso, utilizar livros pedagógicos, dialogar com seus estudantes olho no olho, praticando a liberdade de ensinar e aprender que a Constituição Federal e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional determinam e garantem.

Contamos com o apoio de todos, pais, mães, alunos nesta luta por educação pública de qualidade para todos.

Não às escolas-quartel!

Também quero denunciar aqui a tentativa do governo Tarcísio de Freitas de aprovar a toque de caixa a transformação de escolas estaduais em escolas cívico-militares com dinheiro da educação. Ao mesmo tempo, insiste em cortar R$ 10 bilhões da educação e quer fazer parcerias com empresas para construir escolas, privatizando a gestão dos serviços, alegando falta de dinheiro. Quanta contradição!

Por isso, os convido a comparecer à audiência pública que a Assembleia Legislativa promove na terça-feira, 14 de maio, às 9 horas, para debater o PLC 9/2024, que cria o programa estadual de escolas cívico-militares.

A mente dos jovens não pode ser formatada em escolas-quartel com disciplina militar. O futuro da juventude é construído com sonhos, conhecimento e uma sólida formação na educação básica.

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