Durante nossa jornada existencial frequentemente estamos em busca de algo, movimentando-nos à procura do que preencha nossos anseios ou necessidades e, graças ao incessante fluxo da vida, ao realizarmos o que pretendíamos outras possibilidades se apresentam, lançando-nos a novas experiências.
Passamos parte significativa da existência buscando aquilo que nos pareça favorável em termos pessoais, profissionais, financeiros, sociais, o que é natural e integra o esquema evolutivo em que nos encontramos. Ocorre que mesmo aqueles que alcançam as metas ambicionadas atingem, em certo ponto, um estado de insatisfação, de angústia, que nada nem ninguém é capaz de preencher ou solucionar. Essa crise faz parte da jornada humana e muitos dos que por ela passaram deram o testemunho de como superá-la, a fim de atingir novo patamar existencial, mais pleno e livre.
Acerca das prioridades da vida, parece oportuno lembrarmos que há dois mil anos Jesus fez uma recomendação: “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas as outras coisas vos serão acrescentadas”. Esse simples convite encerra todo um programa de vida e, se levado a sério, pode transformar completamente a existência humana. Reflitamos sobre o significado de se admitir a existência de um reino de natureza espiritual e a possibilidade de encontrá-lo, com a promessa de que, assim procedendo, todas as demais necessidades nos seriam supridas. Seguir tal recomendação exige uma fé e uma disposição que fogem aos nossos padrões habituais de conduta. Ao refletirmos acerca desse simples versículo, podemos nos perguntar até que ponto somos seguidores dos ensinamentos de Jesus, independentemente dos títulos religiosos que porventura ostentemos, pois se cada um dentre nós chamados de cristãos o fosse de fato, teríamos empreendido essa busca e o mundo seria totalmente diferente do que é.
Àqueles que consideram a possibilidade de seguir a recomendação acima, cabe a pergunta: admitindo como verdadeiras tais palavras, onde encontrar esse reino? A resposta vem do próprio Mestre, quando assegura: “O reino de Deus está dentro de vós”. Além de afirmar a existência de uma dimensão sublime da vida, além da condição em que transitoriamente nos encontramos, nos mostra onde devemos procurá-la.
Ao buscarmos esse reino espiritual dentro de nós mesmos, certamente não o encontraremos nos primeiros passos dessa jornada, pois, como nos tem sido ensinado, precisamos ultrapassar todas as camadas que se interpõem entre nosso ego superficial e nosso ser profundo – a essência espiritual que somos. Esse processo se dá no recôndito do ser, onde apenas a própria consciência é testemunha do trabalho realizado. Requer introspecção, silêncio e oração, a fim de se atingirem estados mais elevados de consciência.
A recomendação de Jesus nos parece perfeitamente atual, pois continuamos carecendo de descobrir o sentido mais profundo da própria existência e de encontrar uma luz a guiar nossos passos. Estamos cheios de informação e carentes de sabedoria; saturados de leis humanas enquanto violamos aquelas que nos regem a vida; interessados em futilidades e alheios ao que nos definirá o destino. Estamos distantes de seguir o que Jesus nos recomendou, pois nossas prioridades ainda se restringem a interesses egoicos, enquanto aceitar o desafio-convite do Mestre requer tomada de consciência, decisão e mudança de rumo, tanto quanto coragem e perseverança.