Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia-volta, volta e meia vamos dar.
Ciranda, cirandinha, é uma reflexão sobre a roda da vida, na imensa dança da existência, onde os momentos se entrelaçam em um círculo eterno ao encontrarmos a ciranda, cirandinha.
Essa melodia simples, transmitida de geração em geração, ressoa como um eco dos primórdios da humanidade, quando há mais de cinco mil anos foi descoberta a roda.
A forma circular da roda, em contraste com a rigidez da forma quadrada, simboliza a fluidez e a constante evolução da vida.
Os pontos estáticos ao redor da circunferência, figura da geometria plana, ganham vida quando postos em movimento, transformando-se na essência da roda. Consta que o compositor da ciranda, cirandinha se inspirou nas ondas do mar para o nascimento da música. O caminho da arte segue a interpretação do artista.
Assim como as ondas do mar inspiraram a dança circular, a canção ciranda, cirandinha surgiu para acompanhar o movimento cósmico. O nosso compositor, Heitor Villalobos, sensível à harmonia da vida, imortalizou esse tema em sua música, incorporando influências africanas, indígenas e nostálgicas na sua composição. Contudo, em meio à dança da roda, surgem algumas divisões. Há aqueles dentro dela e aqueles fora dela.
A forma circular é o resultado da forma quadrada quando suas arestas sofrem a alteração de quatro para oito arestas, de oito para dezesseis e nessa progressão atingindo o seu limite, passa a ser a circunferência. Interessante notar que quanto maior o número de arestas, menores elas ficam, se tornando um ponto da circunferência. Quando chega a esse estágio o polígono torna-se a circunferência e suas arestas passam a ser pontos. O polígono deixou de existir e a circunferência marcaria a fronteira entre o dentro e o fora do espaço inicial.
Quando os pontos de circunferência se movimentam é que surge a ideia da roda que passa a ter vida se tornando a roda da vida. A roda da vida que desenvolve a roda nos transportes, nas rodas de samba, na roda dos cultos, nas rodas poéticas, no tema de “rodar a baiana” simbolizando o ficar irritado, pronto para ir à luta.
Na política, essa dinâmica se reflete na constante troca de ocupantes das cadeiras dos representantes do poder com a dança das cadeiras. É nesse ponto que surge a percepção quando os interesses pessoais e grupais sobrepõem o bem comum e a roda se fecha e o movimento é interrompido. O amor à causa pública se dissipa se perdendo na voracidade dos interesses egoístas.
Portanto, é importante lembrar sempre que não devemos nos afastar da roda da vida. Em meio às suas voltas e revoltas vamos todos cirandar unidos na busca de um mundo onde o amor e a cooperação sejam os verdadeiros condutores da nossa jornada.
Depois de tanto rodar, conclui-se que o anel que tu me deste era vidro e se quebrou o amor que tinhas pela pátria era pouco e se acabou.
Não saia da roda, vamos todos cirandar, olhando para o coletivo.
Walter Naime
Arquiteto-urbanista
Empresário.